O Brasil terá que produzir 5,4 bilhões de mudas nativas até 2030 para atingir a meta de reflorestar 12 milhões de hectares, cumprindo o que se comprometeu a fazer no Acordo de Paris para baixar suas emissões de carbono. No entanto, sobram desafios para que o país consiga atingir tais patamares de regeneração florestal. Sem linhas de créditos específicas e com poucas políticas públicas direcionadas, o mercado de viveiros de mudas nativas deve se manter no patamar de 300 milhões de mudas por ano, volume insuficiente para o país atingir o compromisso firmado globalmente.
“É claro que alguma coisa já foi plantada, mas o número é tão pequeno que não chega nem a 1 milhão de hectares restaurado. Para atingir o previsto no Acordo, seria necessário plantar cerca de 1 bilhão de mudas por ano”, calcula Rodrigo Ciriello, colíder da Força-Tarefa Silvicultura de Nativas da Coalizão Brasil. “Precisamos de linhas de crédito específicas para este tipo de atividade. Sem isso, nascemos com uma promessa morta. Não tem nem como ser atingida, porque não começou nem da base.”
De acordo com Ciriello, um dos desafios para os viveiristas é a necessidade de alocação de um grande investimento, de seis a oito meses antes da comercialização, para a produção da capacidade total de mudas nativas de cada viveiro. A instabilidade do mercado é outro entrave, já que as negociações das maiores demandas acabam acontecendo no fim da produção da muda, jogando os valores para baixo no momento da venda. O que não vai para o mercado, dentro do prazo, acaba sendo descartado.
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“É preciso comprar substrato, adubo, a própria semente, pagar toda mão de obra que envolve a produção, marketing para venda das mudas, e, muitas vezes, o aluguel da área onde está o viveiro. É uma produção que exige grande investimento antecipado. O produtor, que na maior parte das vezes é médio, pequeno, pega dinheiro com juros altíssimos para produzir esta muda nos bancos comerciais ou cooperativas de crédito e, depois, na hora de vender, o mercado o pressiona a baixar o preço. Muitas vezes, a conta não fecha”, explicou Ciriello.
Geração de emprego
O fortalecimento do setor de restauração de paisagens e florestas está na lista das 33 recomendações elencadas pela Coalizão no documento “O Brasil que vem”, endereçado em novembro de 2022 a autoridades e governos eleitos.
A estruturação de um programa nacional voltado a essa atividade pode gerar mais de 2,5 milhões de empregos, se considerados os esforços para cumprimento da meta climática (NDC) enviada pelo Brasil ao Acordo de Paris.
Ciriello destaca a silvicultura de espécies nativas como um mercado que pode ajudar na geração destas novas vagas. Para isso, no entanto, são necessários investimentos em pesquisa e desenvolvimento e fomentos por parte do governo. “É preciso criar políticas públicas que incentivem a silvicultura, levando investimentos para viabilizar projetos de restauração ecológica com viés produtivo de áreas degradadas de reserva legal.”
Sobre a Coalizão
A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura é um movimento composto por mais de 390 organizações, entre entidades do agronegócio, empresas, organizações da sociedade civil, setor financeiro e academia. A rede atua por meio de debates, análises de políticas públicas, articulação entre diferentes setores e promoção de iniciativas que contribuam para a conservação ambiental e o desenvolvimento socioeconômico do Brasil.
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