Empresas manifestam o elevado número de empréstimo pessoal e adiantamentos de salários, por colaboradores endividados pelo vício em diversos “joguinhos on-line”. A grande maioria, uma espécie de jogo caça níquel que vem sendo amplamente divulgado por influenciadores e artistas. Um verdadeiro sinalizador de compulsão por jogo que envolve vários aspectos: as perdas consideráveis, a instabilidade financeira, além de outras questões como o enriquecimento ilícito por parte dos organizadores, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, entre outros
Já pelo ponto de vista da saúde mental, o drama é ainda maior. A compulsão desenfreada e o estrago psicológico na mente do indivíduo. Tudo isso nos leva a refletir sobre como nosso cérebro se comporta diante desse tipo de vício e o que pode ser feito para não cair nessas armadilhas ilusórias.
O primeiro ponto que deve ser analisado é a facilidade que os indivíduos possuem de criar expectativas. Criamos expectativas em relação ao outro e em relação a nossas conquistas futuras. O grande problema é que nem tudo é previsível. Acreditamos em tudo que vemos. E é exatamente esse o nosso maior ponto nevrálgico: sofremos por não controlar tudo. Quando algo foge ao nosso controle, entramos em estado de desequilíbrio que afeta tanto o comportamento, quanto o emocional. Isso porque a necessidade em ter o controle das situações nas mãos é um sentimento intrínseco de nossa espécie.
Tudo o que é externo e nos foge ao controle, gera insegurança e medo e nos faz sentir vulneráveis. E no caso em questão, estamos falando de uma situação de perda, muitas vezes perda de somas consideráveis. Fato é que, ninguém joga e investe para perder, e quando isso ocorre entra em cena sensações incômodas como: a impotência, o fracasso e a culpa.
Emocionalmente falando, o indivíduo que perde suas economias e se frustra com o resultado negativo, se vê angustiado ao ponto de não conseguir sentir-se em paz, o que gera transtornos emocionais relevantes, como perda de sono, perda de apetite, estresse generalizado, ansiedade, tristeza profunda, depressão e até síndrome do pânico.
Emoções que retroalimentam o estresse, levando-o a vivenciar sensações de cabeça pesada, irritabilidade, alterações de humor, entre outros gatilhos que justificam a desestruturação mental, em função da compulsão por jogatinas. Um outro fator bem relevante de todo esse processo é o sentimento de culpa. Uma culpa que distorce a realidade dos fatos e acelera o complexo de inferioridade e a baixa autoestima.
O que pode estimular, através de atitudes desesperadoras, a busca da falsa ilusão do alívio e do auto perdão. Visto que, essa impotência também pode estar ligada a vergonha de se expor e mostrar sua fragilidade para parentes e amigos próximos.
Portanto, a compulsão precisa ser estudada para compreender qual gatilho desencadeia todo o processo. Se não tratado a tempo, essas questões podem levar a consequências mais desastrosas como o envolvimento em outros vícios como cigarro, álcool, comida e drogas ilícitas, na tentativa de descontar a frustração em excessos.
E por fim, na perda do emprego, diante do descontrole financeiro. A solução não é se culpar e se esconder. Não adianta fugir dos problemas. Devemos encarar de frente para conseguir perceber sua dimensão e desta maneira, verificar de que forma poderão ser solucionados. Jogos de azar, não farão milagre financeiro na vida de ninguém.
É puro marketing e enganação. Muitas pessoas caem nas garras da ilusão dos ganhos fáceis e no prazer provocado pela compulsão do jogo e da competição.
Enfim, a dependência pode afetar qualquer um. É preciso entender a natureza do vício para modificar o padrão. Já que, muitos dependentes perdem a condição até mesmo de tomar atitudes próprias, agindo de forma negativa, necessitando de apoio e compreensão para sua reabilitação. O vício em jogos pode surgir de forma inesperada na vida de uma pessoa, porém é totalmente possível vencer e se livrar do abismo financeiro instalado.
Dra. Andrea Ladislau / Psicanalista
Andrea Ladislau é doutora em Psicanalise Contemporânea, Neuropsicóloga. Graduada em Letras – Português/ Inglês, Pós graduada em Psicopedagogia e Inclusão Digital, Administração de Empresas Administração Hospitalar. É palestrante, membro da Academia Fluminense de Letras e escreve para diversos veículos. Na pandemia, criou no Whatsapp o grupo Reflexões Positivas, para apoio emocional de pessoas do Brasil inteiro: Instagram: @dra.andrealadislau