da DWBrasil- Há uma boa chance que você tenha intolerância à lactose – e você não está sozinho. Apenas um terço dos humanos consegue atualmente digerir esse açúcar presente no leite, e há 5 mil anos esse percentual era ainda menor.

Uma pesquisa publicada na quarta-feira (27/07) na revista Nature, realizada por pesquisadores da University of Bristol e da University College London, descobriu que a capacidade de algumas pessoas de digerir a lactose tornou-se mais comum cerca de 5 mil anos depois dos primeiros sinais de consumo de leite humano, que datam aproximadamente do ano 6.000 a.C.

Usando novos métodos de modelagem computadorizada, eles também descobriram que o consumo de leite não foi o motivo para o aumento da tolerância à lactose entre os humanos.

“O leite não ajudou em nada”, afirmou Mark Thomas, um dos autores do estudo e pesquisador da University College London, à DW. “Estou empolgado com o método de modelagem estatística que desenvolvemos. Até onde sei, ninguém fez isso antes.”

O que é intolerância à lactose?

Todos os bebês podem digerir a lactose normalmente. Mas, para a maioria deles, essa capacidade começa a diminuir depois que param de consumir leite materno.

Cerca de dois terços das pessoas são lactase não persistentes, o que significa que elas perdem ao longo da vida a capacidade de digerir a lactose, o principal açúcar do leite.

 

As pessoas que são lactase não persistentes não produzem a enzima lactase, que decompõe a lactose. Quando essa enzima está ausente, a lactose chega até o cólon, no intestino, onde bactérias alimentam-se dela.

Isso pode causar efeitos colaterais desagradáveis, como cólica, flatulência ou diarreia, alguns dos sintomas da intolerância à lactose.

Análise de DNA e histórico médico

Os resultados da pesquisa são contrários a uma crença generalizada de que o consumo de leite por nossos ancestrais pré-históricos levou à evolução de uma variação genética que lhes permitiu digerir a lactose na idade adulta.

Essa suposição pode ser parcialmente atribuída à comercialização dos supostos benefícios à saúde da tolerância à lactose. Por anos, a indústria do leite, médicos e nutricionistas apresentaram o leite e os laticínios como importantes suplementos de vitamina D e cálcio.

Os pesquisadores descartaram essa ideia depois de analisar um enorme conjunto de DNAs e de informações médicas de pessoas no Reino Unido. Eles descobriram que ser ou não tolerante à lactose tinha pouco efeito sobre a saúde das pessoas, seus níveis de cálcio ou se elas bebiam leite ou não, disse Thomas.

Por que a persistência da lactase evoluiu?

Estudos genéticos mostram que a persistência da lactase é “a característica genética única mais fortemente selecionada que evoluiu nos últimos 10 mil anos”, disse Thomas.

Por volta do ano 1.000 a.C., 5 mil anos após começarmos a consumir leite de animais, o número de humanos com capacidade de digerir a lactose, que está codificada em um gene, começou a aumentar rapidamente.

Depois de descobrir que o consumo de leite não estava por trás desse crescimento acelerado, os pesquisadores testaram duas hipóteses alternativas.