Depois de anos fazendo o Brasil rir com seu talento e carisma, o humorista e influenciador Whindersson Nunes decidiu pausar. No fim de maio de 2025, ele anunciou um afastamento das redes sociais por 30 dias. Segundo seu empresário, Alex Monteiro, a decisão foi motivada por um esgotamento emocional: “Se você não parar para cuidar da sua mente, uma hora ela te para.” A notícia reacendeu um debate urgente — o preço invisível pago por quem vive da própria imagem.
Esse caso simbólico escancarou uma verdade desconfortável: a identidade de muitos influenciadores está sendo engolida por métricas, likes e personagens digitais. E o resultado? Uma geração de criadores esgotados emocionalmente, desconectados de si mesmos e à beira do colapso psíquico.
A psicóloga Danny Silva especialista em identidade, propósito e saúde emocional, acende um alerta: “A pressão por engajamento constante tem transformado influenciadores em personagens que, pouco a pouco, sufocam o verdadeiro ‘eu’. Quando a busca por likes se sobrepõe à autenticidade, a identidade entra em colapso.”
“O caso de Whindersson expõe algo mais profundo do que apenas o peso dos likes: ele revela a dor de quem sofre em silêncio, performa felicidade em meio ao caos interno e adoece tentando manter a própria imagem de pé”, complementa Danny Silva.
Segundo dados da International Journal of Environmental Research and Public Health (2023), mais de 70% dos influenciadores digitais relatam níveis moderados a graves de ansiedade, depressão ou exaustão mental, relacionados diretamente à pressão de manter relevância online.
Do conteúdo à performance: quando a verdade se apaga
A exigência de entregar conteúdo diário e manter a relevância faz com que muitos criadores passem a produzir não mais com base em quem são, mas no que o algoritmo deseja. Com isso, o conteúdo deixa de ser uma extensão natural do indivíduo e se torna um produto ensaiado, repetido e, muitas vezes, emocionalmente tóxico.
“O influenciador começa a interpretar um papel e não percebe que está, aos poucos, deixando de ser ele mesmo. A consequência? Uma mistura entre vida real e personagem, onde não há mais clareza sobre quem se é fora das telas”, explica Danny Silva.
Os efeitos colaterais do sucesso digital
Sustentar um personagem digital tem prazo de validade. Segundo a psicóloga, essa desconexão com a própria identidade costuma durar meses ou, no máximo, poucos anos — tempo suficiente para desencadear sérios prejuízos emocionais. Entre os mais comuns, estão:
- Crises de ansiedade
- Burnout digital
- Quadro depressivo
- Despersonalização (sensação de não se reconhecer mais)
- Queda de autoestima
- Medo constante de ser cancelado
Reconstrução: o caminho de volta ao eu real
Mas há um caminho de retorno. De acordo com Danny, o processo de cura começa quando o influenciador para de alimentar a falsa persona e decide olhar para dentro. Esse reencontro passa por:
- Resgate de valores, crenças e propósito original
- Acompanhamento terapêutico para reorganização interna
- Estabelecimento de limites digitais
- Autopermissão para ser imperfeito e vulnerável
“É preciso lembrar que ser autêntico dá mais trabalho, mas é o que sustenta a sanidade mental a longo prazo”, reforça a especialista.
Sem propósito, qualquer aplauso é vazio
A confusão identitária gerada pela vida digital também pode afastar o influenciador de sua missão. Ao trocar o propósito pessoal pela necessidade de aprovação pública, muitos acabam sobrevivendo financeiramente, mas adoecendo emocionalmente.
“O propósito organiza a identidade. Ele é o alicerce que dá força diante das críticas, das fases de baixa e das frustrações. Sem isso, a saúde mental desaba”, afirma Danny.
Ser real é mais forte que ser relevante
Na era onde a aceitação digital virou moeda de valor social, a reflexão é urgente: Quem você é quando não está online?
Como afirma Danny Silva, “quem não tem clareza de quem é, se torna refém do que os outros esperam.” E a longo prazo, nenhum filtro digital é capaz de esconder a dor de uma identidade perdida.