Levantamentos recentes mostram crescimento no uso da economia circular e integração da biodiversidade aos negócios

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Foto: Freepik

A sustentabilidade deixou de ser uma tendência para se consolidar como uma estratégia no setor industrial brasileiro. Pesquisas desenvolvidas pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com instituições de ensino revelam que o setor tem intensificado a adoção de práticas ambientalmente responsáveis nos últimos anos.

O mais recente levantamento da CNI, realizado em conjunto com o Centro de Pesquisa em Economia Circular da Universidade de São Paulo (USP), mostra que 85% das indústrias brasileiras desenvolvem, pelo menos, uma prática de economia circular. O estudo, que ouviu 253 indústrias de transformação e construção entre maio e julho do ano passado, representa uma evolução em relação à pesquisa anterior de 2019, quando esse percentual era de 76,4%.

Diferentemente do modelo linear tradicional de “extrair, produzir, descartar”, a economia circular busca revisar e aperfeiçoar toda a cadeia, desde a extração de recursos naturais até o descarte final dos produtos, para criar ciclos onde materiais são reutilizados, reciclados ou reaproveitados continuamente, como explica a CNI. Exemplos de estratégias são a reutilização de materiais na produção, a reciclagem de produtos, a logística reversa, a manutenção preventiva e o desenvolvimento de produtos mais duráveis. 

“Sustentabilidade na indústria deixou de ser apenas uma pauta ambiental e passou a ser sinônimo de eficiência. Reduzir desperdícios, otimizar o uso de recursos e repensar processos são atitudes que impactam diretamente o resultado do negócio, e quem adota esse caminho com inteligência já está colhendo os frutos”, avalia o sócio da Nomus e especialista em gestão industrial, Thiago Leão.

Principais práticas adotadas no Brasil

Para implementar sistemas de economia circular, as organizações demandam soluções tecnológicas que ofereçam controle sobre insumos e produtos, como a adoção do ERP, sigla em inglês que, traduzida, significa “Responsabilidade Estendida do Produtor”. A prática tem ganhado reconhecimento mundial como uma alternativa para a gestão de resíduos.

A empresa que detém um programa de sustentabilidade na indústria sabe como o ERP funciona, auxiliando na administração de recursos, evitando desperdícios. No entanto, essa não é uma realidade que abrange todo o setor industrial.

O levantamento da CNI mostra que 53% das empresas reutilizam materiais na produção, enquanto 30,8% garantem ou realizam a reciclagem de produtos, e 26,4% implementam logística reversa.

“Ao revisar e aperfeiçoar a forma como extraímos, transformamos, usamos e descartamos recursos naturais e produtos, as empresas podem se tornar mais eficientes, competitivas e sustentáveis”, destaca o diretor de Relações Institucionais da CNI, Roberto Muniz, em entrevista concedida à Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) e da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast).

Biodiversidade integrada aos negócios

Paralelamente às práticas de economia circular, outros dados da CNI mostram que 58% das indústrias brasileiras integram a biodiversidade aos seus negócios. A pesquisa, que envolveu mais de 1,5 mil empresas de transformação e extrativas.As principais medidas adotadas incluem tecnologias sustentáveis (35%), certificações ambientais (32%) e uso sustentável de recursos biológicos (29%). 

Para a gestão adequada desses recursos, muitas empresas utilizam ferramentas como planilha de controle de estoque para monitorar o uso de materiais e insumos em seus processos produtivos.

Transformações tecnológicas impulsionam mudanças

As transformações no setor industrial brasileiro não se limitam às questões ambientais, como é expresso por números da “Pesquisa Industrial Mensal” do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): a indústria cresceu 3,1% em 2024, colocando o país na 25ª posição no ranking mundial do setor.

A busca por maior sustentabilidade empresarial é o principal motivador para a transição rumo à economia circular, segundo a pesquisa CNI/USP. Além disso, riscos relacionados à escassez de materiais conduzem as empresas a ampliar seus modelos de negócio e oferta de bens e serviços.

Contudo, existem obstáculos. O custo de implementação de práticas sustentáveis representa a principal barreira (28%), seguido pela falta de incentivos governamentais (24%) e dificuldades regulatórias ou legais (19%).

O setor também enfrenta desafios relacionados ao conhecimento. A pesquisa demonstrou que 50% das empresas consideram a falta de conhecimento sobre economia circular como principal obstáculo, enquanto 40% apontam escassez de recursos financeiros para implementar mudanças necessárias.

Benefícios percebidos pelas empresas

Apesar das dificuldades, os empresários reconhecem vantagens. Segundo o levantamento sobre biodiversidade, 35% das indústrias afirmam que o principal benefício de integrar práticas sustentáveis é melhorar a imagem empresarial, seguido pelo cumprimento de requisitos legais ou regulatórios (31%).

A pesquisa da CNI/USP também revelou que 68% dos empresários confirmam que práticas circulares contribuem para redução de gases de efeito estufa e combate às mudanças climáticas. Adicionalmente, 55% dos respondentes concordam que investir em conservação e uso sustentável da biodiversidade atrai consumidores e investidores.

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