Criação de animais silvestres: entre o fascínio e os riscos

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Nos últimos anos, o interesse por animais silvestres como pets tem crescido significativamente, alimentado por fatores culturais e pela exposição em mídias sociais. Para Juliano Biolchi, professor de Veterinária na UniCesumar de Curitiba, esse fenômeno tem raízes históricas e contemporâneas. “A relação com animais silvestres remonta à época colonial, com os povos indígenas convivendo com a fauna local. Porém, o comércio de fauna nativa ganhou força com os colonizadores, que enviaram animais à Europa, inaugurando o que hoje se conhece como tráfico de animais silvestres”, afirma. Esse comércio, impulsionado por celebridades e influenciadores, tem levado à romantização da posse desses animais, muitas vezes ignorando os impactos ambientais e o sofrimento animal envolvidos. 

De acordo com o professor, as diferenças entre animais silvestres e domésticos vão muito além da questão do comportamento. “Os animais domésticos passaram por um longo processo de domesticação, enquanto os silvestres mantêm instintos naturais muito fortes, como o medo de predadores e a necessidade de grandes espaços para se locomover”, explica.

 animais silvestres

Ele cita o exemplo do papagaio-verdadeiro, uma espécie que, mesmo após várias gerações em cativeiro, não se torna verdadeiramente domesticado, apenas amansado, com instintos preservados. No entanto, o professor destaca que a legislação brasileira permite a criação legal de alguns animais silvestres, mas com critérios rígidos para garantir seu bem-estar e evitar danos ambientais. “A posse ilegal de animais, especialmente sem a documentação adequada, pode levar a sérias consequências legais, incluindo prisão”, alerta. 

Para ele, o interesse por animais silvestres está diretamente ligado a questões culturais, como o fascínio por espécies raras ou exóticas em filmes e redes sociais. Mas ele adverte que, mesmo em um ambiente doméstico, garantir o bem-estar de um animal silvestre é uma tarefa complexa. “O bem-estar não se limita à ausência de doenças, mas envolve também o atendimento às necessidades comportamentais, sociais e ambientais da espécie”, afirma.  

 

Distúrbios como automutilação, agressividade e doenças psicossomáticas são comuns em animais que vivem em condições inadequadas, muitas vezes sem que o responsável perceba. Para quem pensa em adotar um animal silvestre, portanto, Biolchi recomenda pesquisa aprofundada sobre as necessidades da espécie, além de garantir a legalidade da posse e a origem do animal. “Antes de tudo, é fundamental ter certeza de que você tem a estrutura e dedicação necessária para proporcionar uma vida saudável e feliz para o animal”, conclui. 

Danos ao meio ambiente 

Além dos impactos individuais sobre os animais, o comércio ilegal de fauna e a criação doméstica de espécies silvestres trazem sérios danos ao meio ambiente. “Quando retiramos animais da natureza, quebramos o equilíbrio ecológico”, alerta o professor. A captura de indivíduos de uma população impacta diretamente os papéis ecológicos que esses animais desempenham, como dispersores de sementes ou controladores de pragas. “A redução da variabilidade genética das populações também aumenta a vulnerabilidade dessas espécies a doenças, comprometendo a biodiversidade local”, finaliza Biolchi, enfatizando sobre a importância de conscientizar a população sobre os danos ambientais e os riscos envolvidos, especialmente considerando que o tráfico de animais silvestres é uma das atividades ilícitas mais lucrativas do mundo. 

 

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