O fim- Nas últimas semanas, a notícia de alguns casamentos
desfeitos surpreendeu fãs em todo o país, tomando conta das redes sociais e conversas entre amigos. Relacionamentos tidos como perfeitos, de uma hora para a outra, chegaram ao fim.
Mas será que os casamentos eram perfeitos? Podemos ir além: será que deixaram de ser perfeitos, mesmo após anos, às vezes décadas de união, somente por terem terminado?
De acordo com a psicanalista Maristela Carvalho, o sentimento de tristeza e frustração são resultado de uma idealização que fazemos de situações que gostaríamos para a nossa própria vida. Neste caso, a partir do relacionamento de celebridades ou de casais que, de alguma forma, acompanhamos, ainda que de longe, e acreditamos conhecer a partir de pequenos recortes dos momentos que são expostos, seja pela imprensa ou redes sociais.
“Mas um casal perfeito, uma vida perfeita, será que existem? O que acontece na vida íntima de um casal ou de uma família vão muito além do que podemos imaginar conhecendo apenas o que é divulgado ou visto fora da intimidade”, alerta a psicanalista.
A partir deste recorte, cria-se um rótulo de um casal perfeito, que se propaga e ganha força ano após ano.
“Carregar o peso deste rótulo de casal perfeito não é fácil. Temos o direito de entregar esse tipo de pressão para estas pessoas?”, questiona Maristela?
Em busca do diálogo
“Um casal se forma porque encontra, no outro, uma parceria, um carinho, um desejo, um amor. Coisas em comum, que se alimentam e vão crescendo”, aponta a psicanalista.
Com o decorrer da vida cotidiana, no entanto, pequenos desentendimentos ou situações desagradam a um ou a outro. Se ao invés de dialogar, para que ambos sigam em sintonia, se encaixando e crescendo juntos, engolimos estes pequenos desagrados, tornamos mais difícil o diálogo e, com ele, a convivência.
“A terapia de casal é um local seguro, no qual ambos podem ter um facilitador, alguém que poderá ajudar nessa comunicação, sem jamais tomar partido. Pouco a pouco, cada um colocará os seus problemas e angústias da convivência conjunta em busca de um acordo, de um entendimento, de uma forma de resolver os conflitos.
Antes de optar pela separação, portanto, é importante que todas as tentativas de diálogo, de organizar e resolver as situações sejam buscadas.
“A terapia de casal é uma ferramenta muito interessante, sobretudo quando o casal percebe a dificuldade em dialogar. Quando a compreensão vai se extinguindo e a explosão torna-se frequente, é um sinal de que as divergências estão engasgadas e, quando saem, vêm com essa energia, sem que haja tempo para serem digeridas através das palavras”, aponta.
Nestes casos, a terapia de casal favorece a harmonização dos conflitos, permitindo perceber se os caminhos podem voltar a se encontrar ou se efetivamente estão distanciados.
O fim do casamento
Muitas vezes o relacionamento começa com o casal ainda muito jovem, ou em um momento de vida em que aquela trajetória, juntos, faz sentido.
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Com o passar do tempo, explica Maristela, ambos podem evoluir para caminhos diferentes e com objetivos que nem sempre são melhores ou piores, apenas tão distantes que já não cabe mais aquela parceria.
Mesmo com a terapia de casal, em alguns casos ao final do processo vem a separação.
“Quando não é possível mudar ou transformar a rota para que sigam juntos, e que esse caminho trará a ambos mais satisfação, tranquilidade e paz, vem a separação.”
Ainda assim, terapia não foi em vão, muito pelo contrário. As sessões permitirão um diálogo mais tranquilo para que o casal possa restabelecer o respeito, se reconectar e enxergar com mais tranquilidade o melhor caminho a seguir a partir dali.
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* Maristela Carvalho é formada em pedagogia pela PUC/SP; em psicologia pela Université Lumière Lyon II, na França; e em psicanálise pelo Centro de Estudo Psicanalítico. É membro do Grupo APOIAR e do Centro de Refugiados da USP, nos quais presta serviços de apoio à saúde mental para refugiados e pessoas em situação de vulnerabilidade social, e do Órion Instituto Médico.
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