A arquitetura de mãos dadas com o bem-estar dos idosos

Aproveitando a comemoração do Dia Internacional dos Idosos, é preciso pensar sobre a estrutura que permite uma vida tranquila para os moradores acima dos 60 anos, considerando as condições atuais, futuras e a eliminação de riscos à integridade física

Leia + sobre  moda e casa

A arquitetura de mãos dadas com o bem-estar dos idosos

Projetado pelo escritório Frezza & Figueiredo, este living considerou espaços generosos de circulação, sofás com altura confortável e ausência de quinas | Foto: Carolina Mossin

A famosa frase do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, “A arquitetura não é para ser vista, é para ser vivida”, ganha um significado ainda mais profundo diante do aumento da expectativa de vida dos brasileiros. Com um crescimento significativo da população acima de 60 anos – de acordo com o censo 2022 –, essa faixa etária corresponde à quase 16% do total da população do país.

Assim, com a aproximação do 1º de outubro, celebrado como o Dia Internacional do Idoso, é preciso falar sobre a atenção com esse público dentro dos projetos de arquitetura e decoração. Estilo, segurança e funcionalidade deixaram de ser circunstanciais para se tornarem uma necessidade social.

Mais do que instalar barras de apoio, uma vez que a proteção residencial não se consiste apenas nesse recurso, a arquitetura para a longevidade envolve um planejamento que promove adaptações para um futuro em médio e longo prazo, como também entrega soluções imediatas para moradores acometidos por questões de mobilidade.

Pequenas adaptações, muitas vezes imperceptíveis ao olhar, transformam o lar em um espaço ideal tanto para o idoso, como para a família que vive com ele.

A seguir, separamos alguns dos pontos que arquitetos observam nos projetos:

 

Mobiliário estratégico: a altura certa para o conforto e segurança

Para o sofá que compõe a sala proposta por Marianna Teixeira e Carolina Castilho, do Freijó Arquitetura, a espuma de alta densidade impede a sensação de ‘afundar’ no assento. Esse atributo é valioso para todos, especialmente para pessoas com limitações motoras | Foto: Mariana Camargo

Nas salas de estar, sofás e poltronas devem ter um estofamento mais firme e a ergonomia adequada para a movimentação de sentar-se e levantar – levando em consideração uma altura que permita apoiar os pés no chão quando sentado –, bem como acomodar a coluna.

 

O dilema dos tapetes: como evitar riscos de queda

Neste living assinado por Gabriel Figueiredo e Fabricio Frezza, do Frezza & Figueiredo Arquitetura e Interiores, o tapete escolhido demarca todo o ambiente. O posicionamento do sofá compreende toda a sua área, assim como das poltronas| Foto: Carolina Mossin

Longe de ser proibido, o tapete exige atenção quanto ao tamanho e a fixação. Considerando que grande parte dos acidentes com os idosos acontecem dentro do ambiente doméstico – conforme apontam dados do Ministério da Saúde –, ele precisa estar no checkpoint, uma vez que incorre em riscos de quedas.

Para que não seja um grande vilão, o alinhamento das pontas, que pode acontecer com uma fita dupla face, é essencial para que ele não se torne uma armadilha para enroscar os pés e tropeçar. Os especialistas também indicam modelos com bases antiderrapantes e desconsideram materiais que se dobrem facilmente.

Para acertar nas medidas, recomenda-se que a peça considere ‘sobras’ de 20 a 30 cm sob sofás e poltronas, evitando que bordas soltas se tornem um obstáculo.

Na realização dessa sala de jantar, a arquiteta Isabella Nalon acompanhou a configuração redonda da mesa e ampliou seu diâmetro na escolha do tapete | Foto: Julia Herman

Evitado por muitos, mas também amado pelo conforto que proporciona, o tapete também pode compor sala de jantar. Dessa forma, é preciso levar em conta a área da mesa jantar e as cadeiras – incluindo o deslocamento delas. Assim, o acréscimo de 75 a 100 cm é sugerido para mitigar o perigo de quedas.

