Depois de enfrentar a doença do século aos 25 anos e guiada pelos tsurus – origami de um pássaro japonês símbolo da paz –, a brasileira Lígia Oizumi abandonou tudo e seguiu rumo ao Japão em busca da sua missão.
Foi por meio do projeto Cultura da Paz que a autora de Felicidade na Prática chegou aos Estados Unidos. Lá encontrou um grande amor, realizou sonhos e se firmou em um propósito de vida. Na entrevista a seguir, ela compartilha detalhes da experiência da escritora. Confira:
1 – Em que momento da sua jornada, relatada na obra, você decidiu que escreveria um livro sobre felicidade?
Lígia Oizumi: Nunca decidi que escreveria sobre felicidade. Depois de superar a depressão e reencontrar a alegria pela vida, decidi seguir meu coração e realizar meus sonhos. Fui vivendo minha vida e escrevendo ao mesmo tempo. O livro foi tomando forma e o título surgiu por último. Desde que comecei a realizar meus sonhos, eu senti uma felicidade muito grande que não passava. Sabe quando você se sente capaz de realizar qualquer coisa? Era isso que eu sentia a cada sonho realizado. E essa felicidade me deu força e coragem para sair do Brasil rumo a uma viagem que transformou completamente meu destino. Minha ideia inicial era escrever um livro contando tudo que fiz para melhorar da depressão, mas durante minhas viagens pelo mundo tive a permissão de aprender ensinamentos de como viver em paz com os sofrimentos e resolvi compartilhar.
2 – Como os tsurus entraram na sua vida e como surgiu o projeto Cultura pela Paz?
Lígia Oizumi: Em julho de 2016, reencontrei no aeroporto de São Paulo a caminho de Campo Grande uma amiga da faculdade que não via desde nossa formatura em 2005. Coincidência ou destino de Deus, ela sentou-se ao meu lado no voo e começamos a conversar sobre os mais de 10 anos que haviam se passado desde a nossa formatura. Então ela me contou sobre o acidente de carro que quase tirou sua vida e a levou a fazer 11 cirurgias na coluna. O acidente tinha mudado sua vida completamente e tinha tirado sua paz, ela sofria com crises de dor constantes devidos aos inúmeros pinos. Eu vi muita tristeza em suas palavras e em seu semblante. Tentei durante nossa conversa resgatar os sonhos antigos dela e mostrar o quanto ela foi abençoada por Deus pela família maravilhosa que ela tem. Tentei de todas as formas, junto a ela, destacar o lado positivo de tudo que tinha acontecido.
Nos encontramos novamente na Feira Central da cidade e eu a ensinei a dobrar um tsuru. De uma forma gentil, mas ao mesmo tempo impositiva, eu disse a ela: “Você não poderá reclamar de nada durante o momento que estivermos dobrando o tsuru, combinado? Você só pode pensar em coisas boas”, ela concordou. Neste dia nascia o Projeto 1000 tsurus por 1 desejo, uma iniciativa para incentivar as pessoas a terem pensamentos positivos diante dos problemas da vida utilizando o origami em formato de pássaro como símbolo da paz. Vi nos olhos e no sorriso da minha amiga o quanto o origami a ajudou a esquecer da dor e do sofrimento ao menos por alguns minutos. Vi o quanto ela vibrou quando conseguiu terminar de dobrar o seu tsuru.
3 – Entre os aprendizados pelo mundo, qual você leva como guia na sua jornada?
Lígia Oizumi: Impossível citar um só, estão todos interligados, mas meu guia é o caminho do bem e da verdade, sendo fiel ao meu coração. Quando seguimos nosso coração e realizamos nossos sonhos, a gente se fortalece como pessoa, aprende a tomar responsabilidade sobre a nossa vida, deixa de ser vítima e passa a escrever a própria história.
4 – No começo do livro você relata o período de depressão profunda. O que você falaria, hoje, para a Lígia de 25 anos e qual a mensagem que você deixa para quem enfrenta hoje a doença?
Lígia Oizumi: Se eu estivesse frente a frente com a Lígia de 25 anos com depressão, primeiro eu daria um abraço bem forte e acolhedor nela, a deixaria à vontade para chorar, para conversar se ela quisesse ou simplesmente eu ficaria quietinha ao seu lado, respeitando seu silêncio e secando suas lágrimas, ali presente e disponível. Quando estamos depressivos o que a gente mais precisa é saber que podemos contar com alguém, sem julgamentos, sem sermões ou frases motivadoras. A presença muitas vezes é muito mais importante que a palavra.
Mas se ela quisesse conversar e ouvir a experiência de uma pessoa que já sentiu a angústia que ela estava sentindo e conseguiu sorrir novamente para a vida, eu diria para ela que as doenças aparecem no nosso corpo para nos avisar que precisamos de cuidados médicos e a depressão é mais normal do que se imagina, pode afetar todo mundo, gente que tem muito dinheiro, atletas que ganham medalha de ouro, pessoas famosas, religiosos e até os próprios profissionais que cuidam da saúde das pessoas.
Confie em quem quer te ajudar, no meu caso, minha mãe não desistiu de mim e me obrigou ir ao médico, mas às vezes essa pessoa pode ser outra pessoa da família ou algum amigo que confiamos. A depressão é uma doença e precisa de cuidados como qualquer outra, não é só porque não aparece nenhuma ferida que a doença não existe. Como tudo acontece no nosso cérebro, uma das coisas mais importantes a se fazer além de tomar os remédios certos, é cuidar da qualidade dos nossos pensamentos, alimentando nossa mente com pensamentos úteis.
5 – O que é felicidade na prática para você? Como encontrá-la?
Lígia Oizumi: A felicidade na prática é quando você tem coragem para seguir a voz do seu coração, supera seus medos, toma atitude e não descansa até concretizar seus sonhos. Na minha experiência você encontra a felicidade quando você é fiel a sua essência e vive de forma autêntica, sem medo de desagradar alguém, quando você entende que é imprescindível viver uma vida de dentro para fora, seguindo seu propósito. Uma prática muito importante para manter a felicidade no dia a dia: é primordial fortalecer o nosso intelecto e escolher conscientemente paz interior e equilíbrio emocional mesmo quando as situações e as pessoas não estão do jeito que queremos.
6 – Qual é a principal mensagem que a obra traz aos leitores?
Lígia Oizumi: O livro traz a mensagem de que para ser feliz na prática você precisa arriscar e estar aberto as possibilidades que a vida lhe traz, vivendo em paz com as incertezas e com os sofrimentos da vida.
7 – Há planos para outros lançamentos literários? Qual o gênero?
Lígia Oizumi: Já tenho um livro que escrevi para o meu filho enquanto eu estava grávida vivendo toda a emoção de gerar uma vida. Será um livro para ajudar os pais a prepararem seus filhos para a vida, e evitar que seus filhos sofram com depressão.