O momento é histórico para o Brasil e já reluz em nossa trajetória republicana desde 11 de setembro: a condenação de um ex-presidente da República e de generais de alta patente por tentativa de golpe de Estado.
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Mais do que um caso jurídico, é um marco político e institucional. Pela primeira vez, em 136 anos de República, líderes civis e militares que conspiraram contra a democracia foram responsabilizados e punidos pela Justiça.
O ineditismo vai além. Há mais de um século, nossa história registra sucessivas tentativas de quarteladas, intervenções e conspirações vindas de setores das Forças Armadas.
Muitas vezes, essas tramas se concretizaram, com apoio explícito ou velado de parcelas da sociedade, e sempre tiveram um ponto em comum: a impunidade dos responsáveis.
Dessa vez, quase quatro décadas após o pacto constitucional de 1988, o Brasil reagiu com maturidade institucional ao romper com a tradição de tolerância aos atentados contra a ordem democrática. Mais que punir, o STF firmou posição de que a democracia brasileira não está mais disposta a retroceder, e que não há espaço para aventuras autoritárias no tempo em que vivemos.
É oportuno, também, destacar o papel do presidente Lula. Sob pressões políticas e econômicas externas, particularmente vindas do governo dos Estados Unidos sob Donald Trump, que tentou influenciar os rumos internos do país em favor de Bolsonaro e seus aliados golpistas, Lula defendeu nossa soberania com firmeza, serenidade e clareza de propósito.
Não cedeu às chantagens econômicas nem às ameaças veladas de isolamento internacional. Sem revanchismo, soube sustentar a autonomia do Brasil diante das pressões e garantiu as condições políticas necessárias para que nossas instituições cumprissem sua missão constitucional.
Condenação e novos caminhos
Esse episódio não pode ser visto apenas como o encerramento de um ciclo de instabilidade, mas sobretudo como a abertura para novos caminhos. A democracia brasileira, testada à exaustão nos últimos anos, sai mais forte e mais madura. A decisão do STF é um divisor de águas: encerra a página de um período marcado pelo autoritarismo, pela negação da ciência e pelo desprezo às instituições, e inaugura uma nova etapa em que a democracia volta a se afirmar como valor inegociável.
O desafio, a partir de agora, é transformar essa vitória institucional em conquistas duradouras. A democracia não é um fim em si mesma: é o instrumento para que possamos enfrentar desigualdades históricas, superar insistentes mazelas sociais, investir em educação, ciência e tecnologia, gerar empregos e promover a dignidade da população. Uma democracia sólida é também a base para que o Brasil assuma o papel que lhe cabe na geopolítica mundial: de liderança democrática no Sul Global, com papel decisivo na integração da América Latina, de voz ativa na defesa da paz, da justiça social e na construção de um mundo multipolar mais equilibrado e sustentável.
Por isso, é fundamental afirmar com clareza: não há espaço para anistiar golpistas. Tentativas de setores do Congresso Nacional de apagar crimes dessa gravidade com acordos políticos representam um retrocesso inaceitável. Perdoar quem atentou contra a soberania popular significaria reabrir as portas do autoritarismo e repetir os erros do passado que tanto custaram ao povo brasileiro. A democracia só se fortalece quando mostra que crimes contra ela não serão tolerados.
A partir do julgamento de Bolsonaro e seus cúmplices militares, viveremos uma nova etapa da vida nacional. Os episódios de autoritarismo se encerram no passado, e um novo ciclo de prosperidade se abre para a nação brasileira. Um horizonte de liberdade, igualdade e esperança, construído por um povo soberano que se orgulha do seu país e é protagonista do grandioso caminho que tem pela frente.
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