O poeta português Fernando Pessoa, na “Nota Preliminar” de seu célebre livro “Mensagem”, aponta que “o entendimento dos símbolos e dos rituais (simbólicos) exige do intérprete que possua cinco qualidades ou condições, sem as quais os símbolos serão para ele mortos, e ele um morto para eles.”

A prática do exercício de interpretação do conhecimento, nesse sentido, é muito salutar. Cada obra, com uma poética a ser desenvolvida, estabelece para o observador um mergulho em um universo visual distinto.
A primeira qualidade que Pessoa aponta naquele que se propõe a se aventurar na leitura de um trabalho artístico é a simpatia. Ele a considera a mais simples e consiste no observador “sentir simpatia pelo símbolo que se propõe interpretar”. Para cada criador, porém,  isso funciona de uma forma, o que torna o desafio de fruição por parte do público um deleite repleto de peculiaridades.
Pessoa aponta como segunda qualidade a intuição, que define como “aquela espécie de entendimento com que se sente o que está além do símbolo, sem que se veja”. Trata-se de uma caminhada no universo da sensibilidade e do lirismo.
A terceira qualidade é a inteligência. Ela “analisa, decompõe, reconstrói noutro nível o símbolo”. Cria-se aqui um desafio maior, pois esta habilidade decorre das duas primeiras, no sentido de compreender a inteligência como uma leitura do mundo.
Compreensão é a quarta qualidade considerada por Pessoa. Definida como “o conhecimento de outras matérias, que permitam que o símbolo seja iluminado por várias luzes, relacionado com vários outros símbolos, pois que, no fundo, é tudo o mesmo”. Não se trata da procura de uma síntese ou da soma do fazer de um artista, mas do entendimento de como a  mente de cada um deles funciona na articulação de significados.
A quinta qualidade pessoana é, segundo ele mesmo, “a menos definível”. Chama-a de “graça”, “mão do Superior Incógnito” ou “Conhecimento e a Conversação do Santo Anjo da Guarda”. Ele não a explica, mas se faz entender. Indica que se trata daquele aquele algo a mais que exige as qualidades anteriores e parece separar o artista do artesão e o criador de imagens do mero reprodutor de conceitos.
Assim, simpatia, intuição, inteligência, compreensão e graça constituem dados essenciais para a interpretação da arte e do mundo, desafios que necessitam ser enfrenatdos com emoção, racionalidade e  criatividade, sem dogmatismos ou preconceitos, com a mente e o coração abertos para inúmeras possibilidades.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.