Estudantes de Design de Moda apresentam peças com foco em inovação sustentável e upcycling
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Os estudantes do Curso de Design de Moda da PUC-Campinas apresentaram, no último dia 10 de dezembro, na Sala 800 do prédio H01, à representantes da confecção de moda masculina Aramis e do Movimento Sou de Algodão, projetos desenvolvidos com foco em conscientização ambiental e inovação sustentável e que destacassem práticas de upcycling.
A ação, que visou engajar os participantes a praticarem a sustentabilidade na indústria da moda e mostrar para o público a importância deste ato, foi a ação final do projeto integrador do Módulo 6 (de um total de 8) do Curso, intitulado Prototipagem, que objetiva a realização de protótipos (uma versão inicial de um produto ou serviço, para testar ideias e validar funcionalidades).
Doze grupos, com, em média, seis alunos cada, foram desafiados a resolver o case proposto pela grife dentro do conceito “Reciclando 1 Look”, onde foi necessário criar, desenhar e prototipar uma peça inovadora e sustentável que refletisse a identidade da Aramis a partir de refugos têxteis das fábricas da empresa. Durante o processo, os alunos e alunas puderam transformar peças-chave do guarda-roupa masculino em looks para diversas ocasiões, alinhando criatividade e sustentabilidade.
A banca de avaliação dos trabalhos foi composta pelo gerente de Estilo da Aramis, Victor Medeiros; pela estilista da empresa, Noelle Ferreira; e pela gestora de Relações Institucionais do Movimento Sou de Algodão, Manami Kawaguchi.
Os três componentes julgaram a qualidade dos trabalhos, não por uma visão acadêmica (o que ficou, posteriormente, a cargo dos professores da Universidade), mas de mercado, visando agregar valor aos projetos desenvolvidos.
Maior diálogo com o mercado
De acordo com a coordenadora do Curso de Design de Moda da PUC-Campinas, Profa. Ma. Roseana Sathler Portes Pereira, a parceria com a Aramis e com o Movimento Sou de Algodão é algo “muito importante e que contribui com o nosso curso ao possibilitar um diálogo cada vez maior com o mercado e com diversos estilistas que são inspirações para os nossos estudantes”.
Ela continua dizendo que a parceria com o Movimento Sou de Algodão, especificamente, que já vem desde 2022, tem rendido a realização de inúmeras atividades, incluindo uma experiência imersiva na cadeia produtiva do algodão, realizada em maio do ano passado em uma plantação de cinquenta hectares entre as cidades de Paranapanema e Itaí, no interior paulista, e uma visita técnica à São Paulo Fashion Week, maior evento de moda do Brasil e o mais importante da América Latina, no último mês de dezembro.
“Essa parceria tem sido muito importante para nós e, agora, com a chegada da Aramis e esse desafio lançado por eles para que os alunos e alunas trabalhassem em um projeto sustentável, utilizando refugos têxteis para criar novos produtos, só mostra o bem que a presença da empresa fez ao Curso”, ressalta a professora Roseana. Ela continua dizendo que antes dessa ação, “os estudantes tiveram diversas aulas de costura, modelagem (desenvolvimento e criação de moldes sobre os quais roupas e acessórios podem ser costurados), moulage (técnica de modelagem tridimensional que consiste em construir um modelo de roupa diretamente sobre um manequim ou modelo vivo e que permite criar peças com ajuste perfeito e design exclusivo), modelagem digital (técnica que permite criar modelos de forma on-line, através de softwares especializados e que pode ser utilizada em diversos contextos, como na confecção de roupas, na modelagem de terrenos e no marketing digital) e afins e tudo isso culminou agora nesse projeto”.
Sobre a realização do upcycling e de se trabalhar a inovação sustentável, a coordenadora explica que é muito importante formar designers que tenham uma “visão projetual sustentável”, uma vez que a indústria têxtil é uma das que mais poluem o meio ambiente e que, por isso mesmo, “a gente incentiva os alunos e alunas a criarem projetos com reaproveitamento, refletindo sobre a circularidade desses produtos e o que vai acontecer com eles no final de seu ciclo de uso, pois é preciso pensar, não só na sustentabilidade ambiental, mas também na social, e esse projeto veio para reforçar ainda mais essa visão, que permeia todas as disciplinas do Curso”.
