Vale mais a pena investir ou dar entrada e financiar o restante para comprar um bem?
Decisão exige planejamento, análise de juros e atenção ao momento do mercado
Na hora de comprar um bem de alto valor, como um imóvel ou um carro, muitas pessoas se veem diante de uma dúvida comum: usar o dinheiro disponível para dar entrada e financiar o restante ou aplicar o montante e aguardar o retorno dos investimentos até acumular o valor necessário?
No entanto, a escolha entre investir ou financiar não tem uma resposta única, variando de acordo com diferentes fatores, como a taxa de juros praticada pelas instituições financeiras, o perfil de risco, a estabilidade da renda mensal e a realidade do mercado.
Segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), não há uma fórmula definitiva que indique qual é a melhor decisão. Esta deve ser pautada por uma estratégia financeira compatível com os objetivos da pessoa.
O que é preciso analisar?
Ainda de acordo com a Abefin, ao optar por financiar, o comprador integra o bem ao seu patrimônio de imediato, mas precisa lidar com parcelas mensais acrescidas de juros, cujo percentual varia conforme a política de cada banco. Ao longo dos anos, os juros podem encarecer a operação, fazendo com que o bem financiado saia por um valor mais alto do que sua aquisição à vista.
Por outro lado, comprar à vista pode ser mais vantajoso em termos patrimoniais, já que o valor integral pago passa a compor o patrimônio do comprador sem acréscimos de juros. Ainda assim, nem sempre essa opção está ao alcance da maioria, o que faz do financiamento uma alternativa mais acessível para muitos, desde que o comprometimento da renda familiar com as parcelas não ultrapasse os 30%, conforme recomenda a Serasa.
A estratégia de aplicar o dinheiro disponível e adiar a compra é considerada vantajosa por especialistas. Um planejamento de investimentos bem estruturado pode transformar os aportes mensais em um valor expressivo ao longo do tempo, sobretudo se os rendimentos superarem os juros cobrados por financiamentos.
De acordo com as informações divulgadas pela Bolsa de Valores (B3), é possível que os investimentos ofereçam retorno maior do que o custo total do financiamento, especialmente quando o prazo é superior a 12 meses.
Produtos como Tesouro Selic, CDBs com liquidez diária, LCIs, LCAs e fundos conservadores são indicados para quem busca segurança e liquidez, além de proteção contra oscilações da renda variável.
No caso da compra de um carro, a B3 mostra que aportes mensais regulares podem se equiparar ao valor das parcelas de um financiamento. Com a vantagem de que, ao final, o investidor poderá pagar à vista, possivelmente com desconto, além de evitar os juros de contratos longos oferecidos por um banco para financiar veículos.
Planejamento e reserva financeira são fundamentais
Antes de decidir entre investir ou financiar um bem, é preciso considerar a construção de uma reserva financeira estratégica. De acordo com a Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), manter uma quantia reservada para imprevistos é indispensável para garantir estabilidade diante de emergências ou oscilações na renda
Investir também pode proteger o poder de compra diante da inflação e aumentar as chances de crescimento patrimonial. Essa organização oferece mais segurança para lidar com eventuais mudanças econômicas e aproveitar oportunidades que surgirem no mercado.
Outro ponto importante no processo de decisão é avaliar o momento do mercado. A Anbima lembra que o mercado de imóveis e construção civil é cíclico e sofre variações influenciadas pela oferta e demanda, além da disponibilidade de crédito.
Quando há muitas ofertas e poucos compradores, o consumidor pode encontrar preços mais competitivos. Já em cenários de grande demanda, os imóveis tendem a ficar mais valorizados.
Para ajudar o consumidor a calcular e comparar as opções, o Banco Central disponibiliza a Calculadora do Cidadão. A ferramenta permite simular cenários com parcelas fixas de financiamento ou depósitos regulares em investimentos, ajudando a entender qual alternativa representa o melhor custo-benefício no longo prazo.
É melhor antecipar as parcelas do financiamento ou deixar o valor investido?
Outro dilema comum entre os consumidores é se vale ou não antecipar as parcelas do financiamento para reduzir o tempo da dívida e os juros. A prática, segundo a Abefin, pode não ser a mais vantajosa em momentos em que a taxa Selic está alta.
Embora a antecipação reduza o valor total pago em juros, ela também retira a oportunidade de aplicar o dinheiro em produtos que podem render mais do que o desconto gerado pela quitação adiantada. Hoje, investimentos de renda fixa oferecem rentabilidades que podem variar entre 12% e 14% ao ano, superando, em muitos casos, os juros do financiamento imobiliário.
A Abefin orienta que a melhor estratégia é manter o financiamento em dia e aplicar os recursos extras em investimentos. Dessa forma, é possível construir um patrimônio paralelo, preservar o poder dos juros compostos e criar uma reserva para o futuro.
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