No dormitório projetado pela arquiteta Cinthia Claro, reina a tranquilidade não apenas pelo aconchego do ambiente, como pela colocação do tapete | Fotos: Erika Waldmann

Quem detesta a sensação de levantar-se e pisar no chão frio? Por isso, o tapete é considerado no décor dos dormitórios, porém faz-se necessário uma sobressalência de 60 a 70 cm para uma circulação segura na lateral. No caso das passadeiras, é indispensável que o seu começo esteja embutido na base da cama, eliminando tropeções.

 

Circulação ampliada: a importância da largura das portas

De acordo com as características dos projetos, a porta pivotante na entrada, como a desse projeto de interiores assinado pela arquiteta Ana Rozenblit, é benéfica para a passagem de cadeiras de roda ou andadores | Projeto: Spaço Interior | Fotos: Kadu Lopes

A arquitetura parametriza as dimensões das portas para uma utilização cotidiana das pessoas, como para aquelas com algum tipo de dificuldade de locomoção. Em portas de entrada, salas e dormitórios, 80 cm (mínimo) e 90 cm (ideal), comportam a acessibilidade para uma cadeira de rodas ou um andador. E embora, em via de regra, o banheiro deva ter, minimamente, a largura de 60 cm, padronizar a mesma medida aplicada nos demais ambientes não restringe a vida dos idosos.

 

Cozinha segura

Nesta cozinha, a arquiteta Rosangela Pena incluiu o cooktop de indução na península que também compreende a área para refeições rápidas | Fotos: Sidney Doll

A cozinha inspira o acompanhamento minucioso em diversos itens. Sem contar o espaço de circulação conveniente e a ausência de quintas em bancadas, o piso não pode ser escorregadio – caso dos porcelanatos polidos, que em contato com a água e gordura são perigos iminentes.

Todavia, a gravidade também se encontra no fogão, levando em consideração que o tipo de abastecimento é o mais comum nas residências brasileiras. Para evitar vazamentos de gás GLP ou natural, incêndios ou queimadas em decorrência do fogo, o cooktop de indução é ótimo para as casas com idosos. Isso acontece, pois o aquecimento do eletrodoméstico ocorre apenas no contato com a panela, e não na superfície.

 

O corrimão é obrigatório

O corrimão iluminado atribui mais segurança à escada neste projeto assinado pela arquiteta Rosangela Pena | Fotos: Sidney Doll

A afirmação é verdadeira e no dia a dia o corrimão é um apoio que deve ser empregado por pessoas de todas as idades, incluindo os idosos. Neste duplex, a arquiteta Rosangela Pena demonstra como unir funcionalidade e design: a instalação de LED no corrimão não apenas facilita a visualização dos degraus à noite, mas também adiciona um toque de elegância. Com relação ao piso, a recomendação é semelhante à cozinha: acabamentos acetinados entregam estabilidade e diminuem a probabilidade de queda.

 

Dormitório: o refúgio seguro

Uma cama na altura adequada permite que a pessoa, ao sentar-se na beirada, possa erguer-se com comodidade, tal como a arquiteta Isabella Nalon estabeleceu para o dormitório da moradora que está na terceira idade | Fotos: Julia Herman

Uma cama muito baixa ou alta em demasia, bem como um colchão muito mole, podem dificultar o ato de levantar-se, sem contar as dores crônicas decorrentes da má postura.

 

Banheiro: epicentro da acessibilidade

Dentro do box do banheiro proposto pelo escritório ResiliArt Arquitetura, o apoio da barra fixada na parede traz segurança para a melhor idade | Foto: Kelly Queiroz

O banheiro também pede prudência. Além das indispensáveis barras de apoio, o revestimento do piso deve apresentar um alto coeficiente de atrito para prevenir escorregões em áreas molhadas.

Neste projeto, a arquiteta Ana Rozenblit, da Spaço Interior, a abertura do box permite a passagem de uma cadeira de banho | Foto: Rafael Renzo

 

Cinthia Claro, @cinthia.claro

Freijó Arquitetura, @freijoarquitetura

Frezza & Figueiredo Arquitetura e Interiores, @frezzaefigueiredo

Isabella Nalon, @isabellanalon

ResiliArt Arquitetura, @resiliart_arq

Rosangela Pena, @rosangelapenaarquitetura

Spaço Interior, @spacointerior

 

+ NOTÍCIAS NO GRUPO NM DO WHATSAPP