Ela lembra ainda que os estudantes puderam trabalhar durante todo o semestre de forma coletiva, em equipe, e que o projeto acabou se transformando em “um processo de desenvolvimento de competências humano-afetivas, o que é imensamente importante para a sua formação”.
Para dentro da porteira da fazenda
A gestora de Relações Institucionais do Movimento Sou de Algodão, Manami Kawaguchi, explica que existe todo um trabalho realizado pela entidade para estruturar a produção de algodão com sustentabilidade, rastreabilidade e qualidade e que “nós sempre quisemos que todos os públicos conhecessem o que é realizado para dentro da porteira da fazenda” e que “essa aproximação com os estudantes de moda é muito importante porque a gente consegue mostrar como isso é feito dentro de casa e como pode ser transformado em algo valioso para a moda brasileira”.
Ela comenta que “desde 2018, a gente vem desenvolvendo trabalhos com o público estudantil, levando a ele bastante conteúdo, mas nós queríamos trabalhar ainda mais fortemente esse pilar educacional, então, a partir de 2022, nós começamos a realizar parcerias com as universidades e a PUC-Campinas foi a nossa primeira parceira no Estado de São Paulo e nós estamos muito felizes com ela, pois é uma das instituições de ensino superior mais ativas neste tipo de acordo, com diversas ideias de projetos em conjunto e é com esse olhar, de preparar o estudante, de levar a informação a ele e de educá-lo, é que a gente pretende alcançar um impacto mais positivo para a moda brasileira daqui para frente”.
Projeto em conjunto
Manami explica que, na atualidade, o Movimento Sou de Algodão conta com quase 1.700 marcas parceiras, sendo uma delas, a Aramis. Segundo ela, “a Aramis é uma das marcas de moda mais engajadas, então a gente ficou muito feliz em saber que ela estava fechando essa parceria com a PUC-Campinas e nós resolvemos juntar forças, pois eles têm um olhar muito importante para a sustentabilidade no setor têxtil e que se alinha muito com o nosso olhar de sustentabilidade. Por isso a gente resolveu construir esse projeto em conjunto”.
“Esse cooperação tem uma importância enorme e foi um desafio para o qual a gente olhou com muito carinho, porque os estudantes foram desafiados a utilizarem resíduos têxteis de algodão, uma matéria-prima que nos representa, transformando-os em novos produtos, que é algo que o mercado está realmente demandando, e a gente sabe que a moda é um dos grandes poluidores do meio ambiente, não só em virtude das matérias-primas que são utilizadas, mas, principalmente, pelo excesso de produção e pela forma errada de descarte, que acontece, em grande parte, na confecção, então é muito importante começar a se preocupar com a utilização desses resíduos, que são matérias-primas úteis e que podem ser utilizadas na concepção de outros itens. A gente sabe que existem desafios técnicos ainda para se produzir peças recicláveis em grande escala, mas se a gente, ao menos, ter o olhar de reuso e conseguir tornar o produto circular, ou seja, reutilizado e reinserido no processo produtivo, isso já será um grande avanço”, esclarece a gestora de Relações Institucionais do Movimento Sou de Algodão.
Manami diz que esse projeto pode ser o começo de algo recorrente e de maior escala a partir de agora e que “essa preocupação que a professora Rose (Sathler) teve em trazer esse tema da moda circular, de puxar os resíduos têxteis como matéria-prima para a produção dessas coleções, e a Aramis, como representante do mercado, de olhar para essas ideias e, de repente, poder torná-las viáveis em sua produção e conceber essas peças como um item de estoque para o seu público consumidor é super importante e de grande valor”.
