Imagem rara. Felino selvagem negro na Mata Atlântica
Crédito: Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar_ Fundação Grupo Boticário
Uma fêmea melânica de gato-do-mato-pequeno (Leopardus guttulus) e seu filhote, com coloração comum da espécie, que varia de tonalidades entre amarelo-claro e castanho-amarelado com manchas escuras, foram registrados na Reserva Natural Salto Morato, área de Mata Atlântica mantida pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza em Guaraqueçaba (PR). O flagrante foi feito por pesquisadores do Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar – apoiado pela Fundação em parceria com o WWF-Brasil.
A peculiaridade do registro se dá pela coloração da fêmea, acompanhada do filhote com coloração comum. Embora o melanismo – que é uma condição genética em que um indivíduo produz quantidade excessiva de melanina, resultando em uma coloração escura da pele – seja relativamente comum para algumas espécies de felinos, o fenômeno é pouco observado na natureza.
“Esse registro foi muito bacana, pois conseguimos várias imagens da fêmea com seu filhote, cada um com suas características. É uma imagem difícil de ser registrada”, afirmou Roberto Fusco, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e coordenador do Programa, juntamente com a bióloga e Dra. Mariana Landis, e equipe de campo com os biólogos Gabriel Magezi e Victória Pinheiro na iniciativa idealizada pelo Ipec (Instituto de Pesquisas Cananéia) e Instituto Manacá. A captura das imagens foi feita no ano passado, por meio de armadilhas fotográficas, equipamentos que possuem câmera digital embutida com sensores de temperatura e movimento, permitindo o registro sem que haja contato com o animal.
Para Fusco, que é doutor em Ecologia e Conservação, o trabalho de monitoramento em áreas de conservação como a Reserva é importante para a produção de indicadores que ajudem a conhecer melhor as espécies e apontar caminhos para proteção. “Conseguimos mapear, monitorar e fazer estimativas da ocupação do território. Compartilhamos esses dados com as agências de conservação e os gestores das reservas. Eles apoiam a tomada de decisão, as metas dos Planos de Ação Nacional para Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção do ICMBio, além de estarem disponíveis para pesquisas científicas”, destaca o pesquisador.
Risco de extinção
O gato-do-mato-pequeno é um dos menores gatos selvagens das Américas e o menor felídeo (mamífero carnívoro) do Brasil, com aparência similar aos gatos domésticos. Pesa entre 1,8 e 3,5 kg, e seu corpo mede de 36 a 54 cm, com cauda entre 22 e 35 cm. A cor da sua pele varia de amarelo-claro ao castanho, com manchas escuras. A espécie se alimenta principalmente de mamíferos pequenos, como roedores, além de aves, lagartos, répteis, anfíbios e insetos. Tem hábitos diurnos e noturnos e costuma ser solitária.
O gato-do-mato-pequeno está nas listas oficiais de espécies ameaçadas de extinção do Ministério do Meio Ambiente e da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), classificado como vulnerável.
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A destruição das florestas e fragmentação de seu habitat são as principais ameaças, e ele também pode ser afetado pelo contato com outras espécies que transmitem doenças, como o gato doméstico.
Encontrada no Cerrado e, principalmente na Mata Atlântica, a estimativa é de que essa espécie, ainda pouco estudada, tenha uma densidade que varia de um a cinco indivíduos a cada cem quilômetros quadrados. É encontrado nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, além do Paraguai e no nordeste da Argentina.
Armadilhas fotográficas
A “câmera trap” ou armadilha fotográfica ajuda os biólogos e pesquisadores a identificarem muitas espécies de animais que não seriam observáveis em campo com outros métodos, permitindo um estudo privilegiado das espécies em seu habitat natural. A câmera funciona com sensores de movimento e infravermelho. Quando um animal passa pela frente do equipamento, fotos ou vídeos do momento são registrados.
