da DW Brasil- No cemitério Vila Nova Cachoeirinha, em São Paulo, os enterros de adultos estão suspensos. Com 28 mil sepulturas, o segundo maior cemitério da cidade mais populosa do país não tem mais espaço para abrigar os corpos que chegam ao local, a maioria vítima da covid-19. O serviço segue disponível apenas para jazigos já reservados e nas quadras destinadas a crianças.

Desde a última quarta-feira (31/03), funcionários do serviço funerário trabalham para liberar sepulturas: ossadas de pessoas enterradas ali há mais de três anos estão sendo retiradas das covas, exumadas e depositadas num ossário.

A interrupção ocorreu apenas um dia depois de o Vila Nova Cachoeirinha passar a realizar enterros noturnos. A extensão do horário foi a saída para abrigar as vítimas da pandemia no mês em que mais de 3.500 mortes foram registradas só na capital paulista. Em todo o estado, os mais de 15 mil óbitos em março levaram os números da doença a um patamar recorde.

Com uma jornada estendida, alguns servidores do cemitério relatam exaustão e tristeza profunda com a morte de colegas para a covid-19. “É um trabalho pesado, os funcionários estão muito angustiados. As máquinas abrem as covas, mas eles têm que ajeitar tudo. Eles têm visto famílias inteiras sendo enterradas”, diz João Gomes, do Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep), sobre o cotidiano dos agentes de sepultamento, ou coveiros.

Questionada sobre o Vila Nova Cachoeirinha e a falta de espaço para enterrar os mortos, a prefeitura afirmou que nenhum outro cemitério estaria próximo do esgotamento. Dias antes, o número de sepultamentos na cidade havia batido um novo recorde, 419.

O órgão respondeu por meio de nota que “as exumações fazem parte de um procedimento comum de todos os cemitérios municipais, e cada unidade segue um cronograma”.

Em todo o país, o último dia de março somou 3.869 mortes ligadas à covid-19, segundo dados do Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass) – o número mais alto já registrado em apenas um dia no país. Desde o início da pandemia, 325.284 brasileiros perderam suas vidas.