Brasileiros falantes. Eles costumam irritar, podem “pesar” o clima de um encontro e surgem nos mais diversos contextos… dos desabafos nas mesas de bar às apresentações escolares, passando pelas discussões de relacionamento, jantares em família e reuniões profissionais. Afinal, qual é a sua relação com os famosos silêncios constrangedores — temidos por muitos, mas inevitáveis na maioria das conversas com as outras pessoas?

Se tais momentos costumam gerar certa ansiedade por aí, saiba que isso é cultural: em um estudo recente (confira os dados na íntegra), que investigou a relação de diferentes partes do mundo com o silêncio, os brasileiros se mostraram a nação menos confortável com essas pausas inesperadas, com 85% dos ouvidos admitindo certo incômodo quando precisam ficar calados durante uma interação.

O Brasil, vale dizer, também foi eleito o país com o limiar mais curto para o desconforto: segundo o levantamento, apenas 5,5 segundos em silêncio são capazes de irritar a população durante um bate-papo, realidade bem diferente da encontrada entre os britânicos (7,1 segundos) e japoneses (7,8 segundos).

Leia Mais Notícias do Brasil

As constatações são da Preply, plataforma que, recentemente, pediu que 26 mil entrevistados de 21 países compartilhassem as situações em que se manter silencioso é uma tarefa complicada, bem como os grupos sociais com os quais os contatos tendem a culminar em pausas incômodas. À especialista no ensino de idiomas, pessoas de diferentes idades também puderam revelar os momentos diários onde o silêncio é mais temido — entre términos de relacionamento, funerais e alinhamentos profissionais.

Brasileiro, povo que pior lida com o silêncio?

Sendo o Brasil conhecido pela calorosidade e desenvoltura de sua população, não surpreende que, durante o levantamento da Preply, o país tenha sido identificado como aquele que lida de maneira mais embaraçosa com os momentos de silêncio durante certas interações.

Se comparado à reação mais comum entre as pessoas de lugares como a Tailândia e Alemanha, por exemplo, o nível de incômodo dos brasileiros fica ainda mais claro: enquanto, entre os tailandeses e alemães, 78% dos entrevistados admitiram sentir desconforto com pausas e quietudes em uma conversa, por aqui, o percentual de desajeitados chega a consideráveis 85% dos respondentes — um possível reflexo da natureza, digamos, “barulhenta” dos residentes nacionais.

 

 

De toda forma, é importante dizer que o grau de tolerância com o silêncio em uma interação está longe de ser o mesmo entre todas as pessoas, variando, aliás, conforme a geração, idade e gênero dos brasileiros.

 

As mulheres do Brasil, por exemplo, estão um pouco à frente dos homens no quesito desconforto com os “climões” durante funerais e momentos de conflito com os outros.

 

Algo similar também ocorre com os jovens e mais velhos: se, de um lado, 72,2% dos representantes da geração Z entrevistados pela Preply admitiram se ver diante de silêncios incômodos quando estão falando em público, de outro, apenas 36,2% dos chamados baby boomers — termo que compreende os nascidos entre 1945 e 1964 —  compartilharam sentir algo parecido em situações do tipo.

 

Silêncios embaraçosos por toda parte

 

Reuniões de trabalho, conversas de elevador, bate-papos online… diante de tantas ocasiões propícias àquela pausa embaraçosa, ao longo do estudo, outra das curiosidades da plataforma de idiomas girou não em torno da relação das pessoas com tais interrupções, mas a frequência com que os entrevistados costumam se deparar com certos “climões” no dia a dia.

 

Ora, mas que situações tenderiam a gerar os piores silêncios, capazes de deixar qualquer brasileiro sem graça?

 

Conforme indicaram os respondentes, aparentemente, em três delas: nos momentos em que precisam falar em público (47,7%), seja em pequenos ou grandes grupos, durante primeiros encontros amorosos (33,2%) e, ainda, em situações de conflito (26,6%), onde cada segundo calado tende a deixar os oponentes ainda mais tensos.

 

Já no ambiente profissional, por sua vez, também não faltariam oportunidades para o constrangimento. Isso porque, quando questionados pela Preply, 22% dos ouvidos elegeram as reuniões de trabalho presenciais a ocasião onde o silêncio se torna ainda mais desconfortável, algo que, para muitos deles, também costuma ocorrer nos alinhamentos à distância (15,9%) e demais comunicações online envolvendo suas empresas (10,9%).

 

 

Não por acaso, segundo os entrevistados, é comum que a frequência das pausas constrangedoras seja muito maior nas conversas com seus chefes do que com os demais grupos sociais com quem interagem — como os parentes distantes (27,8), sogros (15,4%) e amigos (11,6%). Mas verdade seja dita: quem é que nunca se viu sem saber o que dizer ao dividir o elevador com o próprio líder, não é mesmo?

 

Metodologia

 

Para compreender como populações de diferentes culturas lidam com silêncios embaraçosos, ao longo do último mês, a Preply entrevistou 26.719 pessoas de 21 países — cerca de 2 mil delas no Brasil —, identificando como as pessoas tendem a reagir quando precisam se manter silenciosas durante suas interações sociais. Ao todo, os envolvidos responderam a 15 perguntas, que exploraram a frequência com que precisam lidar com pausas constrangedoras, bem como as ocasiões em que esse tipo de dinâmica costuma acontecer no dia a dia. Uma vez organizadas, suas respostas foram dispostas em rankings, onde é possível ver o percentual de cada alternativa apontada pelos entrevistados.