O Brasil é um país com dimensões continentais, oscilando entre regiões extremamente populosas, até locais remotos e de difícil acesso, característica que afeta diretamente diversos fatores, entre eles o acesso à serviços de saúde.
Nessas regiões mais distantes, ainda é comum a atuação de parteiras para auxiliar os partos e nascimentos. Considerada a profissão mais antiga do mundo, as parteiras tradicionais são mulheres que atuam no cuidado com gestações, partos e pós-partos normais de baixo risco, sendo em muitos casos, a única opção para mulheres residentes em regiões de difícil acesso a hospitais.
De acordo com o Ministério da Saúde, mesmo com a maioria dos partos do país ocorrendo em ambiente hospitalar, o parto e nascimento domiciliar, assistidos por parteiras tradicionais, seguem presentes, sobretudo, nas áreas rurais, ribeirinhas, de floresta e em populações quilombolas e indígenas.
De acordo com o órgão, estima-se que existam no Brasil cerca de 60 mil parteiras, assistindo aproximadamente a 450 mil partos por ano, sendo responsáveis por 20% dos nascimentos na área rural, percentual que chega ao dobro nas regiões Norte e Nordeste.
O tema ganha relevância na semana em que é celebrado o Dia da Parteira Tradicional, incluído no calendário nacional em 2015, por meio da Lei n°13.100. Comemorado em 20 de janeiro, a homenagem é baseada na celebração do aniversário de Juliana Magave de Souza, a parteira mais antiga da cidade de Macapá (AP), que já teria realizado cerca de 400 partos.
Na distante Guajará-Mirim (RO), fronteira do Brasil com a Bolívia, o Hospital Bom Pastor atua como a única maternidade da região, realizando somente em 2022, quase 800 partos. A unidade é referência para 54 aldeias da região, das quais cerca de 90% só é acessível por meio fluvial. Pertencente à Pró-Saúde, uma das maiores e mais antigas instituições filantrópicas do País, a unidade possui estrutura pensada especialmente para a população indígena, prestando atendimento gratuito por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).
“Recebemos muitas pacientes indígenas em trabalho de parto e eventualmente, pode acontecer da paciente ser acompanhada pela parteira ou doula das aldeias. Temos muito respeito pela atuação dessas mulheres. Também aproveitamos para orientar sobre a importância de procurar atendimento hospitalar para a realização do pré-natal e parto, uma vez que pode acontecer uma série de complicações durante o processo de nascimento”, conta Yara Leite, enfermeira obstetra.
No Bom Pastor, as gestantes são atendidas por profissionais de saúde, como ginecologistas e obstetras e enfermeiras, recebendo uma assistência humanizada e baseada em evidência científica. “Buscamos sempre esclarecer todas as dúvidas da paciente. Informamos os riscos e benefícios de cada intervenção, deixando-as cientes e orientadas, sobretudo o que irá acontecer durante o atendimento. Essas ações dão mais segurança e favorecem o contato imediato da mãe com o bebê”, explica Yara.
A profissional destaca ainda que na unidade hospitalar cumpre e incentiva o direito, previsto em lei, da gestante determinar o acompanhante para o momento do parto. “Caso a paciente opte pela presença da parteira em que confia, ela permanece na sala, como observadora e para dar suporte emocional. Toda a assistência clínica é prestada pela equipe da unidade”, ressalta a enfermeira.
Diferente da parteira, o médico obstetra pode diagnosticar patologias, realizar cirurgias cesarianas e prestar assistência ao parto normal de baixo e alto risco, além de situações cirúrgicas. “A parteira tem um limite de atuação e pode trabalhar dentro do sistema multidisciplinar. Mas é imprescindível a atuação do médico obstetra no acompanhamento de gestante de alto risco”, afirma Yara.
Parteiras. Brasil ainda tem cerca de 60 mil
“É sempre importante lembrar que o parto humanizado independe da sua via, vaginal ou cirúrgica, do profissional ou serviço em que será realizado”, ressalta a enfermeira. Além de ser um direito da mulher, tem como objetivo o protagonismo dela, onde suas escolhas são ouvidas e respeitadas, garantindo assim um momento único e positivo para mãe e bebê. A humanização também é essencial para evitar a violência obstétrica e compõe diversas vantagens para saúde e vínculo da mãe e do recém-nascido, entre eles:
· Autonomia para escolher como passar pelo trabalho de parto;
· Redução dos níveis de ansiedade e estresse;
· Uso de técnicas não farmacológicas para o alívio da dor como banho quente e massagens;
· Liberdade de movimentos;
· Redução dos riscos de infecção.