Cada vez mais fica para trás a ideia de que o sobrevivente de um câncer deve ser feliz pelo simples fato de ainda estar vivo depois de ter passado por essa doença conhecida pelo alto índice de letalidade. Evidentemente que esse paciente deve sim ser muito grato pelo enfrentamento que superou. A batalha contra um câncer é realmente muito desgastante e a vitória é recheada de méritos, sem dúvidas, tanto da pessoa acometida, quanto da família.
O que vem acontecendo agora no Brasil, tardiamente, mas ao menos já existe essa preocupação, é o aumento do cuidado com a pessoa que recebeu o diagnóstico de cura. Passada a agonia pela incerteza da vida, quando essa poeira abaixa outras questões muito importantes vêm à tona e a instabilidade insiste em permanecer.
O sobrevivente do câncer e sua família querem recomeçar, mas precisam construir um novo “chão”, porque tempos atrás ficaram sem ele. É muito comum que a pessoa tenha se afastado do trabalho. O mercado continuou acelerado e a agilidade do profissional não é, no primeiro momento, a mesma de antes. As finanças da família, certamente, são outras após seguidos gastos com medicações, exames, internações, deslocamentos, compra de equipamentos etc. Alguns efeitos colaterais do tratamento são persistentes e tornam-se crônicos. E o físico, mente e espírito mudam, o que resulta na formação de outras prioridades.
No Hemisfério Norte esse olhar zeloso para com o paciente curado do câncer está amplificado desde a década de 1990 e essa noção começou a chegar por aqui. Na Europa e nos EUA existem centros de cuidado integrado e interdisciplinar que oferecem apoio para os que tiveram alta do câncer e suas famílias. O conceito – chamado de Survivorship (em português: sobrevivência) –, reúne, em um mesmo local, psicólogos, fisioterapeutas, educadores físicos, nutricionistas e até especialistas em áreas do trabalho e recursos humanos para ajudar na reinserção dessa pessoa à comunidade. O objetivo é garantir que ele volte plenamente a ter qualidade de vida nos aspectos físico, emocional, profissional e familiar.
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Dr. Paulo Pizão
O oncologista Dr. Paulo Eduardo Pizão é um profissional global. Por ser docente em faculdade, gestor em instituições de saúde, atuar no atendimento clínico e por ter sido pesquisador na indústria farmacêutica, tem uma visão geral do setor e conhece o mecanismo desse segmento.
Suas atividades profissionais atuais:
Pesquisador no Centro de Pesquisa Clínica São Lucas (PUC-Campinas), coordenador da disciplina de Oncologia Clínica no Curso de Medicina da Faculdade São Leopoldo Mandic, Campinas-SP; oncologista no Instituto do Radium.
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