Em evento realizado ontem pela Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais – Abrig, a diretora de Macroeconomia e Análise Setorial da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro, destacou que estamos encerrando 2023 de forma positiva e melhor do que o esperado, mas que deverá desacelerar em 2024.
Apesar disso, talvez haja uma percepção de que o nosso País estará melhor a partir de meados do ano que vem. “Com a queda de juros do Banco Central batendo mais na economia, já vamos ver reação de setores que são mais sensíveis a juros, como indústria, máquinas e equipamentos, automotivo e construção civil, que sofreram bem esse ano e terão uma dinâmica mais favorável, dando essa percepção”, explicou. O debate também contou com a participação da presidente e do vice-presidente da Abrig, Carolina Venuto e Marcos Lima, e do cientista político Rafael Cortez.
Segundo Alessandra, a principal preocupação para 2024 em termos econômicos é a questão fiscal. “O marco fiscal foi importante para eliminar a percepção de risco aguçado, eliminar risco de cauda, mas ainda há um risco importante. O marco fiscal permite o incremento de gastos em termos reais; os gastos crescem, mas com isso você precisa financiar, e financiar com essa agenda atual, só com aumento de arrecadação”, destacou.
“Vamos encerrar 2023 com uma dívida de 75,5% do PIB e para o ano que vem temos 79,5%. Com essa trajetória de déficit, a dívida será crescente, chegando a um patamar de 88%. É um número muito alto”, analisou Alessandra.
O cientista político Rafael Cortez destacou que dificilmente o indicador de incerteza conseguirá ganhar tração em 2024 e a principal fonte de otimismo para o ano que vem não se dará porque o ambiente estará melhor, mas porque o Brasil poderá se colocar melhor do que entrou nos últimos anos. “Não será uma cena tão desafiadora para a gente por conta da questão ambiental, da transição energética, por possuir problemas políticos de ordem mais suaves do que outros enfrentam, inclusive na América Latina. Então, relativamente, a gente pode se sair melhor”, avaliou.
Na questão política, Carolina Venuto reforçou que em 2024 teremos eleição municipal, que impactará no calendário de votações no Congresso devido aos parlamentares que vão se dedicar à disputa. “Antevemos que será a janela partidária mais concorrida dos últimos anos, e ainda tem campanha e a própria eleição em si. Teremos um PL sem Bolsonaro e um PP com menor número de prefeitos nas capitais, porém, acreditamos que teremos uma polarização ainda muito marcante, em especial nas grandes cidades, o que acaba levando a nacionalização das questões federais”, ponderou.
Para Venuto, a pauta arrecadatória vai continuar sendo uma constante, assim como os desafios da governabilidade. “As perspectivas econômicas vão ser muito importantes para sustentação do governo, mas não tem como deixar de lado a pauta ambiental. Seguirá sendo um desafio manter esse equilíbrio diante da agenda de desenvolvimento”, acrescentou.
Já Marcos Lima acredita que o governo precisa se estruturar para trazer mais eficiência em 2024. “Se a reforma agora foi para construir base, daqui para frente precisa fazer a reforma da eficiência. Como eu construo eficiência para trabalhar com essa base, para trabalhar com essa pauta e fazer as coisas de fato andarem”, concluiu.
Realizado pela Abrig, em parceria com a Tendências Consultoria, o debate aconteceu no Windsor Hotel, em Brasília.
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