O escritório brasiliense de advocacia Galvão & Silva, que atende clientes nacionais e internacionais em 16 áreas do direito, teve um aumento súbito de até 386% no volume de consultas por divórcio.

Só que isso, não ao longo de 2020, como a imprensa veio registrando: esse salto acontece agora, desde maio último.

O aumento das separações na pandemia já foi abordado inclusive pela Folha de S.Paulo. Um desdobramento a ser melhor explorado, entretanto, é esse aumento atual das consultas a advogados especialistas – e uma segunda onda de rompimentos que ele sinaliza.

Este aspecto chamou a atenção do especialista Daniel Silva, 35 anos e sócio do Galvão & Silva. “Esse aumento reflete o grau atingido pelos conflitos e a severidade das possíveis consequências”, afirma, referindo-se tanto a filhos, quanto a patrimônio.

 

Mais separações: uma das razões do inédito déficit de bebês

Um levantamento do assunto divórcio como motivo dos contatos na plataforma de automação de atendimento (CRM) do Galvão & Silva entre outubro de 2019 – praticamente no último trimestre pré-pandemia – e julho de 2021 aponta que a média simples até abril deste ano foi de 30 contatos com o tema das separações (veja gráfico).

Já o recente trimestre maio/ junho/ julho marcou uma guinada súbita para cima. Seu registro médio mensal foi três vezes (300%) superior à baliza anterior.

Julho distanciou-se mais ainda da média dos 19 meses anteriores: foi quase quatro vezes (386%) o índice deles.

Reportagens sobre esse crescimento dos divórcios apontam sérias consequências demográficas.

A BBC, por exemplo, informa déficit inédito de 300 mil nascimentos no Brasil em 2020, provocado pelos divórcios, entre outros fatores.

O fato foi exposto pela CNN como o menor número de novos bebês em quase 30 anos num país em que este índice esteve sempre em expansão.

 

“Infidelidade, falta de paciência, traição”

Os conflitos gerados pelo confinamento forçado são apontados genericamente como a causa óbvia desse aumento de consultas por divórcio pelo especialista Silva.

“Essa convivência prolongada gerou não só novos desentendimentos, como ainda agravou o que já não vinha se encaixando na vida de alguns casais”, relata.

O advogado não tem números sobre os gatilhos específicos dos rompimentos. Diz que, profissionalmente, evita se aprofundar no lado mais pessoal.

Mas Silva tem o inventário impressionista desses motivos: “Infidelidade, falta de paciência, de resiliência na situação difícil, traição.” Ele mesmo observa de imediato que, na verdade, repetiu um mesmo motivo sob nomes diferentes: “infidelidade” e “traição”.

Mediação inclui lista testada de o que fazer, inclusive com filhos

Quanto mais aguda for a separação, maior a necessidade do advogado – e de este cumprir o papel de mediador, lembra Silva.

Se o contato com a outra parte puder se dar mediante outro advogado, melhor ainda.

O profissional aconselha:

  • Conciliação: “Deixar para o juiz decidir pode ficar mal para um ou até para os dois.”

  • Guarda compartilhada dos filhos: “Já é praxe. O casal fica incumbido de se organizar.”

 

O que evitar:

  • Guarda alternada dos filhos: “Estudos demonstram: prejudica. Menor precisa de referência.”

  • Evitar falar mal do ex para filhos: “É a tal alienação parental: o mais prejudicado é o menor.”

  • Dilapidar patrimônio: “Acontece mais em caso de traição.”