A participante do BBB24, Fernanda Bande, se tornou assunto nas redes sociais após tecer uma crítica à concorrente de reality, Beatriz Reis, a chamando de “dodói” e afirmando que “faltavam cromossomos” na participante. Através de seus perfis oficiais, a equipe da sister se manifestou reconhecendo o erro nas falas da confeiteira.
A fala que viralizou ocorreu na noite desta segunda-feira (18), durante uma conversa na área externa da casa do programa. “Eu acho ela dodói, tipo de dodói mesmo. Está faltando cromossomos ali […] Vocês ficam falando que não pode falar essas coisas… Eu estou falando porque acho ela dodói. Eu acho que ela tem problema, não acho nada normal ali. Fico até com medo de falar, às vezes, porque eu acho que é uma questão de laudo [médico]”, afirmou Fernanda.
A fala viralizou e gerou polêmica nas redes sociais. Usuários no X (antigo Twitter) repudiaram a afirmação da participante. O assunto tomou ainda maior proporção com internautas comentando que ela não deveria fazer afirmações capacitistas, principalmente por ser mãe de uma criança autista.
De acordo com a neuropsicóloga e pesquisadora do CPAH – Centro de Pesquisa e Análises Heráclito, Leninha Wagner, utilizar “ter cromossomos a menos” de maneira pejorativa é um comportamento que não deve ser repetido em sociedade. “Há diversas condições e síndromes que são percebidas com a falta ou ausência de partes de cromossomos. Mas isso não torna alguém ‘problemático'”, afirma Leninha.
Segundo Wagner, a Síndrome de Cri-du-Chat, por exemplo, ocorre quando uma parte do cromossomo 5 está ausente, levando a atrasos no desenvolvimento, dificuldades de aprendizagem e problemas de fala. Já a Síndrome de Wolf-Hirschhorn é caracterizada pela deleção de uma parte do braço curto do cromossomo 4, trazendo características faciais distintas, atraso no crescimento e desenvolvimento, deficiência intelectual e problemas de saúde variados. A Síndrome de Criptocromossoma 22 conhecida como Síndrome de DiGeorge, resulta da deleção de uma parte do cromossomo 22. Ela pode causar uma série de problemas de saúde, incluindo defeitos cardíacos congênitos, dificuldades de aprendizagem e problemas imunológicos.
A Síndrome de Turner é a condição mais conhecida, e ocorre em mulheres que têm apenas um cromossomo X, em vez de dois. Isso resulta em características físicas distintas, como baixa estatura, disfunção ovariana e anomalias cardíacas congênitas. “Isso varia de uma anomalia genética rara, que afeta exclusivamente mulheres. Ela ocorre devido à ausência parcial ou total de um dos cromossomos X nas células do corpo. Uma das características mais proeminentes da Síndrome de Turner é a baixa estatura. As meninas afetadas geralmente apresentam um crescimento mais lento durante a infância e a adolescência, resultando em uma estatura final abaixo da média”, afirma a neuropsicóloga.
Além disso, muitas mulheres com Turner experimentam disfunção ovariana, o que se manifesta como a ausência de menstruação e infertilidade. “A causa subjacente dessa disfunção é a falha dos ovários em se desenvolver adequadamente, levando à produção insuficiente de hormônios sexuais. Anomalias cardíacas congênitas também são comuns em indivíduos com Síndrome de Turner. Estenose da aorta, defeitos no septo cardíaco e válvulas cardíacas anormais são algumas das condições cardíacas que podem estar presentes”, destaca a pesquisadora do CPAH.
O apoio psicológico e educacional é fundamental para ajudar essas pessoas a responder os desafios únicos que enfrentam.
De acordo com a especialista, o tratamento dessas síndromes são multidisciplinares, e visam abordar os sintomas específicos de cada indivíduo. Cada uma delas apresenta uma variedade de sintomas e complicações, e o tratamento geralmente é direcionado para gerenciar esses sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes afetados.
Segundo a profissional, chamar pessoas com menos cromossomos, como aquelas que têm síndromes genéticas de “dodóis” da cabeça é não apenas impreciso, mas também profundamente desrespeitoso e prejudicial. “Essas comparações são baseadas em estereótipos antiquados e falta de compreensão sobre as complexidades das condições genéticas. Cada pessoa é única, independentemente de sua constituição. Cada indivíduo tem suas próprias habilidades, talentos e potenciais únicos, e reduzi-los a um estigma simplista é triste”, pondera Leninha.
De acordo com Wagner, é importante olhar além da condição de uma pessoa e reconhecer sua humanidade, suas contribuições e suas experiências. “Essas afirmações perpetuam o estigma em torno das deficiências e das diferenças, o que pode levar à discriminação, exclusão social e marginalização desses indivíduos”, finaliza a neuropsicóloga.
“Não existe desculpa plausível capaz de apagar ou diminuir a dor de todos PCDs e suas famílias nesse momento. Fernanda errou e ponto. Independente da intenção, foi uma fala infeliz”, afirmou a equipe da participante em nota.