Não é de hoje que vivemos na era do Fla-Fu no mundo e, por consequência, no Brasil. O mundo da arte não está isento disso. O artigo publicado na revista Veja de 8/3/2019, de Marcelo Marthe, intitulado “Raízes sem força “, sobre a exposição da pintora Djanira no Museu de Arte de São Paulo, é prova disso.
A frase final do texto (“ela era uma artista medíocre”) traz à tona algumas importantes questões sobre as maneiras de se olhar a arte. Esse tipo de juízo de valor tem todo o direito de ser feito, é claro, pois o que garante a democracia é justamente a capacidade de opinar. No entanto, o tom derrisório do artigo gera algumas questões.
A principal está no fato de argumentações como as expostas no texto parecem ser feitas justamente para gerar respostas igualmente apaixonadas e virulentas na direção contrária. E certamente haverá aqueles que defenderão a arte de Djanira no mesmo tom, só que de exaltação.
Arte não é jogo de futebol em que existe um campeão e muitos derrotados. Cada artista tem uma origem, uma história e uma expressão visual. Considerar a somatória dessas instâncias “medíocre” não me parece contribuir positivamente com a arte nacional.
Não precisamos de heróis ou de marginais. Precisamos de debates ponderados e de qualidade. Nesse aspecto, a obra de Djanira, ao contrário do que o título da revista Veja indica traz “frutos com vigor” para o que significa ser um criador no Brasil.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.