Tenho uma edição do dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, editado em 1975. Fui procurar a definição da palavra “feminicídio”, e, para minha surpresa, nessa edição simplesmente não tem a palavra. Contudo, o problema é antigo e anterior a qualquer dicionário. A palavra pode ser definida como “homicídio cometido contra mulheres, motivado por violência doméstica ou discriminação de gênero”.

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Palavra nova, problema antigo.

Os textos antigos relatam uma situação de uma mulher que foi levada à presença de Jesus por religiosos. No registro há a informação que ela foi surpreendida em adultério e a legislação sentenciava com apedrejamento. O interessante é que o elemento masculino do flagrante adultério desaparece, ou é acobertado, revelando a violência somente com o gênero feminino, acobertando o masculino. Os leitores, certamente, já sabem como Jesus livrou aquela mulher do feminicídio. “Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra”.

Feminicídio

Feminicídio e Jesus

A palavra do Cristo lança mão de uma lei inteira, lei da consciência, que nos obriga a olhar para dentro de nós mesmos. Os acusadores da mulher vão saindo um por um, ficando só Jesus e a mulher. Ele, ternamente, a livrou do feminicídio, lançando mão de uma outra lei, a lei do amor. “Ninguém te condenou? Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais”. A lei do amor dá sempre uma nova oportunidade.

Os números sobre o feminicídio no Brasil revelam uma situação preocupante. Em 2024 foram 1459 casos de feminicídio no país. São 4 mulheres assassinadas por dia. Ainda reverbera em nosso dia a dia a triste notícia da mulher que foi arrastada nas ruas de São Paulo pelo carro de seu ex-companheiro. Socorrida, teve suas pernas amputadas. Triste realidade. Ainda em 2024, foram registrados 83.114 estupros no país. E convivemos, em 2024, com o altíssimo número de 966.785 novos casos de violência doméstica. É preciso dar um basta nessa situação.

Os números revelam a necessidade urgente de políticas públicas relevantes na proteção às mulheres, combatendo uma epidemia de violência. Ações concretas e contínuas para garantir a segurança e o direito do gênero feminino. Não podemos e não devemos “tapar o sol com uma peneira”. Já não aguentamos mais conviver com tanta violência, principalmente a violência de gênero. É preciso enfrentar a situação, entender a gravidade do assunto e ir em busca de iniciativas para o enfrentamento à violência de gênero.

É isso!
Rev. Ailton Gonçalves Dias Filho, Pastor Presbiteriano e Professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie

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