Quando criança, ouvi muito que éramos o ???País do futuro???. Era o Brasil de Juscelino Kubitscheck, dos ???50 anos em 5???, campeão mundial de futebol, de Maria Esther Bueno e de ??der Jofre. Acabava de chegar ao Brasil as montadoras automobilísticas, inauguramos Brasília e parecíamos que o futuro estava próximo. Em seguida, chega ao poder Jânio Quadros e sua vassourinha que iria varrer toda a sujeira das entranhas do poder. Dá um autogolpe que termina em renúncia e João Goulart assume o poder e fala em ???Reformas de base???. Em plena Guerra Fria, o país se divide e, em 1º de abril de 1964, os militares chegam ao poder, com um golpe de estado.
Castelo Branco assume e dá sinais de que o poder seria devolvido aos civis em pouco tempo. Acontece, em 1968, um novo golpe em que militares de uma linha mais dura, assumem o poder e decretam o AI-5, acabando com quaisquer garantias políticas. O Brasil entra em mais um espiral de crescimento: surge o ???Milagre Brasileiro???! O Brasil se torna tricampeão mundial de futebol e o futuro, novamente, parece próximo. Após mais três presidentes militares, o poder é devolvido aos civis, com uma inflação que atingia 10% ao mês.
Em 1965, com a morte do recém-eleito Tancredo Neves, José Sarney, que foi parte importante dos governos militares, se torna o primeiro Presidente civil depois de 20 anos, convoca uma Assembleia Nacional Constituinte e implanta o Plano Cruzado. Essa medida causa, num primeiro momento, uma euforia nacional e, mais uma vez, parecia que o futuro estava na alça de mira. Meses depois, a inflação volta e após mais alguns planos frustrados, o Brasil enfrentava uma inflação de 85% ao mês. Ayrton Senna salvava nossos domingos…
O Brasil elege o ???Caçador de Carajás??? Fernando Collor, que diz ter apenas uma só bala na agulha para matar a inflação e extrapola na alquimia, sequestrando o dinheiro das contas correntes. Meses depois, a inflação volta e, acusado de corrupção, é cassado e substituído por seu vice Itamar Franco. Seu quinto Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, implanta o Plano Real e, finalmente, o tema inflação deixa ser o principal assunto das famílias e das empresas.
Nas ondas do plano, FHC é eleito Presidente. Empresas substituem o departamento financeiro pela produção, famílias melhoram seu poder aquisitivo, com o fim do imposto inflacionário e o Brasil se torna pentacampeão mundial. Parecia que os ventos continuariam favoráveis em direção ao futuro, mas a economia se mostrou vulnerável às crises internacionais e a crise energética (e o consequente esfriamento da economia) elegem o sindicalista Luís Inácio Lula da Silva.
O Brasil de Lula surfa na onda do crescimento, famílias têm acesso ao crédito fácil e a bens de consumo que ???nunca antes na história deste país??? haviam sido alcançados pela ???Nova classe média???. O futuro teria chegado? Com a crise imobiliária norte-americana, o mundo toma medidas de cautela na economia. O Brasil, não! Lula prevê que o suposto tsunami que se abatia no planeta, aqui seria apenas uma ???marolinha??? e estimula, ainda mais, o crédito e incrementa os gastos públicos. Dilma Rousseff, a ???Mãe do PAC???, segue a mesma linha, ainda que o modelo estivesse dando mostras claras de esgotamento.
Acusada de desvios ilegais em relação às contas públicas, em meio à pior recessão de nosso período republicano, Dilma sofre impeachment e seu vice Michel Temer assume. Prometeu reformas na economia, mas, sem respaldo e prestígios políticos, amarga a pior avaliação popular da história. Há poucos meses da eleição, em meio a clamores por intervenção militar, um militar da reserva – deputado há vários mandatos -, empunhando a bandeira da moralidade e da segurança pública, ocupa a liderança das pesquisas…Aos 65 anos de idade, cansei de esperar pelo ???País do Futuro??? e, depois de muitas ilusões e desilusões e de salvadores da pátria, constatei que temos uma vocação para viver tentando morder o próprio rabo! Será que Deus é mesmo brasileiro?
Orestes Camargo Neves