Luz azul: o vilão silencioso para os olhos em tempos digitais
Por Henock Altoé, médico oftalmologista
Leia + sobre saúde
No mundo hiperconectado em que vivemos, a saúde dos olhos tem enfrentado um ‘inimigo’ discreto, mas poderoso: a luz azul. Presente nas telas de celulares, computadores, TVs e também em lâmpadas LED e fluorescentes, essa radiação de alta energia e curto comprimento de onda tem se tornado uma fonte de preocupação crescente na oftalmologia moderna.
Os efeitos iniciais costumam ser sutis. Pacientes relatam cansaço visual, visão embaçada, dor de cabeça e olhos secos — sintomas clássicos da fadiga ocular digital, provocada por longas jornadas diante das telas. Em muitos casos, o desconforto se agrava com o passar do dia, especialmente em ambientes de baixa iluminação ou sem pausas visuais adequadas.
Mas o perigo vai além da irritação ocular. A luz azul atinge a retina em profundidade e pode acelerar processos degenerativos, como a degradação macular relacionada à idade (DMRI) — uma condição progressiva que afeta a visão central e pode se tornar irreversível. O impacto é reforçado pelo estresse oxidativo, que danifica células oculares e compromete a longevidade da retina.
Além disso, a luz azul interfere diretamente no ritmo circadiano, bloqueando a produção de melatonina, hormônio essencial para regular o sono. O resultado são noites mal dormidas, irritabilidade, cansaço crônico e menor desempenho cognitivo. O hábito de usar telas até tarde virou rotina — e isso está cobrando um preço silencioso à saúde mental e ocular.
Diante desses riscos, há necessidade de um novo olhar sobre os hábitos digitais. Mais do que tratar sintomas, nosso papel é educar e prevenir. Precisamos enxergar o excesso de luz azul como um fator transformador na saúde ocular.
A prevenção é possível e passa por atitudes simples: uso de óculos com filtro de luz azul, ativação do modo noturno nos dispositivos, aplicação da técnica 20-20-20 (pausas visuais regulares), preferência por ambientes com iluminação quente e restrição do uso de telas antes de dormir. Essas práticas não apenas protegem a visão, como também contribuem para o equilíbrio mental e físico.
Num tempo em que os olhos jamais descansam, entender e combater os efeitos da luz azul é essencial para garantir que o mundo digital não ofusque nossa saúde visual.
Embora a luz azul natural desempenhe um papel fundamental na regulação do ritmo biológico, no bem-estar emocional e na performance cognitiva durante o dia, o excesso de luz azul artificial representa uma ameaça silenciosa à saúde ocular — especialmente quando associado ao uso prolongado de telas e à falta de cuidados visuais adequados.
Portanto, compreender essa dualidade é essencial: a luz azul não é inimiga por natureza, mas seu uso excessivo e em horários inadequados exige atenção. A adoção de práticas preventivas e a limitação da exposição artificial são medidas eficazes e amplamente recomendadas para preservar a saúde dos olhos e promover equilíbrio no cotidiano digital.

Dr Henock Altoé
Henock Altoé, médico oftalmologista.Formado em Medicina pela Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória e especializado em Oftalmologia pela Santa Casa de São Paulo, o especialista ainda acumula três fellowships nas áreas de Cirurgia de Catarata, Cirurgia Refrativa e Lentes de Contato.
+ NOTÍCIAS NO GRUPO NM DO WHATSAPP