Nem-nem: 20,6% dos jovens brasileiros não estudam nem trabalham

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O levantamento da Organização Internacional do Trabalho (OIT) revela um dado alarmante: o Brasil possui uma das maiores taxas de jovens que não estudam nem trabalham – os chamados “nem-nem” – em comparação a outros países. Em 2023, 20,6% dos brasileiros se encontravam nessa condição, enquanto na Argentina essa parcela era de 15%, e na Bolívia e Chile, 9,5% e 15,3%, respectivamente. Esses números levantam questões profundas sobre o estado da economia brasileira, as oportunidades de emprego e a educação no país.

Entender por que o Brasil lidera esse ranking indesejado requer uma análise das condições econômicas e sociais que perpetuam essa situação. A desaceleração econômica que o Brasil experimentou na última década, agravada pela pandemia de Covid-19, contribuiu para o aumento do desemprego e para a falta de oportunidades educacionais de qualidade.

Além disso, a informalidade do mercado de trabalho e a precariedade das políticas públicas voltadas para a juventude tornam a transição da escola para o trabalho ainda mais desafiadora.

A questão de gênero

O estudo da OIT destaca outro aspecto crucial: a disparidade de gênero. A cada três pessoas “nem-nem”, duas são mulheres. Essa diferença é, em grande parte, consequência de uma recuperação desigual no mercado de trabalho pós pandemia, onde os homens foram mais rapidamente reabsorvidos. As mulheres, especialmente as mais jovens e de baixa renda, enfrentam barreiras adicionais, como a responsabilidade desproporcional pelos cuidados domésticos e a falta de políticas eficazes de apoio à maternidade e à inserção no mercado de trabalho.

Impactos econômicos e sociais

A presença significativa de jovens “nem-nem” não é apenas uma questão individual, mas um problema estrutural que afeta toda a sociedade. Jovens fora do mercado de trabalho ou da educação representam uma perda de capital humano, diminuindo a capacidade produtiva do país e agravando as desigualdades sociais. Além disso, essa situação pode gerar um ciclo vicioso de exclusão e marginalização, dificultando ainda mais a inclusão dessas pessoas no futuro.

Quando comparado a países como Argentina, Bolívia e Chile, o Brasil se destaca negativamente. Embora todos esses países enfrentem desafios socioeconômicos, a menor taxa de “nem-nem” na Bolívia e no Chile sugere que políticas mais eficazes de inclusão e desenvolvimento juvenil foram implementadas. A Argentina, embora também apresente problemas semelhantes, ainda consegue manter um número significativamente menor de jovens nessa situação.

Soluções potenciais

Abordar a questão dos “nem-nem” no Brasil requer uma abordagem multidimensional. Em primeiro lugar, é necessário fortalecer as políticas públicas que incentivem a educação e a qualificação profissional, especialmente para as mulheres. Programas de apoio ao primeiro emprego, parcerias público-privadas para a criação de estágios e aprendizagens e incentivos à formalização do trabalho são fundamentais.

Além disso, é imprescindível que o Brasil desenvolva políticas de proteção social que permitam às mulheres participar plenamente do mercado de trabalho, incluindo creches acessíveis e licença parental mais equitativa. Investir em educação de qualidade e em oportunidades de qualificação para os jovens, especialmente os mais vulneráveis, é essencial para evitar que continuem à margem da sociedade.

A situação dos jovens “nem-nem” no Brasil é um sintoma de problemas mais profundos no tecido socioeconômico do país. A solução não será simples, mas deve começar com um reconhecimento das falhas sistêmicas e uma vontade política de implementar mudanças significativas. Sem isso, corremos o risco de perpetuar um ciclo de pobreza, exclusão e falta de oportunidades, condenando uma parte significativa de nossa população jovem a um futuro incerto e limitado.

Neste contexto, é crucial refletirmos sobre o local que queremos construir para as próximas gerações e quais ações estamos dispostos a tomar para garantir que cada jovem brasileiro tenha a oportunidade de estudar, trabalhar e contribuir para o desenvolvimento do país.

Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, gestor de carreiras, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.

 

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