O Brasil é um dos dez países que mais consomem medicamentos no mundo. Em boa parte dos casos, esse consumo é feito sem prescrição médica, trazendo sérios riscos à saúde da população. Entre os medicamentos mais usados no País sem indicação de um especialista, estão os anti-inflamatórios não esteroides. São drogas como, por exemplo, ibuprofeno, o diclofenaco, a aspirina e a nimesulida. De fácil acesso e muito comuns nas ???farmácias caseiras??? dos brasileiros, esses medicamentos, quando tomados sem indicação e acompanhamento médicos, podem agravar ou provocar problemas como gastrites e úlceras, aumento da pressão arterial, dificuldades no parto e hemorragias, além de prejudicar o coração, o fígado e os rins. Os principais motivos que levam as pessoas a tomar anti-inflamatórios são as dores e febre, mostra pesquisa do Ministério da Saúde que ouviu mais de 40 mil pessoas de todas as regiões do País. Mais da metade, segundo o levantamento, usa por conta própria ou por recomendação feita por leigos ???O uso indiscriminado de medicamentos e a automedicação já fazem parte da rotina do brasileiro e essa é uma realidade que precisa de muita atenção. Usar remédios sem indicação de um especialista pode não só provocar efeitos colaterais e intoxicações medicamentosas como também mascarar doenças mais graves??? alerta a médica Maria Gabriela Rosa, do Instituto Nefrológico de Campinas (INC Nefro). ???Como o medicamento age sobre os sintomas, as pessoas têm a falsa sensação de que o problema foi resolvido, mas a causa continua lá. Muitas vezes tomar um remédio indicado por um amigo ou familiar pode até resolver a dor ou a febre , mas em médio e longo prazo isso pode trazer consequências sérias porque retarda o diagnóstico e compromete o sucesso do tratamento???, explica Os rins estão entre órgãos mais afetados pelos efeitos nocivos dos anti-inflamatórios, de acordo com a nefrologista. Esse tipo de medicamento pode comprometer o fluxo sanguíneo renal, reduzindo a capacidade de filtração e eliminação de substâncias tóxicas do organismo, provocando o desequilíbrio entre sais e líquidos, e lesões no órgão, o que pode levar à insuficiência renal aguda ou crônica. Para quem já tem essa insuficiência, os anti-inflamatórios são contraindicados. Idosos, hipertensos e diabéticos, que estão no grupo de alto risco para desenvolver lesão renal, também só devem tomar esses remédios depois de passar por um médico. ???Mas, mesmo em pessoas saudáveis, o consumo rotineiro ou em excesso pode provocar problemas???, diz Maria Gabriela. A especialista chama a atenção ainda para outros perigos que costumam ser ignorados pelas pessoas que se automedicam, como a associação com outros remédios que já estão em uso. ???Só um médico pode avaliar se essa interação traz ou não riscos. Medicamentos que isoladamente contribuem para melhorar a saúde, podem causar danos quando combinados???, diz. Para Maria Gabriela, é preciso um controle mais rigoroso na venda de medicamentos no País. ???Hoje, o acesso é muito fácil. Muitas pessoas têm o hábito de se ???consultar??? nos balcões da farmácia ou tomar um medicamento porque funcionou para um amigo ou parente. Também é comum aumentarem as doses indicadas pelos médicos, prolongar o uso e até trocarem o medicamento prescrito por um mais barato. O médico conhece o histórico do paciente, sabe quais remédios já está tomando, as contraindicações específicas para o seu caso, a dosagem adequada e o período que o medicamento pode ser tomado em prejuízo à saúde???, afirma.
SAIBA MAISPesquisa realizada pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ) em 2014 mostrou que 76,4% dos brasileiros usam medicamentos por indicação de amigos ou da família.Duas pessoas se intoxicam com medicamentos no Brasil por hora, de acordo com dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox). Em 2012, 129.279 caixas de anti-inflamatórios foram vendidas no País, segundo levantamento do Sindusfarma e IMS Health, 21,9% a mais do que em 2010.Mais de 60 mil pessoas acabaram no hospital entre 2010 e 2015 por causa da automedicação, aponta o Ministério da Saúde.Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de metade da população utiliza medicamentos de maneira incorreta.Em diversos países, a nimesulida teve sua venda proibida e em outros, como EUA e Austrália, nunca teve o registro autorizado.