Há 12 anos o carnaval de São Paulo não via um campeão inédito no sambódromo do Anhembi. Nesta terça-feira, 28, duas agremiações disputaram a honra de ser a 31.ª vencedora da elite do samba paulistano até a última nota do último quesito, samba-enredo. Deu Acadêmicos do Tatuapé, que levou à avenida um tema clássico dos desfiles, mas que não garantiu sucesso nos últimos anos: a África.
Com 269,7 pontos, a escola da zona leste, que desfilou na sexta-feira, teve o enredo Mãe África conta a sua história: Do Berço Sagrado da Humanidade à Terra Abençoada do Grande Zimbabwe. A mesma quantidade de pontos foi obtida pela Dragões da Real, que perdeu o título no critério de desempate. As duas escolas estavam sentadas lado a lado durante a apuração das notas no Anhembi. A Vai-Vai chegou em terceiro lugar. Com 268,2 e 268,1 pontos, Águia de Ouro e Nenê de Vila Matilde, respectivamente, foram rebaixadas ao grupo de acesso.
No anúncio das últimas notas de samba-enredo, quando a Dragões estava à frente, os membros da Tatuapé já rezavam e choravam abraçados em círculo. Ao ser anunciado o primeiro lugar, os integrantes da vencedora gritavam ???Eu não acredito.???
???Foi uma vitória do nosso povo, da garra da nossa comunidade. Para nós é sempre assim, na raça, é no último minuto. Nós acreditamos???, afirmou o presidente da escola Eduardo dos Santos. E fez questão de ligar a história da agremiação e a cultura que levou à avenida. ???O povo africano sofre com doença, guerra, dor, fome e miséria. Mas ninguém faz uma festa, uma dança e um colorido como eles???, afirmou no discurso de vitória.
O projeto é o primeiro do carnavalesco Flávio Campello na Tatuapé. ???Nossa proposta foi exaltar o berço da humanidade, a mãe África. E lembrar que os negros chegaram aqui no Brasil e trouxeram com eles a origem do nosso samba, o samba de rua???, disse, antes do desfile.