A relação entre atividade física, comportamento sedentário e saúde mental em adolescentes tornou-se um ponto focal de preocupação, particularmente porque esses comportamentos do adolescente podem aumentar a vulnerabilidade ao suicídio. Um estudo abrangente da Universidade de Queensland na Austrália, envolvendo mais de 200 mil estudantes em 52 países de baixa e média renda, revelou insights críticos sobre como fatores de estilo de vida desempenham um papel significativo no bem-estar mental dos nossos jovens. Os dados, derivados da Pesquisa Global de Saúde Escolar, apontam para uma ligação preocupante entre alto comportamento sedentário, baixa atividade física e aumento da suscetibilidade a pensamentos e comportamentos suicidas entre adolescentes, isto é, quando menos atividade física e mais sedentário um jovem se torna maior o risco dele ter pensamentos de desesperança que podem elevar seu risco ao suicídio.
O suicídio é uma das principais causas de morte entre adolescentes e está intrinsecamente conectado a questões de saúde mental, sendo a depressão um dos maiores contribuintes. A importância de identificar e abordar fatores de risco para o suicídio não pode ser superestimada, dado seu profundo impacto em famílias, comunidades e sistemas de saúde em todo o mundo. Os achados deste estudo são particularmente alarmantes, pois revelam que adolescentes que se engajam em altos níveis de sedentarismo em tempo livre (mais ou menos 3 horas/dia) estão em maior risco para ideação suicida, planejamento e de fato tentativas. Esta associação foi observada independentemente do gênero, destacando o impacto universal de estilos de vida sedentários na saúde mental.
Além disso, o estudo delineia uma vulnerabilidade específica de gênero, com atividade física insuficiente (<60 minutos/dia) ligada a uma maior probabilidade de planejamento e tentativas suicidas entre adolescentes do sexo masculino. Isso sugere que a inatividade física pode exacerbar desafios de saúde mental de maneira diferente entre os gêneros, necessitando de abordagens adaptadas para abordar esses riscos.
O efeito combinado de baixa atividade física e comportamento sedentário sublinha uma área crítica para intervenção, sugerindo que promover um estilo de vida ativo poderia ser um componente chave de estratégias de prevenção ao suicídio, especialmente em ambientes com recursos limitados. Dado o estágio de desenvolvimento dos adolescentes, integrar atividade física em suas rotinas diárias poderia oferecer um benefício duplo de melhorar a saúde mental e reduzir a vulnerabilidade ao suicídio.
Essa percepção está alinhada com o crescente corpo de pesquisa que defende intervenções de promoção de saúde integradas à escola, que visam construir resiliência e aumentar fatores protetores entre adolescentes. Intervenções baseadas em mindfulness (MBIs), por exemplo, emergiram como uma abordagem promissora para fortalecer a saúde mental dos adolescentes, com evidências sugerindo sua eficácia em melhorar o bem-estar emocional, otimismo e comportamentos de estilo de vida saudável, incluindo exercício físico. Tais intervenções, quando integradas ao currículo escolar, não apenas abordam desafios de saúde mental, mas também promovem um ambiente de apoio propício ao desenvolvimento de adultos saudáveis e funcionais.
Intervenções baseadas em mindfulness ajudam jovens a reconhecerem os sinais da depressão e da ansiedade, e lidarem com esses estados de uma maneira gentil e sem julgamento. Essas intervenções podem envolver exercícios simples de foco na respiração em momentos de estresse, para trazer leveza ao estado mental e emocional, assim como intervenções mais espontâneas de vivendo mais no presente momento, como comer com mais consciência, caminhar sentindo os pés no chão, ou simplesmente desacelerando no dia a dia.
A importância de abordar problemas de saúde mental na adolescência não pode ser superestimada, dado o seu potencial para levar a problemas psiquiátricos mais graves na idade adulta. Determinantes-chave da doença mental em adolescentes, como baixo status socioeconômico, isolamento social e falta de apoio, destacam a natureza multifacetada dos desafios de saúde mental. Consequentemente, as intervenções devem ser holísticas, abordando tanto os fatores psicológicos quanto de estilo de vida que contribuem para os problemas de saúde mental. A evidência do estudo enfatiza a necessidade de intervenções que reduzam o comportamento sedentário e incentivem a atividade física como parte de uma abordagem abrangente para a prevenção do suicídio.
Os estudos recentes no campo da saúde mental na adolescência, sugerem uma associação entre baixa atividade física, alto comportamento sedentário e um aumento na vulnerabilidade suicida entre adolescentes em países de baixa e média renda, e portanto é imperativo que pais, educadores e profissionais de saúde mental estejam atentos a essa realidade. Uma realidade que exige uma abordagem integrada de intervenções de saúde mental e estilo de vida. Promovendo estilos de vida ativos e incorporando práticas de mindfulness, que ajudem esses jovens a se tornarem mais habilidosos no reconhecimento do estresse e como lidar com pensamentos negativos assim como emoções no seu dia a dia.
Este é o segundo artigo de uma série sobre o tema “Suicídio”, que pretendo publicar aqui com o intuito de promover esse debate urgente e necessário para a sociedade. Além disso, convido você a conhecer mais sobre as pesquisas e os métodos de tratamento de saúde mental com Mindfulness, por meio do site: www.brasilmindfulness.com.
Vitor Friary é psicólogo clínico especializado em Terapia Cognitiva Baseada em Mindfulness e diretor do Centro de Mindfulness. Tatiana Moya é psiquiatra da infância e da adolescência.