O primeiro estudo sobre a oitava onda de calor a atingir o Brasil este ano, entre os dias 13 e 19 de novembro, indica que o evento foi de 1°C a 4°C mais quente do que teria sido em condições climáticas do passado. O evento é em grande parte único no histórico de registros de dados, diz a análise, conduzida por um grupo de cientistas da França, Itália e Suécia. A pesquisa sugere que o aquecimento global contribuiu para as altas temperaturas experimentadas no país.

O estudo faz parte do projeto ClimaMeter, uma colaboração entre cientistas de várias instituições internacionais para estudar eventos climáticos extremos logo após a sua ocorrência e que conta com financiamento da União Europeia. As análises – que não são propriamente estudos de atribuição – estimam o papel da variabilidade climática natural e do aquecimento global na frequência e intensidade desses eventos. Para isso, os cientistas usam observações históricas feitas por satélite e avaliam como eventos climáticos semelhantes eram no passado, durante o período 1979-2000, em comparação a como são hoje, no período 2001-2022.

No estudo do Brasil, a análise mostrou que as ondas de calor no país são hoje mais quentes, mais secas e com menos vento. A avaliação também conclui que a frequência desses eventos durante o mês de novembro têm aumentado nas últimas duas décadas.

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Durante a oitava onda de calor de 2023, o Brasil registrou sua temperatura mais alta: 44,8°C na cidade de Araçuaí (MG), segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), ultrapassando o recorde nacional anterior de 44,7°C estabelecido em 2005. Alertas vermelhos foram emitidos em todo o país devido ao calor extremo.

“É impressionante ver uma onda de calor tão severa antes mesmo do início do verão meteorológico no Brasil” diz Gabriele Messori, da Universidade Uppsala, na Suécia.

“As temperaturas percebidas extremamente altas, dadas pelas condições muito quentes e úmidas, tornaram este um evento impactante, e nossa análise indica que as altas temperaturas foram em parte exacerbadas pelas mudanças climáticas causadas pelo homem. Essa tendência está projetada para continuar no futuro de acordo com o IPCC”, afirma Messori.

“O Brasil viveu uma onda de calor sem precedentes para esta época do ano”, diz Davide Faranda, do IPSL-CNRS, da França. “As temperaturas recordes, combinadas com os altos níveis de umidade, desencadearam condições mortais que afetam não apenas indivíduos vulneráveis, mas também os jovens, como evidenciado pelo incidente no show de Taylor Swift.”

Embora as mudanças climáticas causadas pelo homem possam ter contribuído para a intensidade do evento registrado no Brasil, fontes de variabilidade climática natural, especialmente a Oscilação Decadal do Pacífico e a Oscilação Multidecadal do Atlântico, provavelmente também desempenharam um papel na condução do padrão de pressão e no aumento associado das temperaturas, diz a pesquisa.
A análise afirma que as Anomalias de Pressão na Superfície mostram variações negativas na parte sul do domínio analisado, enquanto as Anomalias de Temperatura mostram que grandes áreas do sul do Brasil alcançam temperaturas até 8°C mais altas do que indica a literatura de climatologia. Dados de precipitação mostram que este período também foi caracterizado por condições secas na maior parte do Brasil, e os dados de velocidade do vento mostram valores baixos em toda a região considerada no estudo.
As conclusões estão em linha com as previsões regionais do relatório AR6 do Painel Intergovernamental de Mudança Climática da ONU (IPCC), publicado em 2021. A análise da ONU indica que há alta confiança de que as ondas de calor aumentarão em frequência e intensidade sobre a maioria das áreas terrestres da América do Sul – e há alta confiança de que isso se deve às mudanças climáticas antropogênicas (p. 1532), adicionalmente a uma variabilidade regional marcada.
O relatório do IPCC afirma ainda que: “o aumento esperado na temperatura também exporá as populações das grandes cidades ao calor extremo” (p. 1711) e que há uma confiança média de que vários efeitos adversos de temperaturas mais altas afetarão populações urbanas.
As temperaturas elevadas levaram a um aumento repentino no consumo de energia devido ao maior uso de ar condicionado. A sensação térmica chegou a 59,7 °C no Rio de Janeiro e exacerbou as desigualdades sociais, afetando especialmente os residentes de baixa renda que vivem em habitações precárias e não têm acesso a recursos de resfriamento.
“Nosso estudo indica que essas condições são exacerbadas pela mudança climática causada pelo homem, uma tendência projetada para continuar no futuro, de acordo com o IPCC. Os relatórios iniciais também indicam que a população é afetada de forma desigual por essa onda de calor, dependendo da riqueza, enfatizando a necessidade de medidas para garantir uma adaptação justa a esses fenômenos”, conclui Faranda.

 

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Onda de calor no Brasil foi de 1°C a 4°C mais quente do que teria sido no passado, diz estudo

 

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