O estoque de resíduos são peças ou rolos de tecidos que não foram utilizados, ou até mesmo um final de rolo que, às vezes, não é usado para uma produção em maior escala e, segundo Manami, a Aramis já vem, há algum tempo, tentando dar um destino útil a eles e os estudantes, com uma visão menos “amarrada” do mercado, conseguem trazer inovação, “então, isso é superpositivo, pois quando a gente consegue unir a academia com o mercado, nós temos um ambiente muito propício para fazer com que a inovação aconteça e nós, do Movimento Sou de Algodão, estamos muito felizes de ver esses resultados acontecerem, pois essas pequenas peças, que não são fabricáveis em larga escala para distribuição por uma rede, podem ser utilizadas para produtos em pequena escala, como algo exclusivo, talvez uma série especial ou uma coleção cápsula (mini coleção de roupas com um número reduzido de peças – geralmente entre oito e quinze – que são lançadas entre as grandes coleções, não necessariamente seguindo as estações do ano)”.
Compromisso com a sustentabilidade
A Aramis assumiu, em 2023, um compromisso com o Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, com abrangência em mais de 160 países, publicando, anualmente, um relatório que divulga a agenda de sustentabilidade da empresa e dá transparência aos seus processos e políticas internas.
Um dos pilares desse compromisso, segundo o gerente de Estilo da empresa, Victor Medeiros, “é desenvolver uma proximidade com instituições de ensino superior e viabilizar a educação, então, a gente, internamente, fazendo a revisão de nossos estoques, percebeu que havia muita matéria-prima parada e era preciso ressignificá-la. Por meio do time do Movimento Sou de Algodão e, em contato com a PUC-Campinas, nós pensamos em um projeto junto com os alunos e alunas do Curso de Design de Moda para que pudéssemos trazer esse conceito de sustentabilidade e upcycling aplicado ao produto e, lógico, dentro de uma estética voltada para o DNA da marca Aramis”.
Sobre os cases propostos, Victor explica ainda que um bate-papo já havia sido realizado com os estudantes sobre o processo criativo e produtivo dentro de uma coleção da Aramis “e eu trouxe para eles desde como a gente faz a pesquisa de moda, identifica quais são os produtos campeões de venda e ressignifica isso a cada coleção, ou seja, foi mostrado a eles quem é o ‘homem Aramis’. A gente trouxe um pouco de quem é a persona, o nosso cliente, e foi um momento muito especial. Eu me senti muito honrado em ter recebido esse convite para compartilhar um pouco do DNA da marca, um pouco do caminho dela e de como a Aramis vem atuando no mercado de moda masculina, fortalecendo, principalmente, esse pilar da sustentabilidade, pois isso vai ser uma pauta muito importante para a gente nos próximos anos. Esse será o foco e irá pautar o nosso desenvolvimento de produto cada vez mais. Inovação e sustentabilidade”.
O futuro do mercado da moda
Ele continua dizendo que os alunos e alunas entenderam “muito bem esse conceito de aliar, muito fortemente, a sofisticação, a praticidade e a versatilidade da Aramis com o conceito de sustentabilidade, porque a gente sabe que, nos dias atuais, a cadeia produtiva da moda é uma das mais poluentes do planeta, então a gente precisa olhar para esse cenário com muito cuidado, com muita dedicação e criar projetos, inclusive com as universidades, pois futuramente, essa turma de estudantes de agora será o futuro do mercado da moda, não só fazendo esse tipo de parceria, mas também trazendo para a gente parceiros que contribuam com essa visão de sustentabilidade para o negócio e a cadeia hoje não se sustenta mais se a gente não tiver esse olhar de preocupação, de cuidado com a sua estrutura, de quando a gente escolhe uma matéria-prima ou um aviamento (acessório, ferramenta ou material utilizado na moda, costura e artesanato, sendo parte do acabamento das peças, servindo para fechá-las, ajustá-las ou decorá-las) e pensa na durabilidade desse produto em seu ciclo de vida como um todo, então é muito importante nós conscientizarmos essa nova turma que está realizando a graduação para que eles tenham esse olhar, essa preocupação para com o futuro do mercado da moda nacional”.
