Uma pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) sobre o consumo e utilização responsável de crédito e dinheiro pela juventude mostra que os itens de maior demanda de consumo para os próximos três meses são roupas (62%), calçados (48%) e cosméticos ou perfumes (44%). Entre os itens que os jovens desejam comprar, mas não podem por falta de crédito que facilite a aquisição estão: carro e moto (35%), viagens (26%), faculdade (22%, aumentando para 26% entre as classes C, D e E) e celular ou smartphone (18%).
Entre os itens mais caros, as preferências para os próximos 12 meses são smartphones (36%), viagens (34%, com destaque para as classes A e B), e carro ou moto (30%).
Gastos relacionados a educação estão nos planos de poucos jovens: 9% querem fazer intercâmbio ou curso de línguas fora do país (com esse número subindo para 17% nas classes A e B) e 8% planejam uma pós-graduação ou MBA. Para Marcela Kawauti, o baixo índice de jovens interessados em investir na formação acadêmica preocupa. “Com o mercado de trabalho cada vez mais exigente, o jovem deveria encarar a educação como um investimento e priorizar esse tipo de gasto ao invés de outros itens de consumo que poderiam ser adiados. O jovem precisa trabalhar para sobreviver e, às vezes, a educação fica em segundo plano. ?? uma questão de prioridade e que foi mais agravada pela recessão que o país atravessa”, avalia.
Dentre os que planejam alguma compra de grande valor para os próximos 12 meses, 60% afirmam ter reservas financeiras para esta finalidade, sendo que 31% vai continuar guardando para comprar à vista. Dos que não possuem reserva (40%), metade diz que vai fazer bicos para conseguir juntar o dinheiro, principalmente nas classes C, D e E (24%). Somente 3% não pretendem adquirir algum item mais caro.
Maioria dos jovens brasileiros já se arrependeu ao comprar o que não precisava
A pesquisa demonstra que a maioria dos jovens brasileiros são impulsivos na hora da compra: 77% já se arrependeram ao comprar o que não precisavam. Além disso, o estudo revela que o consumo é valorizado pela maioria dos jovens, sendo que 86% afirmam que comprar aquilo que querem é uma das grandes alegrias da vida e três em cada quatro (75%) dizem que o objetivo na vida é trabalhar muito para poder adquirir bens como carro, celular, roupas, entre outros.
Por mais que 79% digam não se importar com marcas na hora da compra, mas sim com a qualidade do produto, quatro em cada dez jovens afirmam que os bens que a pessoa possui mostram seu estilo, personalidade e valores (38%), e 36% também valorizam quando a pessoa chama atenção por onde passa por conta de estilo de vida e coisas que possuem.
Em alguns casos, o consumismo gera comportamentos inadequados, como brigar com parentes pela forma como gastam seu dinheiro (23%) e deixar de pagar contas para adquirir um item desejado (19%). Segundo Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil, o jovem deve ficar atento aos seus hábitos financeiros para não ter problemas no futuro. “?? importante que o jovem identifique e elimine desde cedo atitudes da sua vida financeira que possam trazer endividamento, atrasar e até mesmo inviabilizar a realização de sonhos importantes”, afirma Kawauti. “A pessoa pode aproveitar a vida, fazer uma grande viagem e financiar os estudos, desde que defina quais são as prioridades. A partir de então, é importante disciplina para atingir um objetivo de cada vez e evitar fazer compras não planejadas, que podem atrasar a realização do sonho”, completa.
Jovens buscam economizar por meio de pesquisa de preço e controle de telefonia celular
Ainda que os jovens não tenham problema em admitir o gosto pelo consumo, a maioria dos entrevistados (86%) garante que sempre pesquisa antes de fazer alguma compra e 62% sempre pedem descontos. Também visando gastar menos, 75% dos jovens controlam a conta do telefone mês a mês e 75% falam ao celular apenas o necessário. Já 73% preferem conversar por mensagens ou aplicativos para economizar.
O planejamento de compras faz parte da rotina de uma quantidade significativa dos entrevistados: 82% se planejam para compras do dia a dia e 77% para as compras de produtos mais caros e 79% se preparam e sabem exatamente quanto têm para gastar. Para não comprometer o rendimento mensal, 67% afirmam evitar fazer compras parceladas.
Por mais que a maioria dos jovens saibam o que fazer para economizar, isso não significa que as boas práticas financeiras sejam, de fato, praticadas por todos, dado que 41% preferem parcelar as compras mesmo quando o valor não é muito alto para poder comprar mais; 33% admitem comprar mais do que o planejado, 32% cedem aos impulsos quando querem muito algo, 32% gastam mais do que o planejado para comprar produtos que mostram seu estilo e personalidade, 31% acreditam que vale a pena fazer uma dívida para comprar uma roupa que os façam sentir especiais, e 29% ás vezes perdem a noção do quanto podem gastar em um balada e extrapolam o orçamento.
Oito em cada dez jovens possuem conta correnteFormato exclusivamente digital já atrai um terço
Os serviços financeiros e de crédito mais comuns utilizados pelos jovens são conta corrente (80%, aumentando para 90% entre as classes A e B), cartão de crédito (71%) e cartão de loja (52%). Dos que possuem algum dos serviços, 84% garantem ter verificado taxas e/ou juros – aumentando para 88% entre os jovens de 25 a 30 anos.
Uma parte significativa dos jovens já está inserida numa nova forma de utilizar serviços financeiros. Um terço afirma ter conta corrente exclusivamente em formato e digital, 31% dizem que a maioria dos pagamentos é feita via paypal, stelo, pagar me, e 19% colaboram financeiramente para realização de projetos de terceiros em plataformas, através do chamado crowdfunding.
Lojas virtuais são locais preferidos para compras
Para 62% dos jovens, o principal modo de pagar as contas é à vista – 43% em dinheiro e 19% no cartão de débito. Outros 19% parcelam no cartão de crédito e 11% também utilizam o cartão, mas em parcela única a ser paga na data do vencimento.
Nas compras a crédito – crediário carnê, cartão de crédito ou cartão de loja -, geralmente são comprados acessórios, calçados e roupas (55%), eletroeletrônicos (51%) e eletrodomésticos (40%).
Excluindo os supermercados, as lojas virtuais são os ambientes de compra preferidos da maioria (46%, com o número subindo para 63% entre as classes A e B), seguidos de lojas de departamento (41%) e farmácias ou drogarias (37%). A internet é o meio de comunicação mais consumido entre os jovens (95%), seguida pela TV por assinatura (56%, com destaque nas classes A/B) e TV aberta (52%).
Para fazer dinheiro render, jovens adotam práticas de consumo consciente
Com relação a práticas que ajudam a economizar dinheiro, a pesquisa mostra que 76% dos jovens deixam de comprar um produto novo se o que ainda possui pode ser consertado, 44% adquirem usados em bom estado, 43% alugam ou pegam emprestado o que não utilizam com frequência e 40% vendem muitos produtos que não usam para ganhar um dinheiro extra. No entanto, 38% dos jovens reconhecem que compram produtos falsificados. Hospedagens em albergues, casas ou quartos alugados são uma opção para 46% e um terço (31%) tem as caronas com amigos ou aplicativos como principal meio de transporte.
Metodologia
Foram entrevistados 601 consumidores com idade entre 18 e 30 anos, de ambos os gêneros e de todas as classes sociais nas 27 capitais brasileiras. A margem de erro no geral é de 4,0 pontos percentuais para um intervalo de confiança a 95%.