Ao longo de dois anos, entre 2019 e 2021, o padre, pesquisador e sociólogo
José Carlos Pereira entrevistou 1.858 colegas de clero para investigar o perfil, a rotina e as queixas daqueles que servem a Igreja Católica em diferentes lugares do Brasil. Os resultados surpreendentes dessa pesquisa inédita estão agora compilados no livro Operários da Fé, lançamento da Matrix Editora.
Ao serem questionados sobre como avaliavam o Governo Federal, na época sob o comando de Bolsonaro, os padres brasileiros não se revelaram isentos. A maioria – 60,1% – respondeu que não estava satisfeita.
Já uma parcela de 31,3% disse estar parcialmente satisfeita, e outra parcela, menor, de 7%, respondeu estar plenamente satisfeita. E 1,6% se declarou indiferente.
Os dados são relevantes porque o padre, por ser representante da Igreja, é uma figura pública em quem a população ainda confia e o seu posicionamento influencia votos.
A obra apresenta informações essenciais para entender o papel do padre, tido como líder e figura de influência nas comunidades onde atua. Além de revelar as opiniões dos sacerdotes sobre temas polêmicos como celibato e sexualidade, o estudo mostra como o dia a dia exaustivo de atendimentos e a solidão constante desencadeiam e agravam quadros de inquietação emocional.
A partir dos dados coletados, José Carlos Pereira chama atenção para o índice elevado de suicídios entre os padres, assunto que costuma ser tratado com muita discrição ou simplesmente ignorado pela igreja. Ainda segundo o autor, o transtorno bipolar, a depressão, o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), os distúrbios alimentares, os transtornos de ansiedade, a esquizofrenia, a somatização e a psicopatia estão entre os problemas psiquiátricos mais comuns enfrentados por quem veste a batina.
A questão da sexualidade também é abordada no livro. Apesar de 94,4% dos entrevistados afirmarem que não tinham dúvidas sobre a própria identidade afetivo-sexual, Pereira avalia que o número pode não refletir a realidade. “Desconfio que mais de 50% do clero seja tendencialmente homossexual, mas trata-se de mera suposição, e não há pesquisa confirmando essa conjectura. Ela está baseada em minha convivência de mais de trinta anos com padres e candidatos ao sacerdócio”, explica. Ele lembra também que entre os que responderam não duvidar de sua identidade afetivo-sexual, pode haver tanto homo quanto heterossexuais.
Ao serem perguntados sobre o grau de satisfação, 86,4%, ou seja, a maioria dos padres se revela conformada com o celibato. O autor destaca, contudo, que ser celibatário não significa ser casto e que as duas definições costumam causar confusão. Enquanto o celibato está relacionado à condição de se manter solteiro, não casar e nem constituir família, a castidade seria a renúncia completa aos prazeres sexuais. Portanto, nem todos que adotam o celibato fazem votos de castidade, caso dos padres seculares, maioria (78%) entre os que responderam à pesquisa.
Para além dos assuntos da carne, o levantamento do sociólogo José Carlos Pereira avalia o envolvimento dos membros do clero com a política no país: 97,1% dos entrevistados disseram que não são filiados a partidos políticos, contra apenas 2,9% que disseram que sim. A maioria não tem interesse em se candidatar a algum cargo eletivo (95,5%), não concorda que padres se candidatem (72,7%) e não apoiam abertamente nenhum candidato durante eleições (80,2%).
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Operários da Fé tem sua relevância pautada no predomínio do catolicismo como principal corrente religiosa no Brasil, mesmo com o avanço do evangelicalismo. Politicamente, a Igreja Católica é uma instituição influente, com profundo enraizamento nos costumes e na cultura da sociedade. Conhecer o padre brasileiro, portanto, é conhecer a Igreja no Brasil e, em boa medida, o próprio país.
Ficha técnica
Título: Operários da Fé – O padre na sociedade brasileira
Autor: José Carlos Pereira
Editora: Matrix Editora
ISBN: 978-6556163109
Formato: 16 x 2 x 23 cm
Páginas: 240
Preço: R$ 58,00
Onde encontrar: Matrix Editora e Amazon
Sobre o autor
José Carlos Pereira é padre, professor, tem pós-doutorado em Antropologia Social, doutorado em Sociologia, Mestrado em Ciências da Religião, Bacharelado em Teologia e Licenciatura Plena em Filosofia. É autor de 95 livros, em diversas áreas, publicados no Brasil e no exterior, além de algumas traduções, dentre elas, várias obras do Antropólogo Franz Boas. Faz parte do Núcleo de Estudos Religião e Sociedade, do Programa de pós-graduação em Ciências Sociais da PUC-SP e presta assessoria a instituições religiosas.
Sobre a Matrix Editora
Apostar em novos talentos, formatos e leitores. Essa é a marca da Matrix Editora, desde a sua fundação em 1999. A Matrix é hoje uma das mais respeitadas editoras do país com mais de 900 títulos publicados e oito novos lançamentos todos os meses. A editora se especializou em livros de não-ficção, como biografias e livros-reportagem, além de obras de negócios, motivacionais e livros infantis. Os títulos editados pela Matrix são distribuídos para livrarias de todo o Brasil e também são comercializados no site www.matrixeditora.com.br.