Gestação saudável pode ser a chave para frear obesidade infantil, alerta especialista no Dia Nacional de Prevenção da Obesidade

Alimentação equilibrada e acompanhamento médico durante a gravidez ajudam a reduzir riscos metabólicos que podem acompanhar a criança por toda a vida

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No dia 11 de outubro, Dia Nacional de Prevenção da Obesidade, a atenção se volta para um desafio de saúde pública que já afeta milhões de brasileiros. O Brasil enfrenta uma epidemia: mais de 41 milhões de adultos vivem com obesidade, segundo a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).

O que pouca gente sabe é que a prevenção pode começar muito antes da vida adulta, já no útero materno. Evidências científicas apontam que os hábitos alimentares da gestante, associados às mudanças hormonais próprias da gravidez, influenciam diretamente o metabolismo do bebê, o que resulta em maior ou menor risco de obesidade infantil e doenças crônicas no futuro.

De acordo com o endocrinologista do Hospital da Mulher Mariska Ribeiro, Dr. Diego Fonseca, o que a mãe come, como seu corpo processa esses nutrientes e até a qualidade do sono e da atividade física durante a gestação têm impacto direto na programação metabólica do bebê. “É por isso que esse é, sem dúvida, um momento decisivo para prevenir a obesidade infantil e suas consequências na vida adulta”, explica.

Hormônios e metabolismo: quando a gravidez se torna um ponto de virada

Durante a gestação, a placenta produz o hormônio lactogênio placentário (hPL), que aumenta a resistência à insulina e eleva os níveis de glicose no sangue materno. Em resposta, o corpo da gestante produz mais insulina para equilibrar essa função.

Quando esse mecanismo não é suficiente, instala-se o diabetes gestacional, condição que não só traz riscos imediatos à mãe, como também aumenta significativamente as chances de obesidade e síndrome metabólica na criança.

Pesquisas internacionais reforçam essa ligação. Um estudo publicado em 2023 na revista Nutrients revelou que crianças de 2 a 5 anos, filhas de mulheres com diabetes gestacional, apresentaram 24,6% de prevalência de sobrepeso ou obesidade, mesmo após ajustes para outros fatores de risco.

Programação metabólica fetal: herança além do DNA

Esse fenômeno é conhecido como programação metabólica fetal. “O ambiente intrauterino adverso pode levar a alterações epigenéticas, que modificam a expressão dos genes do bebê sem alterar sua sequência. Isso pode aumentar a predisposição para obesidade, resistência à insulina e até hipertensão na vida adulta”, explica o Dr. Fonseca.

A nutrição materna é um dos fatores mais críticos nesse processo. Dietas baseadas em ultraprocessados, frituras e bebidas açucaradas elevam o risco de sobrepeso infantil, como apontam estudos conduzidos nos Estados Unidos e na Europa. Em contrapartida, um cardápio equilibrado, rico em vitaminas e minerais, tem efeito protetor.

Mito do “comer por dois” e orientações práticas

Apesar de persistir o mito de que a gestante deve “comer por dois”, a recomendação correta é “comer para dois”: investir em qualidade nutricional, e não em quantidade.

O aumento calórico indicado gira em torno de 15% a 20%, muito abaixo do que muitas mulheres imaginam. O excesso, aliado a alimentos de baixo valor nutricional, favorece ganho de peso excessivo da mãe e maiores riscos para o bebê.

Além da alimentação, o sono adequado e a prática de atividade física desempenham papel essencial na regulação da insulina, ajudando a controlar o ganho de peso.

Gestação saudável pode ser a chave para frear obesidade infantil

A realidade no Hospital Mariska Ribeiro

O Mariska Ribeiro, localizado na zona oeste do Rio de Janeiro, atende um grande número de gestantes com sobrepeso e obesidade, oferecendo suporte diferenciado. A unidade conta com ambulatórios de endocrinologia e nutrição, que acompanham de forma individualizada as pacientes, um modelo que também passou a ser desenvolvido pelo Hospital Maternidade Paulino Werneck, atendendo às gestantes na região da Ilha do Governador.

“Esse trabalho é fundamental porque muitas dessas mulheres já chegam ao pré-natal com risco aumentado, e precisam de orientações específicas para evitar complicações”, reforça o endocrinologista, que atua nas duas unidades.

Impacto para o futuro

Para Fonseca, pensar em obesidade apenas na infância ou na fase adulta é um erro estratégico de saúde pública.

“A prevenção começa na gestação. Uma mãe bem orientada, que cuida da sua alimentação e adota hábitos saudáveis, está investindo diretamente na saúde futura de seu filho e ajudando a quebrar ciclos de obesidade que atravessam gerações”, afirma.

Sobre o Hospital da Mulher Mariska Ribeiro   

O Hospital da Mulher Mariska Ribeiro, localizado na zona Oeste do Rio de Janeiro, é um complexo materno infantil gerenciado pelo CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.

Sobre o CEJAM    

O CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” é uma entidade filantrópica e sem fins lucrativos. Fundada em 1991, a Instituição atua em parceria com o poder público no gerenciamento de serviços e programas de saúde em São Paulo, Rio de Janeiro, Mogi das Cruzes, Campinas, Carapicuíba, Barueri, Franco da Rocha, Guarulhos, Santos, São Roque, Ribeirão Preto, Lins, Assis, Ferraz de Vasconcelos, Pariquera-Açu, Itapevi, Peruíbe e São José dos Campos.

A organização faz parte do Instituto Brasileiro das Organizações Sociais de Saúde (IBROSS), e tem a missão de ser instrumento transformador da vida das pessoas por meio de ações de promoção, prevenção e assistência à saúde.

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