O reaça pop Javier Milei assustou a Argentina

Uma mistura de Zelenski com Bolsonaro e Donald Trumpo, ele assustou o establishment da política local e venceu as prévias do país com 31% dos votos. A Argentina fará suas eleições em outubro com 1o e 2o turnos.

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, cuja coligação amargou um terceiro lugar nas urnas, reconheceu ter “ouvido a voz” da população. “Ouvimos a voz do nosso povo. Agora começa a verdadeira campanha em favor da democracia e dos direitos do povo. Vamos continuar unidos, defendendo a pátria e trabalhando, cuidando dos direitos do povo”, publicou na madrugada desta segunda-feira (14/08) o chefe de Estado em sua conta no Twitter.

Com pouco mais de 96% dos votos apurados, JM conseguiu 30,1%, se tornando o protagonista da eleição, a ser disputada com a ex-ministra de Segurança Patricia Bullrich e o atual ministro da Economia, Sergio Massa.

Esses três candidatos se enfrentarão nas eleições gerais a serem realizadas em 22 de outubro, com possível segundo turno em 19 de novembro.

A principal coligação da oposição, Juntos pela Mudança, de centro-direita, obteve 28,3%, na soma de seus dois candidatos, Bullrich e o prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta. A atual coligação governamental, União pela Pátria, de Massa, conseguiu 27,2%.

Milei é um novato na política do país vizinho, foi eleito deputado e criou um partido, que na prática, para parâmetros brasileiros, é algo como o Novo e o natimorto Aliança Pelo Brasil, a legenda que Bolsonaro tentou inventar para chamar de seu. No caso de Milei, a legenda La Libertad Avanza (A Liberdade Avança), uma coalização reacionária originada na capital, conseguiu 2 deputados na Câmara da Nação e outros 5 no Legislativo da Cidade Autônoma de Buenos Aires.

Reaça pop Milei ganha força nas prévias argentinas

A exemplo do brasileiro, J.M. também ataca a chamada direita convencional, para além da demonização da esquerda e a paranoia anticomunista. Até Maurício Macri, o presidente de direita que encarnou o neoliberalismo antes do mandato do atual presidente, Alberto Fernández, virou vidraça e é atacado pelo extremista, assim como o atual prefeito de Buenos Aires, Horácio Rodríguez Larreta, um antikirchnista convicto.

No seu inventário de impropérios há insultos aos “inimigos” (todos que não estão ao seu lado, de qualquer parte do espectro político), uma pose assumida de conquistador e mulherengo (diz que faz muito sucesso entre as mulheres, que é professor de sexo tântrico e que transa por horas e horas), além de confessar que para ele “os pais estão mortos”, embora sejam vivos, porque um dia apanhou do pai e a mãe foi conivente. Tudo isso sempre defendendo a moral e o conservadorismo.

O sentimento na Argentina, um país com longo histórico de disputas políticas ferrenhas, ditaduras, polarizações e acirrada divisão ideológica, a chama “grieta” (a fenda), é de que Javier Milei foi o estopim que se acendeu para trazer de volta a violência política ao seio da sociedade “pacificada” após a redemocratização. Seus seguidores não chegam a ser percentualmente tão numerosos como os de Jair Bolsonaro aqui no Brasil, mas são muitos, são radicais e muito susceptíveis ao discurso de ódio.

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A namorada de Fernando Andrés Sabag Montiel, o brasileiro de 35 anos que quase matou a vice-presidente da Argentina, a jovem Brenda Elizabeth Uliarte, de 23 anos, momentos antes de ser presa por participação na tentativa de magnicídio, já que fora gravada no local do atentado, fez uma live no Instagram e proferiu um discurso vago, confuso e demagógico muito semelhante ao do deputado de extrema-direita, até que o mencionou diretamente, usando seu nome e uma frase de sua autoria.

“Não há reconciliação com corruptos. Não, galera. Chega de corrupção, seja de quem for, de qualquer lado político. Chega de corrupção. De qualquer país, de qualquer lugar. Chega de corrupção”, disse Brenda, parafraseando seu ídolo político, e o citando nominalmente.

No mesmo dia, um homem identificado como José Derman, que seria coordenador de um grupo de extrema-direita conhecido no país pela disseminação de forte e violento discurso de ódio, o Centro Cultural Kyle Rittenhouse, que foi às redes reivindicar participação no atentado frustrado executado por Montiel, foi preso pela Polícia Federal Argentina (PFA) numa das sedes da organização radical, em La Plata, local em que havia pinturas e grafites nas paredes em alusão a Milei. A entidade também fazia postagens em homenagem ao deputado extremista.

 

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