A cirurgia é o único tratamento eficaz para a correção da hérnia abdominal. Contudo, não são todos os pacientes que devem ser submetidos a esse procedimento como primeira medida. Existem hérnias pequenas e assintomáticas que não oferecem risco imediato, mas necessitam ser acompanhadas, já que podem evoluir e apresentar complicações sérias. O responsável pela cirurgia é o cirurgião geral, que precisa ser acionado para que os devidos cuidados sejam tomados.
A hérnia abdominal consiste no abaulamento de algum órgão da barriga (geralmente o intestino) para fora da parede muscular dessa região. Ela é causada pelo enfraquecimento desse tecido por motivos genéticos ou devido ao aumento da pressão dentro da barriga — como acontece em atividades de elevado esforço físico, obesidade ou gravidez, por exemplo.
Segundo a Sociedade Brasileira de Hérnia e Parede Abdominal (SBH), aproximadamente 20% dos adultos brasileiros serão atingidos pela doença em algum momento da vida.
A condição pode ser assintomática ou apresentar sinais como dor, inchaço e vermelhidão. Entre os principais tipos de hérnias abdominais estão a incisional (no local de uma cicatriz), a inguinal (na virilha), a epigástrica (parte superior do estômago) e a umbilical.
Atenção às complicações
A SBH ressalta que as hérnias da parede abdominal são progressivas, por isso o único tratamento possível é a cirurgia. Adiá-la pode fazer com que o problema cresça, ocasionando uma piora nos sintomas e na complexidade do procedimento.
Além disso, a instituição alerta que há o risco de complicações, chamadas de estrangulamento e encarceramento da hérnia, que podem exigir cirurgia emergencial. O encarceramento é quando uma parte do órgão fica preso ao anel herniário, provocando dor intensa. Já o estrangulamento é o comprometimento do fluxo de sangue causado pela compressão do anel. Em poucas horas, pode evoluir para necrose, ou seja, a morte das células.
Conforme a SBH, apesar de todas as hérnias abdominais apresentarem chances de evoluir para as mesmas complicações, algumas localizações e tamanhos oferecem riscos ainda maiores. Das que ocorrem na virilha (inguinais), as femorais são as mais perigosas. Hérnias de tamanho médio, entre 2 e 10 cm, também podem encarcerar ou estrangular com mais frequência.
Procedimento cirúrgico ao longo dos anos
De acordo com o DATASUS, 1 milhão e 460 mil cirurgias para reparos de hérnias da parede abdominal foram realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) entre janeiro de 2015 e setembro de 2021.
De 2015 a 2019, houve um aumento de 14,9% no número de procedimentos. Já de 2019 para 2020, foi registrada uma queda de 41,6% na quantidade de cirurgias feitas. A redução é atribuída à pandemia e à suspensão das cirurgias eletivas em diversas regiões do país.
Os dados mostram que os anos de 2018 e 2019 tiveram o maior número de cirurgias de hérnia feitas pelo SUS, com 263 mil e 268 mil procedimentos, respectivamente. Em 2020 e 2021, por sua vez, as operações caíram para 141 mil e 89 mil.
A diminuição no número de operações preocupa especialistas em relação à demanda reprimida. Em entrevista à imprensa, o presidente da SBH Christiano Claus diz não ser possível mensurar quantas pessoas aguardam pela cirurgia na fila do SUS, mas que ela é a única maneira de tratar definitivamente a doença.
Como é a cirurgia?
Segundo a SBH, as cirurgias para reparo de uma hérnia da parede abdominal são consideradas de média e baixa complexidade e oferecem segurança ao paciente. O procedimento é realizado em centro cirúrgico, com anestesia local ou raquidiana. Pode ser feito por meio de abertura no abdômen ou por videolaparoscopia.
De modo geral, os órgãos são empurrados e reintroduzidos no interior da cavidade abdominal. Depois, fecha-se a abertura por sutura. Caso os músculos da barriga estejam muito enfraquecidos, a colocação de uma tela de reforço e proteção pode ser necessária para diminuir os riscos de formação de uma nova hérnia.
A SBH faz algumas orientações para que os pacientes estejam mais confiantes no momento da operação. É importante, por exemplo, tirar todas as dúvidas antes e conversar com o cirurgião, além de se informar sobre os possíveis riscos para cada caso. Fazer todos os exames pré-operatórios também é fundamental para identificar o estado de saúde do paciente e possibilitar uma cirurgia segura.
Por fim, a entidade recomenda que o paciente estabeleça uma relação de confiança com o cirurgião e apresente a ele informações médicas atuais e antigas.