A Reserva Natural Salto Morato faz parte da Rede de Monitoramento, iniciativa coordenada pelo Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar, como uma proposta de ação multi-institucional e colaborativa que permite a realização do maior monitoramento de grandes mamíferos em larga escala na Mata Atlântica. As ações da Rede de Monitoramento abrangem uma área de mais de 17.000 quilômetros quadrados de floresta contínua que engloba um mosaico e um grande corredor de áreas protegidas na Serra do Mar/Lagamar no Paraná e no sul de São Paulo, e conta com mais de 20 membros ativos, entre instituições públicas, privadas, moradores locais e gestores de Unidades de Conservação.
Resultados do programa
Segundo Fusco, somente em 2022, mais de sete mil imagens foram captadas em 96 pontos de armadilhas (dois deles na Reserva Natural Salto Morato) espalhadas pelas áreas de monitoramento do programa nos estados do Paraná e São Paulo. O trabalho já rendeu o registro de mais de 30 espécies de mamíferos desde que começou, em 2018, como continuação de uma trajetória de ações de pesquisa e conservação da vida selvagem que já dura 20 anos e que agora está focado em grandes mamíferos.
“É uma iniciativa que promove uma agenda comum de monitoramento e conservação. O envolvimento dos agentes é outro objetivo do programa, que engaja a comunidade, como moradores das regiões das reservas, contribuindo para o mapeamento local de ocorrências de espécies”, disse.
O programa contribui para melhorar o status de conservação de grandes mamíferos ameaçados de extinção, entre outras espécies ameaçadas ou alvos da caça ilegal, no maior remanescente de Mata Atlântica do país. Por meio da ciência, tecnologia e inovação, o Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar produz indicadores de biodiversidade para subsidiar tomadores de decisão e criar soluções para contribuir na persistência das espécies e no bem-estar humano.
Sobre o Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar
O Programa é uma iniciativa idealizada por pesquisadores do Instituto Manacá e do Instituto de Pesquisas Cananéia (IPeC), que tem como objetivo melhorar o status de conservação de grandes mamíferos ameaçados de extinção no maior remanescente de Mata Atlântica do país, em parceria com instituições ambientais e de pesquisa público-privadas, empresas e comunidade local. Por meio da ciência, tecnologia e inovação, o programa produz indicadores de biodiversidade para subsidiar tomadores de decisão e criar soluções para contribuir na persistência das espécies e no bem-estar humano. O Programa atua em três linhas de ação: Monitoramento em Larga Escala: produzindo indicadores de biodiversidade e apoiando os tomadores de decisão nas ações de proteção e manejo; Coexistência Humano-Fauna: reduzindo e prevenindo conflitos entre pessoas e grandes mamíferos, considerando o bem-estar humano e Marketing da Conservação: ampliando o engajamento da sociedade civil nas ações de conservação O diferencial do programa é o monitoramento em larga escala. São 17 mil km² de atuação nos estados de São Paulo e Paraná – uma área equivalente a 11 cidades de São Paulo.
Sobre a Fundação Grupo Boticário
Com 32 anos de história, a Fundação Grupo Boticário é uma das principais fundações empresariais do Brasil que atuam para proteger a natureza brasileira. A instituição atua para que a conservação da biodiversidade seja priorizada nos negócios e em políticas públicas e apoia ações que aproximem diferentes atores e mecanismos em busca de soluções para os principais desafios ambientais, sociais e econômicos. Já apoiou cerca de 1.600 iniciativas em todos os biomas no país. Protege duas áreas de Mata Atlântica e Cerrado – os biomas mais ameaçados do Brasil –, somando 11 mil hectares, o equivalente a 70 Parques do Ibirapuera. Com mais de 1,2 milhão de seguidores nas redes sociais, busca também aproximar a natureza do cotidiano das pessoas. A Fundação é fruto da inspiração de Miguel Krigsner, fundador de O Boticário e atual presidente do Conselho de Administração do Grupo Boticário. A instituição foi criada em 1990, dois anos antes da Rio-92 ou Cúpula da Terra, evento que foi um marco para a conservação ambiental mundial.
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