Sobre a parceria com o Movimento Sou de Algodão, o gerente de Estilo da Aramis comenta que ela teve início em 2022, como parte do plano da empresa em trazer a sustentabilidade para dentro do negócio, “não só no momento de pensar um produto e no relacionamento com os nossos fornecedores, mas da nossa cadeia produtiva como um todo. Por isso mesmo, conseguir rastrear e entender se os nossos fornecedores estão tendo boas práticas é de extrema importância para que a gente fortaleça o pilar de sustentabilidade da marca, uma vez que o algodão é uma fibra muito importante para o nosso desenvolvimento de coleção, pois representa a base de mais da metade de tudo aquilo que produzimos”.
Verão Carioca
A aluna Marina Barbosa, do 6º semestre, explica que, para a apresentação, desenvolveu, junto a outras cinco estudantes, uma peça com a temática do verão carioca, usando algodão misturado a “um pouco de linho, que remete ao verão, por ser um tecido mais fresco, um material mais leve”.
Ela diz ainda que “nós também inserimos um bolso a prova d’água para o caso de a pessoa querer dar um pulinho no mar, sem ter se preparado para isso. Nós desenhamos a peça pensando em uma pessoa mais prática, despojada”.
Sobre o upcycling, ela diz que é o futuro, porque “é preciso ser sustentável e buscar pelo zero waste (iniciativa global que busca reduzir a produção de resíduos e promover um estilo de vida mais sustentável através do desperdício zero). Na nossa peça, a gente fez uma modelagem mais reta e, na hora de passar o molde para o tecido, tentamos não desperdiçar muito dele”.
Por fim, Marina ressalta ter gostado do projeto, “porque como a gente nunca tinha feito nada referente a área masculina, nós conseguimos trabalhar técnicas bem diferentes e foi possível expandirmos a nossa criatividade”.
Refúgios Urbanos
Larissa Caixeta, aluna do 4º semestre, trabalhou, junto a outras quatro colegas de classe, o conceito “Refúgios Urbanos”, cuja persona foi um CEO que busca refúgio em seu lar após um dia intenso de trabalho. Segundo ela, “ele vai para casa e quer se sentir confortável, mas, ao mesmo tempo, manter a estética social, estando sempre arrumado, até para si mesmo”.
Quanto ao upcycling, ela diz valorizá-lo muito e que as novas gerações têm de saber do que se trata, para que elas possam se utilizar de roupas que advenham dessa ideia e para que a gente “possa pensar mais no próximo e no futuro”.
Sobre a participação da Aramis e do Movimento Sou de Algodão no processo, ela diz achar “muito importante, principalmente para a nossa carreira, porque nós estamos nos incluindo no mercado e ter a experiência profissional de trabalhar com uma marca que é altamente reconhecida como a Aramis é algo simplesmente incrível”.
Clássico Reinventado
Roberta Pinheiro, estudante do 6º semestre, apresentou com mais cinco outras alunas, um trabalho com a proposta “Clássico Reinventado”. “Nós pegamos os refugos disponibilizados pela Aramis, fizemos uma pesquisa desk (também conhecida como pesquisa secundária, é um método de coleta e análise de dados já existentes para responder a uma pergunta ou problema sobre uma marca) e a trouxemos para um público moderno. A Aramis é muito conhecida por ter um público de ‘camisa de pai’, que é um pouco mais velho, e a nossa inspiração foi trazê-la para um público mais jovem, com cortes diferentes”.
Ela diz ainda que “a nossa peça é zero waste e composta 100% de algodão. Isso é muito importante porque você consegue dar uma nova vida à roupa e o meio ambiente e as pessoas agradecem. É bem melhor para o nosso mundo.
Sobre a parceria entre a Aramis e o Movimento Sou de Algodão ela também diz crer que esta é “uma experiência profissional incrível para a nossa carreira. Eu estou no sexto semestre, então eu ainda tenho mais um ano pela frente, e já ter essa oportunidade é algo que me faz ser muito agradecida, porque a marca está vendo a gente, vendo o nosso trabalho. Eu acho que é um passo inicial bastante grande para a nossa turma”.
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