Ícones da biodiversidade e importantes indicadoras do estado de conservação dos ambientes nos quais ainda sobrevivem, as onças-pintadas ganharam um instrumento a mais para a sua proteção, sob forma de publicação que alia pesquisa científica à tomada de consciência ambiental.

A partir da análises das imagens capturadas por câmeras acionadas pelo movimento instaladas nas áreas de Mata Atlântica e da digitalização das rosetas (as manchas, únicas de cada indivíduo e sua identidade), foi lançado, na quarta-feira (29), Dia Internacional da Onça-Pintada, o livro “Onças Pintadas do Estado de São Paulo: Guia de Identificação”.

O guia é resultado de uma parceria entre a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil), a Fundação Florestal (MonitoraBioSP), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

“Esse estudo é uma enorme contribuição para o reconhecimento e apreciação da riqueza da biodiversidade, fornecendo informações vitais para a elaboração de políticas de conservação e o planejamento das Unidades de Conservação”, avalia a secretária da pasta, Natália Resende.

O trabalho é inédito em todos os países que ainda têm populações do maior felino das Américas e identificou 51 indivíduos em três JCU (Jaguar Conservation Unit), sendo duas na Serra do Mar e uma no Alto Paraná-Paranapanema. No guia, cada um dos animais têm fotos, texto explicativo em Português e Inglês e QR Code para visualização de todos os registros.

Identificar e catalogar estes animais é de extrema importância para o monitoramento dos ecossistemas das Unidades de Conservação (UCs) do Estado, pois as onças indicam equilíbrio ambiental no perímetro onde estão presentes, explica a organizadora da publicação, Beatriz Beisiegel. “Onde há onça, há vida. Elas ocupam o topo da cadeia alimentar, portanto, se estão em um ambiente é sinal de que há todo um conjunto de espécies abaixo”, afirma.

A pesquisadora reforça, também, que São Paulo exerce um papel fundamental na conservação da espécie – classificada como criticamente em risco de extinção – por abrigar três das sete JCU de toda a Mata Atlântica, além de cinco áreas com presença provável, porém não confirmada, e outros pequenos fragmentos com populações inviáveis a longo prazo.

A ideia da publicação nasceu de dois projetos de monitoramento – “As Onças-Pintadas do Contínuo de Paranapiacaba: Identificação Individual, Estimativa Populacional e Apropriação pela Sociedade”, iniciado em 2006, e o Programa de Monitoramento da Biodiversidade da Fundação Florestal, desde 2021 – e deve ter continuações.

“Este guia também deve superar o desafio do tempo e ser relançado, periodicamente, em novas edições, enriquecidas e atualizadas com informações confiáveis que sejam referência para outros profissionais e pesquisadores”, completou o diretor-executivo da Fundação Florestal, Rodrigo Levkovicz.

Além dos avistamentos serem raros e do declínio da população – a FF estima que o dado caiu de 0,63 para 0,27 indivíduos a cada 100 km² entre 1998 e 2022 – houve outro desafio para a conclusão do guia: a semelhança entre as rosetas dos animais.

Para diferenciá-los, foi necessário instalar as câmeras dos dois lados das trilhas, para fotografar os dois perfis, e fazer o mapeamento também das caudas. Além disso, os pesquisadores fizeram associações a partir da observação dos conjuntos de rosetas, que podem formar figuras como setas ou até mesmo remeter a outros animais, como borboletas e cachorros.

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