Duas notícias: 1- Juiz concede liminar proibindo participantes dos ???rolezinhos??? – eventos em que jovens da periferia adentram centros comerciais para, à sua maneira, se divertirem – de ingressarem em Shopping Center elitizado em São Paulo. Na decisão os jovens são vistos como ameaça e os interesses comerciais dos lojistas e consumidores do shopping aparecem acima do direito de ir e vir.
No domingo há repressão policial e esses jovens que não cometeram crime algum são revistados, detidos e proibidos de entrar no templo do consumo da classe média paulistana.
2 ??? Em uma noite, 12 pessoas são assassinadas em Campinas, a maioria delas jovens da periferia, supostamente envolvidas no assassinato de um policial.
Entre o primeiro e o segundo fato há algo em comum: os protagonistas são em sua maioria jovens, negros e da periferia. Estabelecer relação entre os casos talvez nos ajude a entender melhor o problema da histórica exclusão social e seu efeito direto sobre a violência urbana. Bem sabemos que não é a pobreza, e sim a desigualdade, que impulsiona ações violentas de parte a parte.
As ações discriminatórias da Justiça e da PM, e suas pífias justificativas, são mostras de instituições que perpetuam a lógica da Casa Grande. Um passo importante para combatê-la seria a aprovação do PL 4471/12, do Deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que acaba com os autos de resistência, artifício utilizado para encobrir execuções cometidas por policiais, retroalimentando esse ciclo.
Igualmente, a inédita ascensão social vista nos últimos anos precisa ser acompanhada por uma urgente mudança cultural que apresente valores alternativos aos impostos secularmente por nossas elites. Enquanto nossa sociedade eivada pela separação Casa Grande x Senzala não combater seus resquícios autoritários continuaremos a ler tristes notícias de exclusão e extermínio dos jovens.
Vinícius Ghizini, historiador, membro da Executiva do PT na Macrorregião de Campinas.