Pessoas idosas com 65 anos ou mais já passam mais de três horas por dia na internet e, quando se somam TV e dispositivos digitais, acumulam mais horas de tela do que jovens adultos, segundo a Ofcom, reguladora oficial de indústrias de comunicações do Reino Unido. Essa tendência ajuda a entender a rotina de aposentados conectados a celulares, computadores e tablets, e abre um debate sobre bem-estar digital na melhor idade. Para se ter uma ideia da fatia populacional 60+ no Brasil, segundo o último Censo Demográfico divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 15,6% dos brasileiros têm mais de 60 anos. O Instituto estima que, em 2070, esse percentual subirá para 37,8%, ou seja, mais de 1 em cada 3 brasileiros será idoso.

Para Maria Cristina Cunha, coordenadora de Gerontologia da EAD UniCesumar, o crescimento é resultado de uma combinação de fatores: inclusão digital acelerada, especialmente após a pandemia, busca de pertencimento e companhia no dia a dia e a conveniência de resolver a vida por aplicativos. “O uso da tecnologia deixou de ser periférico e entrou na rotina de muitos idosos, como conversar com a família no WhatsApp, ver vídeos, acompanhar notícias, fazer consultas e pagamentos, tudo no mesmo aparelho”, aponta a especialista.

A professora explica que há um ciclo entre solidão e telas: para alguns, a internet diminui o isolamento, para outros, pode substituir esse isolamento por interações mais superficiais, reduzindo saídas e encontros. “Um ponto de atenção é quando aparecem sinais de prejuízo funcional, como a piora do sono, refeições apressadas, irritabilidade ao tentar reduzir o tempo online e o abandono de compromissos presenciais. Nesses casos, vale rotinas com horários, pausas ativas e conversas francas sobre segurança e golpes, além de acompanhamento profissional quando necessário”, recomenda.

O alerta já tem evidências em estudos internacionais. Na Coreia do Sul, a pesquisa Smartphone Overdependence Survey 2022 estimou que 15% das pessoas de 60 a 69 anos estavam em risco de dependência do celular. A pesquisa reforça que o problema não é exclusivo de adolescentes e pede atenção para o vício em telas no público idoso.

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O que os idosos consomem na internet?

Do lado dos hábitos de mídia, há mudanças importantes antes mesmo dos 65 anos. Segundo a empresa GWI, que realiza pesquisa de consumidores e tem sede em Londres e Nova York, entre pessoas de 50 a 60 anos, a TV e o rádio permaneceram estáveis na última década, enquanto redes sociais, games e streaming de áudio cresceram.

Para Gabriel Calvi, professor de Mídias Digitais da EAD UniCesumar, os formatos que melhor conversam com 55+ e 65+ combinam utilidade prática (tutoriais, serviços), nostalgia, convivência familiar, além de saúde e finanças. Ele destaca o papel de plataformas como WhatsApp, Facebook, YouTube e Instagram, usadas para informar, entreter e manter vínculos, ao mesmo tempo em que cresce a presença de criadores 60+, o que ajuda na identificação e na confiança.

Para Calvi, o caminho não é problematizar o uso de telas para as pessoas idosas, mas usá-las com intenção e responsabilidade. “No cenário atual, é muito importante que regras simples sejam estabelecidas para o uso saudável da tecnologia, como horários combinados, pausas, encontros presenciais na agenda e trilhas de verificação de segurança”, conclui.

Dicas

Calvi ainda elenca dicas para melhor usabilidade em smarthphones, e alertas essenciais para a segurança digital de idosos. “O ideal é usarem dispositivos com fontes legíveis, contraste adequado, legendas, áudio claro e percursos simples de cadastro e compra reduzem fricção. Do ponto de vista de segurança, a recomendação é ter rotinas de letramento digital: conferir links e remetentes, desconfiar de pedidos de dinheiro e ofertas urgentes”, finaliza.