*Por Marcelo Branquinho
Estamos às portas das eleições presidenciais de 2026 — e, pela primeira vez, entraremos em um processo eleitoral amplamente mediado por sistemas de Inteligência Artificial. Essa constatação, que há poucos anos poderia soar futurista, hoje é inevitável. A IA já influencia o modo como pensamos, consumimos e nos informamos; agora, começa a interferir também na forma como votamos e percebemos a própria democracia.
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Tenho acompanhado de perto a evolução das ferramentas generativas e o impacto delas sobre a comunicação política. Modelos como GPT, Gemini e Claude permitem produzir textos, vídeos e vozes com um grau de realismo que desafia até especialistas em detecção digital. Um deepfake bem-feito pode colocar palavras na boca de um candidato, gerar crises instantâneas e mudar o rumo de uma eleição antes que os fatos sejam checados. A velocidade e a escala da desinformação tornaram-se exponenciais.

O que mais preocupa é que o Brasil ainda não possui regulação específica sobre o uso eleitoral da IA. As campanhas podem se valer de automação para microsegmentar mensagens, manipular emoções e criar bolhas informacionais de difícil rastreamento. Bots inteligentes simulam engajamento humano, reforçando narrativas fabricadas e dando aparência de apoio popular a ideias produzidas por algoritmos. Isso é manipulação algorítmica — silenciosa, eficiente e, até agora, sem fiscalização adequada.
Ao mesmo tempo, a infraestrutura digital da Justiça Eleitoral precisa ser tratada com o mesmo rigor que se aplica a setores críticos, como energia e telecomunicações. Ainda que as urnas sejam isoladas da internet, todo o ecossistema de totalização e divulgação de votos depende de redes conectadas, que devem ser protegidas contra os ataques cibernéticos sofisticados. Normas internacionais como a NIST SP 800-53 e a IEC 62443 oferecem diretrizes robustas para esse tipo de defesa, e a arquitetura de segurança Zero Trust — que parte do princípio de que nenhuma conexão é confiável por padrão — deveria ser o modelo de referência para o TSE.
Mas a cibersegurança é apenas uma parte da equação. O outro lado é a governança digital. A União Europeia já classificou sistemas de IA que influenciam decisões políticas como de “alto risco” e exige auditorias e rotulagem obrigatória de conteúdos sintéticos. Nos Estados Unidos, auditorias externas em sistemas usados em campanhas políticas são mandatórias. No Brasil, porém, ainda engatinhamos em termos de transparência e responsabilização. Plataformas estrangeiras continuam operando com algoritmos opacos, fora do alcance das autoridades nacionais, o que compromete nossa soberania informacional.
Defendo que o país adote uma estrutura normativa específica para o uso de IA em campanhas — com obrigações de transparência, auditoria técnica e rotulagem de deepfakes. O TSE, a ANPD e o Ministério Público precisam atuar de forma coordenada, combinando competência técnica e autoridade legal. Sem isso, entramos em 2026 vulneráveis a manipulações invisíveis.
Porém, a tecnologia não é o inimigo. A IA pode ser também uma aliada poderosa na detecção de desinformação, no monitoramento de redes e na análise preditiva de riscos cibernéticos. O problema não está na ferramenta, mas na ausência de governança. É papel das instituições, da academia e da sociedade civil garantir que a inteligência artificial sirva à democracia, e não o contrário.
As eleições de 2026 serão um divisor de águas. Não apenas pelo embate político, mas pelo modo como lidaremos com o poder de uma tecnologia capaz de moldar consciências. Se não houver transparência, regulação e educação digital, corremos o risco de ver a IA transformando o voto — que é a expressão máxima da vontade popular — em um produto manipulado por algoritmos.
Alerta para as eleições no Brasil 2026
Ainda há tempo de agir. Precisamos construir uma governança digital que combine segurança, ética e responsabilidade. A democracia brasileira só será realmente forte se for também ciberneticamente segura.
Marcelo Branquinho é CEO e fundador da TI Safe, uma empresa especializada em segurança cibernética para infraestruturas críticas. Graduado em Engenharia Elétrica, Branquinho é especialista em segurança de sistemas SCADA e membro da International Society of
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