Desde a publicação da Resolução 327 da Anvisa, em 2019, a qual dispõe sobre o uso medicinal da cannabis no Brasil e sua venda em farmácias, 18 produtos já foram aprovados pela agência. Com essa regulamentação, segundo dados da Kaya Mind, o número de pacientes beneficiados pelos produtos à base de canabidiol deve chegar a quase 7 milhões, além de viabilizar um mercado com potencial de movimentar R$9,5 bilhões no quarto ano após a regulamentação. Porém, os pacientes que buscam os produtos ainda sentem dificuldades para adquirir essa variedade de produtos na drogaria perto de casa.
Joaquim Castro, economista e fundador da Clínica Gravital, primeira rede brasileira de clínicas focadas em terapias à base de cannabis, conta que três anos após a norma ser publicada, apenas dois produtos já são comprovadamente encontrados nas farmácias brasileiras, sendo que um terceiro foi noticiado em junho deste ano. “Estamos acompanhando de perto a movimentação das farmacêuticas. Recentemente uma marca que teve sua autorização pela Anvisa em novembro de 2021 anunciou sua chegada às farmácias em julho, sete meses depois. Se esse prazo for um parâmetro razoável, até o final do ano teremos pelo menos 10 produtos diferentes para os pacientes”, comenta.
Com a escassez de produtos no Brasil, a solução para os pacientes é a importação, porém, apesar das simplificações, esse é um processo que costuma levar 30 dias desde a data da consulta até a data do recebimento do produto. Tempo que, para determinadas condições clínicas, gera consequências negativas aos pacientes. “Os produtos importados ainda representam a maior parte dos adquiridos pelos pacientes. Porém, os aprovados pela ANVISA para venda no território nacional começam a ganhar participação de mercado. Se médicos experientes no assunto ainda prescrevem muitos óleos importados, as prefeituras, os planos de saúde, as decisões judiciais e mesmo os médicos iniciantes irão adquirir os produtos aprovados pela ANVISA, pois é comum que decisões judiciais que obriguem o Estado ou planos de saúde a custear o tratamento de pacientes, estejam vinculadas à aquisição de produtos que constem no rol da ANVISA”, explica Joaquim.
Com isso, a perspectiva de oferta e demanda fica ainda mais otimista, porém, segundo a médica da Clínica Gravital Curitiba, Amanda Medeiros Dias, na prática quase todas empresas escolheram produtos similares. “O que vemos é que os produtos aprovados pela Anvisa basicamente se repetem. A diferença entre eles é apenas a concentração de CBD por mililitro e no total do frasco. Temos produtos aprovados que têm desde 20 mg/ml até 200 mg/ml de CBD. Todos no formato de óleo. Ou seja, é o mesmo produto, o médico precisa apenas ajustar a posologia. Se o paciente precisa de outros canabinoides precisará misturar diferentes composições, o que pode ser prejudicial economicamente a ele”, explica a médica.
Mercado internacional
Amanda conta que no mercado internacional o canabidiol, conhecido como CBD, ainda predomina, mas outros canabinoides já são comuns como o CBN (canabinol), o CBG (canabigerol) e o próprio THC (tetrahidrocanabinol) são muito utilizados nos consultórios. “Uma empresa para se diferenciar nas farmácias precisará sair do lugar comum, caso contrário só restará a ela competir por preço, dado que a qualidade do produto já é garantida pelos padrões da ANVISA. Especialmente considerando as restrições à propaganda de produtos à base de cannabis”, opina a médica.
Formas de administrar o canabidiol
Para pacientes, médicos e clínicas, é importante que o mercado de importação e o das farmácias brasileiras coexistam por um longo período, pois, além das formulações aprovadas pela ANVISA ainda serem poucas, há outros dois fatores muito benéficos aos pacientes brasileiros. Um deles está relacionado às diversas formas de administração dos produtos importados, que são fabricados em óleos, cápsulas gelatinosas, gomas, sprays, tinturas, nanos, cremes e pomadas; o outro é a ainda grande diferença de preço. “O produto importado pode chegar a custar 25% do preço do disponível nas farmácias atualmente. Estamos em contato com as farmacêuticas brasileiras para podermos também oferecer os produtos nacionais, mas quem não precisa do produto com urgência e ou necessita de outros canabinoides, a importação ainda é o caminho preferido.”, finaliza Joaquim.