A tão discutida reparação aos danos causados ao povo negro em mais de 300 anos de exploração surgiu com mais de um século de atraso no Brasil.
 A reparação é apenas um pequeno passo na tentativa de o Brasil se recuperar frente ao papel vergonhoso que teve no trato com nossos irmãos que vieram da África para morrer na produção das Grandes fazendas de cana de açúcar e de café.

Enquanto para os americanos, onde a maior força política e econômica era a dos fazendeiros produtores de algodão, a ???fazenda de criação de negros??? era importante, no Brasil, onde os poderosos eram os traficantes, o fundamental era o trânsito de negros, ou seja, se muitos morriam depois de terem sido ???entregues???, era melhor, porque o determinante neste mercado era o movimento da mercadoria.
A questão das cotas para negros nas universidades, tão fortemente combatida, especialmente pela classe média, nos mostra o quanto o preconceito racial é arraigado na cultura brasileira e o quanto ???somos bonzinhos??? apenas junto àqueles assuntos que não interferem no nosso cotidiano, como no caso das sempre distantes reservas para os povos indígenas. 
Para os defensores da não existência das cotas, nos cabe apenas trazer alguns dados para jogar luz sobre esta questão. A cada 4 pessoas mortas pela polícia, 3 são negras;  nas universidades brasileiras, apenas 2% dos alunos são negros e a cada 4 horas um jovem negro morre violentamente em São Paulo. Para os negros a situação econômica é ainda pior. Na última década, a situação econômica dos negros, comparada à dos brancos, manteve-se praticamente a mesma. Pesquisa da OIT (Organização Internacional do Trabalho) divulgada no mês passado mostra que um negro recebe, em média, 50% do salário de um branco no Brasil. Em 1992, a taxa equivalia a 51%.
A luta do povo negro trouxe importantes mudanças e dentre elas destacam-se o reconhecimento do líder político Zumbi dos Palmares e a transformação da data de sua morte, 20 de novembro, em Dia da Consciência Negra. Outra vitória do povo negro foi a indicação, pela primeira na história do Brasil, de um negro, o sr. Joaquim Benedito Barbosa Gomes, para ocupar um cargo de ministro do STF (Supremo Tribunal Federal). 
Uma outra questão a se discutir neste espaço é a de como nós brasileiros achamos bonito/lindo/igualitário/humanitário todos os homens maus repararem e discutirem a reparação para os povos oprimidos durante a 2a Guerra Mundial, na Palestina, no Iraque e em todos os cantos do mundo, mas consideramos uma afronta a (mísera) medida da existência de cotas nas universidades.
Os judeus oprimidos durante a 2a Guerra Mundial e o período de ascensão do Nacional Socialismo na Alemanha, do fascismo na Itália e de Franco na Espanha foram ???pagos??? com um Estado, com recursos financeiros e até hoje, mais de 50 anos depois, os alemães ainda pagam por terem cometido as atrocidades contra o povo hebreu. Judeus brasileiros, russos, americanos, alemães, ingleses e de toda origem foram beneficiados com a derrota do projeto nazista. O fato a se relevar é que considera-se que as ações contra os judeus estão sendo pagas, mas ao mesmo tempo a maioria desses defensores dos direitos humanos se levantam contra os fatos de os negros exigirem uma compensação ínfima como as cotas universitárias.
Fosse realmente o caso de este país assumir as atrocidades cometidas contra o povo negro, a paga deveria ser imensamente superior à que é feita universalmente para o povo judeu.