Roseana Sarney fala sobre seu tratamento contra câncer de mama triplo-negativo: especialistas reforçam importância do diagnóstico precoce

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O diagnóstico de câncer de mama triplo-negativo de Roseana Sarney (MDB), identificado durante um check-up, em agosto deste ano, reacendeu a atenção para um subtipo de tumor menos frequente e conhecido pela agressividade. A deputada contou que buscou atendimento após perda de peso sem causa aparente e que a mamografia realizada no início da internação apontou a presença da doença.

“Assim que terminou [os exames], pediram para repetir mais uma vez. Achei estranho. Quando subi no quarto, os médicos estavam todos lá para me dar a notícia. Em seguida passei por outros exames que indicaram que não havia metástase”, contou em entrevista ao O Globo.

A confirmação do tumor de Sarney levou ao início de um tratamento que inclui ciclos semanais de quimioterapia associados à imunoterapia, além de internações programadas para controle dos efeitos adversos.

“Estou com uma coceira que é uma tortura. Minha pele está toda manchada. Os sintomas são mais leves pela manhã, na parte da tarde ficam mais fortes”, relatou sobre sua experiência durante o tratamento. 

O caso reforça a importância do diagnóstico precoce e da investigação de sintomas aparentemente inespecíficos, além de chamar atenção para a necessidade de compreender as diferenças entre os subtipos do câncer de mama, cada um com particularidades que influenciam diretamente as decisões terapêuticas.

Mamografia: um exame que salva vidas

O diagnóstico precoce é um divisor de águas no enfrentamento do câncer de mama. A mamografia é considerada o exame mais eficaz de rastreamento, capaz de identificar tumores ainda em estágio inicial e imperceptíveis ao toque.

A mamografia deve ser realizada anualmente a partir dos 40 anos, ou antes dessa idade quando recomendada para pessoas com maior risco, identificado por histórico familiar, testagem genética positiva para síndromes hereditárias ou por calculadoras de risco que avaliam múltiplos fatores. Nesses contextos, a ressonância magnética das mamas também pode ser indicada como exame de rastreamento complementar à mamografia, ampliando a segurança do acompanhamento.

“A mamografia continua sendo o exame mais importante no rastreamento do câncer de mama. Ela permite identificar alterações ainda silenciosas e oferece a possibilidade de intervenções menos agressivas e mais efetivas”, explica Luciana Landeiro, oncologista da Oncoclínicas.

No entanto, o Brasil ainda enfrenta um grande desafio: a desigualdade no acesso. De acordo com o estudo AMAZONA, mais de 70% dos diagnósticos de câncer de mama no país são feitos em estágios avançados, o que reduz as chances de cura e aumenta os custos do tratamento. Muitas pessoas, especialmente fora dos grandes centros urbanos, ainda encontram dificuldades para realizar exames regulares.

“O acesso ao rastreamento é uma questão central. Precisamos ampliar a oferta de mamógrafos e garantir que todas as pessoas em risco tenham condições de realizar o exame. Essa é uma das chaves para mudar a realidade atual e reduzir a mortalidade pela doença”, ressalta Guilherme Novita, mastologista da Oncoclínicas.

Cuidado que vai além do tumor

Embora a detecção precoce seja essencial, o caminho após o diagnóstico exige muito mais do que tecnologia e ciência. O tratamento do câncer de mama deve ser integral, oferecendo segurança clínica e acolhimento emocional.

“O tratamento não deve focar apenas no tumor, mas na pessoa como um todo. Um cuidado humanizado promove melhor adesão às terapias e garante mais qualidade de vida durante toda a jornada”, afirma Landeiro.

Acolher significa também dar suporte em momentos de fragilidade, oferecer espaço para a escuta ativa e envolver familiares no processo. Esse cuidado ampliado tem se mostrado fundamental para que a pessoa se sinta fortalecida e capaz de atravessar os desafios do tratamento.

Além disso, os avanços nos tratamentos, que incluem terapias-alvo e imunoterapia em alguns casos, vêm possibilitando abordagens mais eficazes e com menos efeitos colaterais. O acesso a essas inovações, associado a um cuidado humanizado, transforma a experiência da pessoa em tratamento e ajuda a construir um novo olhar sobre si mesma e sua jornada.

O futuro do tratamento do câncer de mama

O cenário do câncer de mama está em transformação. Na ASCO 2025, maior congresso de oncologia do mundo, estudos de impacto trouxeram novidades importantes, como terapias mais direcionadas, monitoramento precoce de resistência aos medicamentos e combinações capazes de substituir a quimioterapia convencional em alguns casos. A mensagem é clara: a oncologia caminha para uma era mais personalizada, com foco não apenas em prolongar a vida, mas também em garantir qualidade de vida.

Entre os destaques esteve o estudo SERENA-6, que demonstrou o potencial da biópsia líquida, um simples exame de sangue capaz de identificar mutações no tumor antes mesmo que exames de imagem indiquem progressão. Essa inovação permite antecipar ajustes no tratamento e evitar a perda de tempo precioso. “É um avanço que muda a lógica do cuidado, possibilitando decisões mais rápidas e personalizadas, aumentando as chances de controle da doença”, explica Novita.

Outro destaque foi o DESTINY-Breast 09, que avaliou novas combinações para o câncer de mama HER2-positivo avançado. Os resultados apontam para a possibilidade de abrir mão da quimioterapia tradicional em alguns cenários, substituindo-a por terapias-alvo mais inteligentes e menos tóxicas. Já no câncer de mama triplo-negativo, considerado um dos mais agressivos, a combinação de anticorpos conjugados a droga com imunoterapia mostrou ganho importante em tempo de controle da doença, representando um novo horizonte para pessoas que antes tinham opções limitadas.

“Estamos diante de uma mudança de paradigma. Quanto mais conseguimos individualizar os tratamentos, maior a chance de oferecer não apenas eficácia, mas também qualidade de vida. O futuro do cuidado às pessoas com câncer de mama é guiado pela ciência, mas também pelo olhar humano, que considera o impacto do tratamento no dia a dia de cada pessoa”, finaliza Luciana Landeiro.

 

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