O ato da doação é considerado um gesto nobre. Há quem doe, por exemplo, roupas e alimentos para pessoas necessitadas ou brinquedos para crianças carentes. Mas você já considerou doar seu corpo para a Ciência? Não estamos nos referindo aqui a doações de órgãos, um gesto também reconhecidamente nobre e necessário para o bem de muitas pessoas que aguardam por um transplante. Doar o corpo é diferente. ?? manifestar, em vida, o seu desejo de contribuir para o avanço da ciência, de forma a beneficiar pesquisadores e alunos em seus estudos na área da saúde.
A despeito de todo o avanço nos exames de imagem, impressão 3D de ossos e órgãos, ambientes de realidade virtual e simulação e que são excelentes instrumentos de ensino e pesquisa, não há substituto a altura do contato com espécimes anatômicos reais para o aluno de graduação, pós-graduação, especializandos e residentes da área de saúde que impacte tão fortemente no aprendizado.
Embora a doação de corpos para já ocorra no Brasil, com todos os procedimentos legais e necessários, a prática ainda é pouco expressiva quando comparada à de países como os Estados Unidos, onde quase todos os corpos usados para fins de estudos médicos em faculdades e universidades são provenientes da cultura de doação já estabelecida ao longo de décadas.
Os procedimentos para que a doação de corpo seja oficializada são feitos de modo mais simples do que se imagina. Aqueles que queiram manifestar a sua vontade de Doar o Corpo precisam elaborar um documento, expressando o desejo de doar o seu corpo após a morte. Com essa iniciativa, obtém-se o consentimento do doador para que seu corpo seja doado a uma instituição de ensino específica na área de saúde, indicada pela pessoa para fins de ensino e/ou pesquisa.
A doação pode ser feita por qualquer pessoa dentro das suas condições normais de saúde, que esteja apta a manifestar seu desejo e que tenha mais de 18 anos. ?? necessário também assinar o documento, reconhecer firma e entregar uma cópia ao centro que receberá a doação. Além disso, recomenda-se que os familiares estejam cientes da decisão do doador. Esses familiares precisam ter em mãos uma cópia desse documento. Após o falecimento, o velório pode ser realizado normalmente. O que muda é que ao invés de se dirigir para um cemitério ou crematório, o corpo vai para a instituição de ensino escolhida pelo doador.
Apesar de ser um procedimento bastante simples, muitas vezes pela falta de conhecimento ou até por uma questão cultural, grande parte das universidades da área de saúde do Brasil ainda utiliza cadáveres sem identificação ou não reclamados para a realização de estudos, seguindo, claro, os procedimentos legais para esses casos.
A Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) possui um processo já estabelecido para que as doações de corpos sejam realizadas. Existe uma legislação, que é seguida pela Instituição, e temos um protocolo. Ao recebermos a documentação necessária do doador, o processo é levado para um cartório, onde o juiz dá ciência que o corpo daquele indivíduo está depositado na FCMSCSP e para um determinado fim: de ensino e/ou pesquisa. Assim, tudo fica muito bem documentado e a responsabilidade de uso e guarda passa a ser da Instituição que responde legalmente. Informações: andre.augusto@fcmsantacasasp.edu.br
Dra. Mirna Duarte Barros é chefe do Departamento de Morfologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.