Uso de recursos próprios, altas taxas de juros e crise econômica são principais motivos para os empresários do varejo e serviços não contratarem crédito. 66% dos MPEs também não pensam em realizar investimentos em seus negócios

De acordo com o Indicador de Demanda por Crédito do Micro e Pequeno Empresário de Varejo e Serviços, calculado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), 85% desses empresários não pretendem tomar crédito nos próximos três meses, enquanto 7% não sabem e apenas 6% têm interesse. O indicador registrou 13,2 pontos em março, com um recuo de 3,0 pontos na comparação com o mês anterior (16,2 pontos). O número varia de zero a 100, sendo que quanto mais próximo a 100, maior é demanda do empresário por crédito.
A maioria dos que não pretendem contratar diz que consegue se manter com recursos próprios (39%). Em seguida, aparecem os MPEs que justificam a decisão devido às altas taxas de juros (28%) e também em virtude da insegurança com as condições econômicas do país (18%).
Desde o início da série, o indicador de demanda por crédito se mantém baixo. “A crise econômica constitui um fator a mais no baixo apetite tanto pelo crédito como por investimento, pois tomar dívidas de longo prazo ou promover a melhoria dos negócios requer que as expectativas sobre o futuro sejam boas”, afirma Honório Pinheiro, presidente da CNDL. “Políticas que instruam o micro e pequeno empresário a respeito da importância do crédito e que ampliem as modalidades ao seu alcance podem resultar em maior demanda por recursos”.
Entre os empresários que consideram contratar crédito algo difícil (37%), os principais motivos são o excesso de burocracia e exigências dos bancos (48%) e as altas taxas de juros (39%). Já entre os que consideram a contratação algo fácil (18%), as justificativas mais citadas são o bom relacionamento com o banco (33%), estar com as contas em dia (24%), estar com a documentação regularizada (13%) e tempo de existência da empresa (10%).  66% dos MPEs também não pensam em investir nos próximos 90 dias
Em março de 2017, também o Indicador de Propensão a Investir do Micro e Pequeno Empresário de Varejo e Serviços ficou abaixo do mês anterior: 28,4 pontos antes 34,3 pontos em fevereiro, quando alcançou o maior valor da série histórica. Este mês o indicador registrou a mesma pontuação que em março do ano passado, também 28,4 pontos, apontando que a propensão dos MPEs a investir ainda é baixa: o indicador varia de zero a 100, sendo que quanto mais próximo a 100, maior é demanda do empresário ao investimento.
Dentre os empresários que não pretendem investir (66%), a maioria justifica dizendo que não vê necessidade (43%). Em seguida aparece a crise econômica (30%) e também a falta de recursos e/ou crédito (12%). Já entre os MPEs que pretendem realizar investimentos nos próximos três meses (22%), a maior parte tem a intenção de aumentar as vendas (49%), além da adaptação da empresa a uma nova tecnologia (16%) e da necessidade de atender a uma demanda que aumentou (16%).
“O investimento é uma variável crucial para o crescimento de uma economia. No entanto, a crise que se arrasta por mais de dois anos leva muitas empresas a operarem com capacidade ociosa e, em alguns casos, até a redução do quadro de funcionários”, explica Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil. “Nesse ambiente de crise, os projetos de expansão e melhoria do negócio são colocados em segundo plano e a preocupação de grande parte dos empresários passa a ser, então, lidar com a queda do faturamento e o aumento da inadimplência”.
O indicador também mostra que, entre aqueles empresários que planejam investir, a maior parte irá recorrer ao capital próprio guardado na forma de aplicações ou investimentos (60%) ou resultante da venda de algum bem (18%), principalmente pelos altos juros bancários. Ainda assim, 21% mencionam o empréstimo em bancos e financeiras.
Com relação aos destinos dos investimentos, os mais citados foram ampliação dos estoques (38%), reforma da empresa (28%), compra de máquinas e equipamentos (24%), ampliação de portfólio (22%) e mídia e propaganda (14%).