O mercado brasileiro, conhecido por sua volatilidade e imprevisibilidade, apresenta um terreno desafiador até para gigantes globais como o Outback Steakhouse. Desde a sua chegada ao Brasil em 1997, a cadeia de restaurantes de origem americana, mas inspirada na cultura e na culinária australiana, famosa por suas generosas porções e ambiente descontraído, tem enfrentado uma série de altos e baixos que poderiam desestabilizar qualquer empresa menos resiliente.
Nos primeiros anos, o Outback experimentou uma expansão rápida e bem-sucedida, abrindo várias filiais em grandes cidades brasileiras e conquistando um público fiel com seu menu distintivo e decoração temática. Essa lua de mel, no entanto, não durou para sempre. A instabilidade econômica do Brasil, marcada por inflação, recessão e mudanças políticas frequentes, começou a impactar a operação da rede. A oscilação do real frente ao dólar e o aumento dos custos operacionais tornaram a gestão do negócio cada vez mais complexa.
Em 2020, a Bloomin’ Brands, empresa mãe da Outback, considerou seriamente vender suas operações no Brasil. O plano era uma resposta direta aos desafios financeiros enfrentados, mas numa reviravolta típica de um bumerangue, a empresa decidiu manter suas operações após uma análise mais profunda do mercado. Contudo, essa decisão não marcou o fim das incertezas. Em 2024, a empresa novamente enfrentou dificuldades, com prejuízos significativos que levaram à reconsideração de suas estratégias no país.
Os prejuízos, que chegaram a cerca de R$ 424 milhões no primeiro trimestre de 2024, são um reflexo não só das adversidades econômicas locais, mas também de uma concorrência cada vez mais acirrada e de uma mudança no comportamento dos consumidores, que buscam novidades e experiências gastronômicas mais diversificadas. A resposta da Outback a essas dificuldades foi buscar a consultoria do Bank of America Securities, numa tentativa de explorar opções estratégicas que maximizassem o retorno para os acionistas.
Essa nova fase de incerteza destaca a complexidade de operar em um mercado emergente e volátil como o Brasil. A cada retorno do bumerangue, a Outback tem que se adaptar a um cenário econômico que muda rapidamente, enfrentando questões que vão desde a gestão de custos até a adaptação às preferências locais, que são influenciadas por uma série de fatores socioeconômicos e culturais.
No entanto, a história da Outback no Brasil também é um testemunho de resiliência. A marca conseguiu manter uma base de clientes leal e adaptar seu modelo de negócios às necessidades locais, mesmo em face de desafios significativos. A empresa introduziu inovações no menu e ajustou suas estratégias de marketing para atrair e reter clientes, esforçando-se para manter a relevância em um mercado competitivo.
O futuro do Outback no Brasil continua incerto. A empresa enfrenta escolhas difíceis enquanto navega por um dos mercados mais imprevisíveis do mundo. No entanto, a história da Outback aqui é uma lição de que, mesmo para uma marca global bem-sucedida, adaptar-se e inovar continuamente é crucial para sobreviver e prosperar. Assim, o bumerangue australiano continua em movimento, sempre em busca de equilíbrio entre manter suas raízes e adaptar-se a um ambiente em constante mudança.
Sobre o autor:
André Charone é contador, professor universitário, Mestre em Negócios Internacionais pela Must University (Flórida-EUA), possui MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela FGV (São Paulo – Brasil) e certificação internacional pela Universidade de Harvard (Massachusetts-EUA) e Disney Institute (Flórida-EUA).
É sócio do escritório Belconta – Belém Contabilidade e do Portal Neo Ensino, autor de livros e dezenas de artigos na área contábil, empresarial e educacional.
André lançou dois livros com o tema “Negócios de Nerd”, que na primeira versão vendeu mais de 10 mil exemplares. Os livros trazem lições de gestão e contabilidade, baseados em desenhos e ícones da cultura pop.