Aposentado relatou problema em caixa, com bilhete falso e até homens tentando convencê-lo

Vítimas preferenciais de estelionatários em crimes relacionados principalmente ao sistema bancário, os idosos não costumam ter paz na aposentadoria. Foi o que aconteceu com o aposentado M.C.H., de 70 anos, que na manhã desta quarta-feira (19) utilizava o caixa eletrônico 24h existente dentro do Supermercado São Vicente, em Nova Odessa. Ele relata ter sido vítima de uma tentativa de golpe por criminosos que queriam obter senhas e dados de seu cartão.

De acordo com relato do aposentado, ele utilizava o caixa para sacar dinheiro com o cartão da esposa quando percebeu algo diferente. “Começou a aparecer mensagem estranha, dizendo que o equipamento estava com problemas e que era preciso atualizar dados para seguir”, diz. Em seguida, houve a emissão de um bilhete impresso com um recado bastante estranho.

A mensagem, inclusive escrita sem pontuação correta, dizia o seguinte: “Prezado cliente evite o cancelamento do seu cartão nos caixas 24 horas atualize seu chip e códigos de acesso neste terminal a não atualização implicará em taxas de R$ 89,90 e bloqueio do cartão”.

Especialistas alertam, principalmente os idosos, vítimas preferenciais de estelionatários. Com a participação de comparsas, agem normalmente em pelo menos duas pessoas. Uma que vai aplicar o golpe e outra que reforça a tese defendida e as ‘instruções’ do principal.

Na sequência, um homem que estava na fila começou a interpelar o idoso, seguido por outro que estava próximo. “Um homem veio e falou que eu tinha de atualizar os dados, senão ia bloquear o caixa e ninguém mais ia conseguir usar. Aí outro apareceu e falou a mesma coisa”, descreveu.

O fato de haver outro terminal de caixa bem ao lado fez com que o aposentado imediatamente desconfiasse da situação. “Ainda bem que eu não dei continuidade”, acrescenta. O idoso então desconversou, retirou o cartão do caixa e foi embora do local sem atender às ‘recomendações’ dos homens.

Depois, entrou em contato com o banco por telefone, obteve a informação de que se tratava de um possível golpe e cancelou o cartão. “Disseram que nesses casos é (equipamento) chupa-cabras que colocam lá”, descreveu. No mesmo dia o aposentado entrou em contato com o supermercado para informar o ocorrido e funcionários disseram que iriam checar as câmeras de segurança.

Golpes

Segundo especialistas em segurança bancária, os golpes aplicados em caixas eletrônicos 24 horas que envolvem menções a taxas, multas ou bloqueios geralmente usam engenharia social para manipular a vítima a fornecer dados ou realizar operações financeiras. Os bancos não solicitam esse tipo de informação ou procedimento por telefone ou no próprio terminal de autoatendimento.

Dispositivos falsos são instalados sobre o leitor de cartão ou no teclado para copiar dados (clonagem). Câmeras escondidas também podem ser usadas para filmar a senha digitada. Nesse caso, a recomendação é não aceitar ajuda de estranhos. Além disso, verificar o terminal: se há algo estranho no caixa eletrônico (peças soltas, câmeras, adesivos diferentes dos demais terminais). Se notar qualquer irregularidade, não utilizar.

“É importante o alerta, para que outras pessoas não caiam nesse golpe”, completa o aposentado. A orientação é para que a pessoa que tiver suspeita de ter caído em golpe, bloquear imediatamente o cartão através dos canais oficiais do banco (aplicativo, site ou central de atendimento) e registrar um Boletim de Ocorrência (BO) na polícia.

Por fim, o cidadão deve contatar o banco imediatamente, informando sobre as transações não autorizadas. As instituições financeiras têm responsabilidade objetiva por danos causados por fraudes e delitos praticados por terceiros em suas operações e, em muitos casos, devem ressarcir o cliente, especialmente se houver falha na segurança.

SV não comenta

A reportagem do Novo Momento solicitou o posicionamento do Supermercado São Vicente. Mesmo ciente de que o caixa não é de responsabilidade integral do estabelecimento, é fato que o mesmo está instalado em sua propriedade. Foram solicitadas informações de possíveis providências e orientações aos consumidores, até mesmo porque muitos dos que usam o Caixa 24h fazem as compras no local.

No entanto, a assessoria de imprensa do SV informou que não iria se manifestar. Talvez por desconhecimento de que, conforme jurisprudência no Brasil, o supermercado se beneficia por manter, em seu estabelecimento, o serviço de caixa eletrônico – Banco 24h à disposição do público em geral. O entendimento jurídico é de que trata-se de um ‘chamariz’ para o comércio. E muitas vezes o consumidor vai ao local com a única intenção de utilizar o terminal bancário, mas acaba entrando no supermercado para realizar compras.

“Logo, se o supermercado lucra com esse serviço, deve, no mínimo, garantir a segurança no local para os usuários”, diz uma sentença encontrada pelo NM a respeito de assunto do tipo. Ou seja, em muitos casos, o supermercado pode ter responsabilidade solidária por problemas ocorridos em um caixa eletrônico 24h instalado em suas dependências, especialmente se o problema estiver relacionado à segurança do local ou falhas na estrutura física.

A responsabilidade principal pela operação do caixa eletrônico e problemas técnicos (como dinheiro não sair, cartão retido, etc.) é da instituição financeira ou da empresa que administra a rede (como a TecBan, responsável pelo Banco24Horas). Já os problemas de segurança (furtos, roubos, golpes), o supermercado – assim como o banco – tem o dever de garantir a segurança adequada no local.

Conforme a jurisprudência brasileira, “a instalação do caixa eletrônico aumenta o fluxo de pessoas e, consequentemente, o risco da atividade, gerando responsabilidade objetiva e solidária entre o banco e o estabelecimento comercial em casos de falhas de segurança que resultem em danos ao consumidor”. Mesmo o aposentado citado na reportagem não tendo sido lesado, é possível que outras pessoas possam ter sido vítima dos criminosos.