Caso Biden: Rastreio cognitivo sinaliza declínio da memória, concentração e cognição, apontando para possíveis problemas de saúde mental

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O envelhecimento é um fenômeno relativamente recente na história da humanidade: se hoje em dia é comum vivermos além dos 80 anos, essa era uma realidade distante até há pouco tempo: em 1900, por exemplo, vivíamos, em média, 32 anos. E, durante cerca de 200 mil anos, a média de vida das pessoas esteve abaixo de 30 anos. Esse salto, que nos permitiu existir por muito mais tempo, também impõe desafios para a medicina: como lidar com o declínio da nossa agilidade de raciocínio e conexão com as palavras com o avanço da idade?

O tema entrou em pauta em todo o mundo após, ao longo dos embates presidenciais americanos, notar-se um aparente declínio cognitivo de Joe Biden, 81 anos. Surgiram dúvidas se o candidato à reeleição pelos Democratas possuía capacidades físicas e mentais para uma possível continuidade no governo federal dos EUA, em comparação com o ex-presidente Donald Trump, de 78 anos, candidato representante do partido Republicano.

No entanto, neste domingo (21), Biden anunciou, através de uma carta publicada em suas redes sociais, que não irá mais concorrer à reeleição. “Acredito que seja do interesse do meu partido e do país que eu me afaste e me concentre exclusivamente no cumprimento de minhas obrigações como presidente pelo restante do meu mandato”, anunciou o líder democrata, que permanece como presidente dos EUA até 20 de janeiro de 2025, data em que seu sucessor tomará posse.

Mas afinal, quando de fato situações como a enfrentada pelo presidente norte-americano podem ser indício de um declínio cognitivo, demência ou ainda Alzheimer? A ciência ainda busca respostas e soluções mais objetivas em relação à prevenção e cura dessas condições, mas já é consenso entre os especialistas: a atenção aos sinais  para o diagnóstico precoce e as mudanças no estilo de vida são fundamentais para evitar e/ou retardar o avanço da chamada perda de memória, melhorando a qualidade de vida em todas as fases da vida. “Realizar um check up global, que inclua um rastreio para avaliar as funções cognitivas é a melhor forma de antecipar cenários”, diz a endocrinologista, Alessandra Rascovski, diretora médica da ATMA Soma e idealizadora da iniciativa ‘Cérebro em Ação’.

“Em geral, as pessoas buscam esse rastreamento somente quando já percebem algum problema que atrapalhe a sua vida. Pode ser, por exemplo, um esquecimento muito frequente, uma dificuldade de planejamento. E aí, vamos avaliar como está a saúde do cérebro naquele momento”, explica.

E, segundo a especialista, nem sempre essa conclusão é necessariamente o diagnóstico de uma doença. “A gente, naturalmente, vai diminuindo nossas funcionalidades e habilidades conforme envelhece, o que não significa que se tornará um diagnóstico de demência ou de outra enfermidade. E, sabendo em quais circunstâncias estamos, podemos agir para mudar: desde quimicamente, com medicamentos, e também no estilo de vida, modificando hábitos”, comenta.

Cérebro jovem mesmo na velhice

E o que faz com que essas mudanças sejam possíveis é a neuroplasticidade, um fenômeno natural do cérebro, que tem o poder de se modificar a partir de diferentes tarefas e novos desafios, como explica a fonoaudióloga Ana Alvarez. “Não há uma idade determinada para se fazer um rastreio neurocognitivo, porque as habilidades sempre podem ser ampliadas, melhoradas”, comenta.

De uma forma geral, o rastreio cognitivo inclui análise multissensorial, da memória espacial, acuidade auditiva, atenção, velocidade, planejamento, inibição, memória e flexibilidade. “Fazemos isso por meio de um protocolo de procedimentos desenvolvido por nós em que usamos métodos de avaliação tradicionais somados a uma triagem multissensorial, de função auditiva central e realidade aumentada imersiva para chegar a uma conclusão”, explica.

Os 12 fatores que aumentam as chances de desenvolvimento do Alzheimer

Hipertensão. Manter a pressão arterial controlada é fundamental e é considerado um dos mais importantes fatores para prevenir a doença, mas não só ela: diversas complicações cardíacas podem ser evitadas, além de casos de AVC. “O ideal é sempre ter uma pressão arterial de até 13 por 9”, explica a especialista. Quem já tem a doença, que também tem causas genéticas, deve usar medicação diária para controlar os índices.

Estilo de vida. Controlar o peso e manter um estilo de vida saudável, com a prática de exercícios físicos, sono adequado, controle do estresse, não fumar e consumir bebida de forma moderada, são fundamentais. Visto que a obesidade, o tabagismo, o alcoolismo e o sedentarismo também são causas importantes nas chances de desenvolver a doença. “A gente vê que são fatores ligados à saúde como um todo e faz sentido: o cérebro não está alheio à saúde do resto do corpo”, comenta. Alessandra Rascovski.

Isolamento social. Depressão e isolamento social são outras das possíveis causas para aumento nas chances de desenvolver a doença. “A gente sabe que a pandemia fez com que esses índices aumentassem muito por conta das medidas sanitárias. Mas é importante que as pessoas retomem seus contatos sociais, mesmo que aos poucos, e busquem acompanhamento psicológico e ajuda, caso tenha dificuldade. Somos seres sociais e precisamos estar em contato contínuo com outros para vivermos bem”, afirma a médica.

Contexto socioeconômico e poluição. O nível de escolaridade é considerado o principal fator para a doença no Brasil. O estímulo ao cérebro e o aprendizado até principalmente os 12 anos de idade são ferramentas fundamentais para a saúde do órgão. Outro fator de contexto social é a poluição do ar, também apontada como de risco para o Alzheimer. “Países em desenvolvimento, como o Brasil, tem uma população mais vulnerável a esses fatores. A falta de equidade no acesso aos serviços com certeza atrapalha a saúde da população e é um fator que precisa de atenção dos governos”, ressalta.

Diabetes. Doença multifatorial das mais incidentes em todo o mundo, o diabetes também influencia o cérebro, inclusive nas chances de desenvolvimento do Alzheimer. Segundo a especialista, “aqui entra a fórmula de controle de peso, atividade física, alimentação saudável, sono e gerenciamento do estresse. Para quem já foi diagnosticado, o uso correto e controlado da medicação contribui para um melhor manejo da doença”.

Perda auditiva. Nesse caso, além de sempre ir ao otorrinolaringologista para manter a saúde auditiva em dia, vale lembrar que no Brasil, existem mais de 15 milhões de pessoas com algum grau de deficiência auditiva, isso equivale a pouco mais de 7% da população total do país. Pessoas com alguma perda mesmo que leve, sem uso de aparelhos corretivos ou reabilitação, tem risco >42% de desenvolver demência.

Outros fatores. A publicação da Lancet Commission também incluiu traumatismo craniano como fator que influencia para o desenvolvimento de Alzheimer. “O trauma normalmente acontece por conta de acidentes, por isso a proteção com capacetes e atenção nos esportes com vulnerabilidade a lesões na cabeça, é essencial”, pontua a médica Alessandra Rascovski.

 

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