Entre as drogas que são proibidas ou de uso restrito na maior parte dos países, a maconha é, sem dúvidas, a mais popular. Só no Brasil, estima-se que mais de 1,5 milhão de pessoas usem a cannabis de maneira recreativa em forma de cigarro. Segundo o World Drug Report, levantamento feito pela organização Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNOCD, na sigla em inglês), no mundo, o número de usuários de maconha pode chegar a quase 200 milhões. No entanto, a planta vem ganhando cada vez mais notoriedade devido aos seus princípios medicinais e o canabidiol (ou CBD) é o composto que gera mais interesse nos cientistas, já que não é psicoativo e nem causa dependência.

Segundo a médica Maria Teresa Jacob, membro da Society of Cannabis Clinicians (SCC), estudos clínicos mostram o potencial terapêutico do CBD no tratamento da toxicodependência de diferentes drogas, inclusive da própria maconha. “Isso ocorre porque o vício está ligado aos efeitos psicoativos, o que não acontece quando falamos em cannabis para uso medicinal. Os medicamentos seguem padrões farmacêuticos e, quando há presença de THC, a quantidade é muito menor que a encontrada na maconha recreativa quando entra em combustão e, portanto, não causam alucinações”, afirma. Sendo assim, apesar de ainda estar em fase de estudos, a cannabis pode ser uma alternativa para os dependentes.

Um estudo publicado no periódico Neuropsychopharmacology apontou que os efeitos ansiolíticos do CBD são capazes de atenuar a ansiedade causada pelo uso crônico, que é um fator de risco para as recaídas. A médica explica que “O CBD age em diferentes circuitos cerebrais, que são responsáveis pelas sensações de recompensa e de prazer, eliminando assim a necessidade de uso da droga. Os fitocanabinóides modulam a liberação dos neurotransmissores, fazendo o papel dos endocanabinoides no organismo, e equilibram o que está em desequilíbrio”.

O canabidiol já é usado em diversos países no tratamento de doenças psiquiátricas e neurodegenerativas, como epilepsia, esclerose múltipla, mal de Parkinson, esquizofrenia e ansiedade, por exemplo. No caso da adição, segundo a Dra. Maria Teresa, ainda são necessários mais estudos para que a eficácia seja avaliada de forma mais consistente. “Mas, devido ao mecanismo de ação e às múltiplas ações farmacológicas já comprovadas, o CBD pode vir a se tornar sim uma importante ferramenta no tratamento dessa patologia”, finaliza.

Sobre a Dra. Maria Teresa Jacob

Atua no tratamento de Dor Crônica desde 1992 e há alguns anos em Medicina Canabinóide para diversas patologias em sua clínica localizada em Campinas. Dra. Maria Teresa Jacob é formada pela Faculdade de Medicina de Jundiaí, turma de 1982, com residência médica em Anestesiologia no Instituto Penido Burnier e Centro Médico de Campinas. Pós-graduada em Endocanabinologia, Cannabis e Cannabinoides pela Universidade de Rosário, Argentina. Possui Título de Especialista em Anestesiologia, Acupuntura e Dor. Além de especialização em Dor, na Clinique de la Toussaint em Strassbourgo, na França, em 1992; especialização em Cannabis Medicinal e Saúde, na Universidade do Colorado e Cannabis Medicinal, no Uruguai. Membro da Sociedade Internacional para Estudo da Dor (IASP), da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED), da Sociedade Internacional de Dor Musculoesquelética (IMS), da Sociedade Européia de Dor (EFIC), da Society of Cannabis Clinicians (SCC) e da International Association for Canabinoid Medicines (IACM).