O fentanil se tornou uma ameaça global à saúde pública, conforme
indicado em um dos informes do Alerta Rápido sobre Drogas (SAR) do Governo Federal, em março deste ano. Embora seja um medicamento prescrito para o controle da dor, seu uso ilegal tem se disseminado de maneira preocupante em todo mundo. O alerta no Brasil foi acionado no mesmo período, quando ocorreu a primeira apreensão de fentanil ilícito no Espírito Santo.
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Alvaro Pulchinelli, médico toxicologista e patologista clínico e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), explica que o fentanil pertence à mesma família da morfina, é uma droga semi-sintética e foi originalmente desenvolvido para tratar dores intensas. Sua potência é aproximadamente 50 vezes maior que a heroína, tornando-o perigoso, quando mal usado. O fentanil induz a overdose com mais facilidade do que a cocaína e atua como um depressor do sistema nervoso, gerando uma sensação de relaxamento e bem-estar, além de reduzir a atenção e a frequência respiratória.
“Os efeitos colaterais atraíram a atenção das pessoas, levando-as a usá-lo para aliviar as tensões do dia a dia. Além disso, sua portabilidade e disponibilidade legal contribuem para sua disseminação descontrolada. Não é um problema exclusivo do Brasil; é uma preocupação global”, ressaltou o especialista da SBPC/ML.
Os riscos e desafios no Brasil precisam ser considerados à luz do cenário dos Estados Unidos, conforme um artigo publicado por pesquisadores da Fiocruz na revista The Lancet Regional Health – Americas (Relatos de uso crescente de fentanil no Brasil contemporâneo são preocupantes, mas uma crise semelhante à dos Estados Unidos ainda pode ser evitada). Os EUA enfrentam uma grave crise de opióides, com um registro de mais de 100 mil óbitos por overdose somente neste ano, representando uma média de quase 300 mortes diárias. Deste número, cerca de 70% estão relacionados ao fentanil. No Brasil, de acordo com dados do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC) da Anvisa, entre 2014 e 2018, a média anual de vendas de medicamentos à base de opióides ultrapassou 5 mil unidades por 100 mil habitantes, sendo São Paulo o estado com o maior volume de opioides comercializados.
Pulchinelli esclarece que, nos Estados Unidos, a cultura de prescrição de opióides é mais difundida, o que acaba proporcionando um maior acesso, tornando a situação ainda mais crítica. “Muitos mais casos lá são tratados com esse tipo de medicamento, inclusive para dores menos intensas. Estudos demonstram que essa maior disponibilidade aumenta a probabilidade de contato com o opióide”, explicou.
Ele também alerta que todos os medicamentos, incluindo os de venda livre, devem ser usados de maneira adequada. “Nenhum medicamento está isento de efeitos colaterais e deve ser utilizado apenas sob orientação e prescrição médica.
Não é Apenas a Saúde que Está em Risco
Os opioides, como o fentanil, não prejudicam apenas a saúde, mas também estão associados a golpes, como o “boa-noite cinderela”. Nos EUA, aproximadamente 30% de todas as mortes por overdose são mulheres. O especialista Alvaro Pulchinelli, médico toxicologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), fez um alerta a esse respeito: “O uso indevido do fentanil pode transformar a diversão em terror e, até mesmo, em morte.”
Outras classes de medicamentos (como fenciclidina, ketamina e benzodiazepínicos) de rápida absorção também são usadas nesse tipo de golpe, justamente devido ao seu efeito rápido e à curta meia-vida, semelhante ao fentanil. Os benzodiazepínicos, segundo Pulchinelli, podem provocar esquecimento transitório (amnésia lacunar), colocando a vida da pessoa em grave risco, pois ela não sabe o que fez nem onde está. Ele explica ainda que a ação rápida e a meia-vida curta dessas drogas tornam difícil determinar o tipo de substância. “Por isso, damos preferência ao exame de urina nesses casos, porque ele tem uma janela de detecção um pouco melhor. No sangue, devido à rápida metabolização da droga, os efeitos desaparecem. Isso significa que a pessoa desperta do estado de sonolência e entorpecimento, tornando-se mais difícil rastrear a substância”, esclareceu.
No último mês, um homem morreu vítima do “boa noite cinderela” em Natal, Rio Grande do Norte. A substância foi colocada em sua bebida, e no momento de fragilidade, duas mulheres se aproximaram com o objetivo de roubar seus pertences. Ele passou mal, e o socorro médico não foi prestado. Essas substâncias não têm cheiro nem sabor específico e, devido à sua utilização em pequenas quantidades (miligramas), não alteram nem a cor da bebida. Portanto, é fundamental manter a vigilância sobre sua bebida, ou seja, jamais deixar o seu copo para ir ao banheiro ou dançar, por exemplo. Essa é a única forma eficaz de prevenção.
Pulchinelli esclareceu ainda que, no caso de suspeita de intoxicação, é crucial buscar ajuda médica imediatamente, uma vez que há um risco iminente de depressão respiratória em casos de grandes doses ou sensibilidade exacerbada. “O efeito pode ocorrer rapidamente ou de forma mais demorada, dependendo da sensibilidade da pessoa. Não existe um antídoto caseiro disponível, nada pode ser feito em casa ou em qualquer lugar fora de um ambiente hospitalar. É de extrema importância procurar auxílio médico imediatamente para aumentar a chance de identificar a substância utilizada”, ressaltou.
Sobre a SBPC/ML – A Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial é uma associação de direito privado para fins não econômicos, fundada em 31 de Maio de 1944. Tem como finalidades congregar Médicos, portadores do Título de Especialista em Patologia Clínica/Medicina Laboratorial e Médicos de outras especialidades, regularmente inscritos nos seus respectivos Conselhos Regionais de Medicina, e pessoas físicas e jurídicas que, direta ou indiretamente, estejam ligados à Patologia Clínica/Medicina Laboratorial, e estimular sempre o engrandecimento da Especialidade dentro dos padrões ético-científicos. Entre associados estão médicos patologistas clínicos e de outras especialidades (como farmacêuticos-bioquímicos, biomédicos, biólogos, técnicos e outros profissionais de laboratórios clínicos, estudantes de nível universitário e nível médio). Também podem se associar laboratórios clínicos e empresas fabricantes e distribuidoras de equipamentos, produtos e serviços para laboratórios. Ao longo das últimas décadas a SBPC/ML tem promovido o aperfeiçoamento científico em Medicina Laboratorial, buscando a melhoria contínua dos processos, evolução da ciência, tecnologia e da regulação do setor, com o objetivo principal de qualificar de forma permanente a assistência à saúde do brasileiro.
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