Dia 28 de agosto é comemorado o Dia do Voluntariado, dedicado a pessoas que abraçaram uma causa e lutam para tornar o Brasil um lugar melhor. Agora voltemos um pouquinho: quando digo “comemorado” é apenas uma força de expressão, afinal a data acaba passando despercebida entre a população, até mesmo entre os 7,4 milhões de brasileiros que atuam como voluntários. De acordo com o IBGE, 4,4% dos brasileiros exercem esse tipo de atividade. Em relação aos 207,7 milhões de pessoas, ainda é um número muito pequeno e desproporcional.
Cá estamos, em um país com muitas dificuldades, pessoas passando necessidades, animais abandonados, saúde pública precária e outros milhões de problemas, mas mesmo assim há algumas pessoas com bom coração dispõe de seu tempo, muitas vezes de descanso, para ir à luta; e com um adendo: não tem remuneração. Gente que acorda cedo para servir comida aos moradores de rua; gente que resgata animais machucados ou maltratados; gente que vai até hospitais levar um sorriso e alegrar dias cinzentos. Todos os tipos de voluntários deviam ser celebrados; ganhar uma comemoração digna de natal e ano-novo. Eles não fazem boas ações por likes ou para lucrar. Se você faz uma boa ação esperando o retorno, lamento lhe dizer, mas não foi uma boa ação e sim um favor.
Em um país tão grande e com uma população maior ainda, de acordo com uma pesquisa feita pela CAF (Charities Aid Foundation), pasmem, ficamos em 75ª posição entre os países que exercem trabalho voluntário. Em uma média de 193 países, acreditem, estar no número setenta e cinco não é nenhum mérito.
Como falo com propriedade sobre trabalho voluntário? Desde que me conheço por gente, tenho um instinto a mais por ajudar, seja quem fosse. Já fiz brincadeiras e levei comida para crianças em pastorais de igrejas, já dei aulas de informática e secretariado para pessoas de baixa renda e idosos, fiquei durante três anos visitando hospitais e asilos e há seis anos faço parte da associação de animais de minha cidade.
Todos esses trabalhos realmente mudaram a minha visão de mundo. Eles me fortaleceram e me deram uma noção de empatia fantástica, que me fez crescer como ser humano e profissional. Presenciei todos os tipos de situação, mas o que mais me emocionou e conseguiu dominar todo meu empenho, foi o trabalho com os animais. Afinal, segundo uma estimativa da OMS (Organização Mundial da Saúde), há mais de 30 milhões de animais abandonados no país. E eles não podem pedir socorro, não tem um sistema de saúde gratuito, não tem mais locais adequados para se abrigarem, e, portanto, continuam sofrendo diariamente nas ruas por falta de ajuda. Por falta dos que realmente se importam ao ponto de tomarem suas dores e se levantar para ajudar.
Eu mesmo levanto cedo, organizo eventos de arrecadação, crio campanhas, faço resgates, feirinhas de adoção, perco noites, finais de semana, feriados e muitas vezes sofro com situações que não posso ajudar. Porém o que é mais doloroso em toda essa situação é ver que mesmo com todo o meu – e dos outros voluntários – esforço e luta para conscientização da população, o descaso só aumenta. Antes a desculpa era a falta de orientação, o que já não é mais o caso. Com todos os desafios que enfrento, ainda preciso lidar com a ignorância de algumas pessoas e a inconveniência de outras, que acreditam que o que faço é minha obrigação. O conceito de voluntário é ajudar, quando posso e da melhor maneira possível, não servir de muleta para a falta de amor e irresponsabilidade de algumas pessoas. “Ah, mas então não é emprego”. Não, não é emprego. ?? amor.
Certos dias dá aquela vontade de jogar tudo para o alto. Chega de lidar com ignorância; chega de aturar o descaso e falta de auxílio. Falta no brasileiro hoje uma simples palavra: EMPATIA. Não é porque o problema não é seu, que você não possa ajudar. Não é porque já existe quem ajude que você pode jogar a responsabilidade nas costas alheias. Se você não conhece a batalha diária travada pelas instituições, que sofrem para conseguir a pouquíssima ajuda que recebem, então por favor, não fale algo por aí que você não vivencia.
Falta grande parte das pessoas entenderem que se cada um fizer um pouquinho, ao somar será muito. E também falta uma coisa chamada compromisso. Ao assumir qualquer tipo de atividade, cumpra! Pois há pessoas que estão contando com a sua ajuda. Não precisa ir para África resgatar rinocerontes. Ajude uma instituição da sua cidade; alimente um necessitado; pare de fazer chacota com o seu amigo que acorda cedo aos domingos para tocar violão no hospital do câncer. E acima de tudo: faça isso tudo sem esperar um tapinha no ombro ou uma chuva de parabéns.
Faça isso para o conforto da sua alma e alívio espiritual. Quando disse lá em cima que o trabalho voluntário não tem remuneração, me enganei. Nosso pagamento é a satisfação e agradecimento no olhar de cada ser vivo que ajudamos. E isso, meu amigo, não tem preço que pague.
*Carlos Pinotti é administrador de empresas e presidente da Associação Amigos dos Animais de Nova Odessa (AAANO).